Audiência pública debate infraestrutura de Entra Apulso

Existente há mais de 50 anos, a comunidade Entra Apulso, em Boa Viagem, área considerada nobre, é um modelo de resistência: são mais de 8 mil pessoas vivendo em 1.600 casas, 70% delas em alvenaria. Mas, os problemas de infraestrutura são grandes, com a falta de pavimentação, saneamento, abastecimento de água e drenagem. Por isso, a vereadora Isabella de Roldão (PDT) realizou audiência pública na manhã desta terça-feira, 16, na Câmara Municipal do Recife, para debater os dramas dos moradores, que sofrem com o mau cheiro constante da fossa que corre a céu aberto, os alagamentos e água imunda entrando em casa. Entre os bichos nocivos o rato é o que mais se vê, em todo lugar, invadindo as casas. Também se convive com os pernilongos e outros insetos como o mosquito da dengue, e escorpiões.

A situação da comunidade Entra Apulso foi sintetizada na necessidade de um plano de urbanização para regularizar as moradias e melhorar as condições de saneamento básico e de drenagem. “O meu desejo, ao realizar esta audiência pública é discutir de forma institucional, para tentar avançar na resolução desses problemas”, disse a vereadora Isabella de Roldão. Ela lembrou que em novembro do ano passado participou, a convite da Prefeitura do Recife e da comunidade, de reunião para elaboração de um projeto que atendesse aos interesses da comunidade. “Desde então a gente se esforça para juntar secretarias e órgãos, mas é grande a dificuldade”, observou. Ela lamentou que esta foi a primeira audiência pública de sua iniciativa sem a presença de secretários municipais, que mandaram assessores. Ela conclamou a comunidade para se organizar e lutar pelos direitos.

A representante da Comissão de Urbanização e Legalização de Posse da Terra, Comul, Roberta Cavalcante, lamentou a situação de Entra Apulso. As ruas da comunidade são estreitas, com vielas internas, acessos irregulares e de difícil locomoção. “Parece que ela não pertence ao mapa do Recife, pois está em total abandono pela Prefeitura. O Plano Urbanístico, que foi elaborado há mais de 20 anos ainda não saiu do papel”, disse. O coordenador do fórum Prezeis, Bismark Saraiva de Medeiros, disse que se um dia esse plano for executado, terá que ser refeito. “Estará desatualizado. Entra gestor e sai gestor e ninguém dá atenção”, afirmou. Em seu entendimento, qualquer intervenção urbanística, que envolva construção de habitacionais ou obras para resolver problemas de saneamento e drenagem, exigirá desapropriações.

O presidente da Associação de Moradores de Entra Apulso, Lott Bernadino da Silva, afirmou que todos os terrenos que, ao longo do tempo, foram indicados para desapropriação, visando as obras de melhoria da comunidade, terminaram sendo usados pelos empresários da construção civil. “O estacionamento do Shopping Center Recife, ao lado da comunidade, teve autorização até para avançar na Zona Especial de Preservação Ambiental. Tudo isso com a omissão da Prefeitura e do Ministério Público, que nada fizeram. Quanto a nós, nenhum projeto anda”, contrastou. A secretária Executiva de Habitação do Recife, Renata Lucena, disse que estava na audiência pública “para escutar as demandas”, mas que em toda a gestão de Geraldo Júlio, segundo ela, nenhuma comissão da comunidade procurou a Secretaria. “Para nós é importante as informações da comunidade, pois vamos iniciar um plano local de habitação de interesse social e precisamos de todas as informações para atender as demandas”, acrescentou.

Além da questão habitacional, a drenagem e saneamento da comunidade são precários. O diretor Executivo de Drenagem da Emlurb, Givago Andrade, disse que “esses problemas são antigos” e que exigem uma solução estruturadora. “Entra Apulso precisaria ter um sistema de esgotamento novo, assim como a drenagem exige a recomposição completa”, disse. Mas a Emlurb, segundo ele, não tem contratos vigentes que contemplem obras estruturadoras de grande porte. “Os recursos que dispomos são do orçamento municipal para manutenção, recomposição e pequenas intervenções no sistema existente. Mas não para obras estruturadoras”, afirmou. Já o gerente de Projetos da Secretaria de Saneamento do Recife, Gustavo Oliveira, disse que existem cerca de 500 áreas críticas na questão de saneamento básico no  Recife. “O primeiro projeto do Proest está sendo finalizado pela Secretaria, mas foi feito um segundo módulo do Proest pela Compesa, que vai incluir a comunidade Entra Apulso”, anunciou.

O gerente regional Centro da Compesa, Domingos Sávio, confirmou o que Gustavo Oliveira disse: o projeto do Proest fica pronto até o final deste ano. “Inclusive já mandamos para a URB o projeto, para fazer a compatibilização entre a drenagem e o saneamento. Mas, informo que não será fácil a execução da obra, pois ela exige máquinas grandes, que não podem passar pelas vielas da comunidade”. A gerente da URB, Geise Zanon, disse que as obras que precisam ser realizadas na comunidade exigem um volume grande de desapropriações e que esse é o primeiro complicador. “O segundo é encontrar um local para relocar as famílias que serão desapropriadas. Onde iremos colocar essas pessoas?”, questionou. Ela também disse que as obras de drenagem da comunidade exigem uma solução coletiva, pois nada adianta resolver os problemas localizados sem considerar as mesmas do Shopping Center Recife e da construtora Conic, que está erguendo um prédio garagem nas proximidades.

 

Em 16.09.2014, às 12h43.