Audiência trata do transporte público

Sob iniciativa do vereador Raul Jungmann (PPS), foi realizada uma Audiência Pública sobre o transporte público no Recife, nesta quinta (8). O Plenarinho ficou lotado com a presença de entidades, diretórios acadêmicos de várias universidades, arquitetos, estudantes e população em geral. Também participaram do debate os vereadores Gilberto Alves (PTN), Romerinho Jatobá (PR), Eriberto Rafael PTC),Carlos Gueiros (PTB), Marco Aurélio (PTC), Wilton Brito (PHS), Osmar Ricardo (PT), Jurandir Liberal (PT) e o presidente da Casa, Vicente André Gomes (PSB).

A mesa de debates foi composta por Humberto Graça, Promotor do Ministério Público de Pernambuco; Lucas Alves, representante do movimento Direitos Urbanos; Nelson Barreto, presidente do Consórcio Grande Recife;Sandra Barbosa, representante da Secretaria de Mobilidade; Graça, representante da CBTTU/Metrorec; César Barros, arquiteto; Renato Barros, da Frente de Luta pelo Transporte Urbano e Juliana Barreto, gerente de projetos da Secretaria de Cidades.

No início do evento, Raul Jungmann anunciou ações para otimizar o debate do transporte público. “O primeiro é um requerimento que convoca audiência pública para analisar o passe livre, no dia 2 de setembro. Vamos trazer para dentro da Casa essa discussão, pois eu sou favorável ao passe livre. Outro documento que assino nesse momento é o que propõe uma Comissão Especial para discussão do passe livre. Contamos com vocês. E também estamos lançando uma proposta para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Transporte Público, um instrumento extraordinário e uma grande oportunidade de dar mais transparência à questão.”, disse.

Nelson Barreto fez uma exposição através de slides sobre o sistema de transporte de passageiros na Região Metropolitana do Recife. “São 2,2 milhões de passageiros por dianum sistema que concentra as pessoas e dali distribui-las sem a necessidade de passar no centro da cidade.”, disse. Nelson Barreto também ressaltou as novas obras em andamento e outras ainda para serem executadas e analisou a questão da tarifa. “Um investimento de 82 milhões foi destinado à reforma, ampliação e construção de terminais. E o que queremos é melhorar o padrão de atendimento. A tarifa, como sabemos, é reajustada desde 2007 pelo IPCA e na lista das capitais brasileiras, estamos na terceira mais barata do Brasil. O usuário quer acesso, regularidade,velocidade, conforto e uma tarifa justa. Peço o apoio dos presentes para que houvesse uma prioridade para os ônibus.Lutem pela prioridade do transporte.”, disse.

Já Juliana Barreto fez um panorama das obras na área de mobilidade urbana, conduzidas pela Secretaria das Cidades. “Há uma perspectiva de implantação de mais de 100 km de corredores exclusivos para o transporte coletivo, assegurando condições de mobilidade e acessibilidade de acordo cm o Plano Diretor de Transportes Urbanos (PDTU). E dentro da secretaria,temos intervenções em implantação, como o programa “Rios da Gente”, no Capibaribe, que tem como objetivo implementar um sistema  integrado de passageiros que utilize embarcações adequadas ao transporte de massa. Destaco também o ramal de acesso a cidade da Copa, além do programa Pedala PE que prevê o como meio de transporte o uso da bicicleta baseando-se nas diretrizes do PDTU. Estamos tendo a ajuda da Prefeitura que tem alguma rotas de ciclovias propostas, tendo como a ideia de abarcar o maior número de usuários a partir dos diferentes uso dos modais”, disse. Os corredores exclusivos de ônibus foram também exibidos por Juliana Barreto, além do andamento das obras representadas no mapa. A representante da Secretaria de Mobilidade, Sandra Barbosa, ressalto que a pasta possui duas matrizes de trabalho, que são  o deslocamento do transporte, através dos corredores exclusivos e deslocamento a pé investindo nas calçadas. “Inclusive,  começamos as reformas nas calçadas já no bairro de Água Fria. A manutenção é cara, inclusive estamos tentando um financiamento com a Caixa. Em relação ao tráfego, nossa missão é disciplinar, fiscalizar, trazendo melhorias para uma maior fluidez.”, disse. A representante da Companhia Brasileira de Transportes Urbanos (CBTU), ponderou que a CBTU vem trabalhando em conjunto com o Consórcio Grande Recife para que o serviço tenha uma melhor qualidade. “Estamos concluindo a compra  de mais trens e fazendo estudos para melhorar a linha de Marcos Freire para obtermos um menor tempo de espera. E sempre estamos conduzindo as solicitações locais para a Presidência da República, objetivando um maior investimento ao nosso metrô”, disse.

O Promotor Humberto Graça analisou que o transporte público foi esquecido e que não houve planejamento para a questão. “Percebe-se que houve um esquecimento do transporte publico no país e isso fez com que acontecessem as manifestações. O que observamos é que não houve um planejamento no tempo certo para suprir essas carências. A cidade está travada e daqui a uns 5 anos vai virar um caos. A gente não está aqui para colocar culpa em ninguém, é um problema que vem surgindo desde a década de 70. Boa parte do terminais não foram construídos e, hoje já temos reformas, um ponto positivo. Estamos pagando hoje o que não raciocinamos sobre a mobilidade há décadas atrás.  Ao Ministério Público cabe fiscalizar. Temos procedimentos instaurados, muitas reclamações sobre comportamento de motoristas, queima de paradas, não atendimento ao deficientes e muitas comunidades não são contempladas. Humberto Graça deixou claro que o Sistema Estrutural Integrado (SEI) é adequado e que as ações necessitam de tempo para concretizá-las. “O sistema do SEI é correto.Essa questão da concentração em terminais está certa, mas,infelizmente, se toda comunidade tiver uma linha direta para ocentro, então ninguém chegaria lá. Vejam a Conde da Boa Vista. Até hoje não é uma perfeição. E não é da noite para o dia que resolvemos isso, mas com a prioridade e a clareza. Deixo como mensagem aqui, na Câmara: tudo é um processo e vocês não podem baixar a cabeça e recuarem. Precisamos de uma política de investimento, o metrô não existe no país e o Recife está penando para tirar do papel a ampliação, mas não tem espaço urbano. Temos acolhido e louvado as ações que talvez não sejam consideradas completamente satisfatórias para vocês”, disse.

Lucas Alves, do movimento Direitos Urbanos, pontuou que as construtoras são as maiores beneficiadas com as obras destinadas ao transporte público. “É um modelo que favorece construtoras para obras em grandes avenidas, viadutos e corredores de ônibus. Já observei uma imagem de uma estação  para o sistema chamado BRT (Bus Rapid Transit), e nem vi calçada, nem faixas de pedestre. O foco dessas obras não é democratizar e, sim, atender interesses privados.”, disse.Lucas salientou que uma cidade necessita ser feita para o cidadão. “O que se procura é uma cidade para as pessoas. Tem carro demais nas ruas, e muitas vezes vemos uma pessoa sozinha dentro do carro. Se Todos são iguais perante à lei, então um ônibus com 100 pessoas tem 100 vezes mais direito do que um carro”, disse.

Já Renato Barros ressaltou que o transporte público é um direito social. “O transporte é colocado como mercadoria, e só se fala em custo. É um direito social e a gente necessita desse transporte para procurar emprego. A gente precisa de mais transparência e o povo está cansado de ver as coisas acontecerem. E precisamos também de espaços como esse, na Câmara."Renato ainda lembrou sobre a questão do desconforto dos usuários e o Passe Livre. “Vamos sem cinto de segurança, sendo levados sem as menores condições. O Passe Livre já virou uma conquista em vários lugares e precisa ser repassado para estudantes e desempregados. Temos várias formas de conseguir o Passe Livre e a gente pode viabilizá-lo.”, disse. Ao final de suas palavras, Renato Barros entregou um documento para o vereador Raul Jungmann solicitando a criação de uma CPI para o Transporte público. “O documento teve como justificativa que a Câmara escute o clamor das ruas e atenda as reivindicações. A partir dessa CPI a gente vai descobrir como funciona todo o nosso transporte público. Precisamos de 13 vereadores que assinem.”, disse.

O arquiteto Cesar Barros fez uma abordagem ampla sobre a questão dos veículos individuais e defendeu a ideia das ciclovias. “O carro já causou grandes transtornos para a cidade. Temos que ter humildade de dizer que pensamos errado e vamos pensar agora de forma diferente. Falou-se em BRT, terminais, mas não são necessários. Qualquer lugar no Recife é possível uma ciclovia, mas sabemos que nem toda via precisa de ciclovia. Vamos humanizar as cidades. Rotatórias, por exemplo, funcionam muito bem, são simples. Com 10 milhões de reais colocaríamos ciclofaixas na cidade toda. É trabalhar repensando as linhas, articular Abreu e Lima até o centro, por exemplo. São várias áreas não atendidas do Recife. Desejamos uma cidade onde tem que haver faixa de ônibus, ciclovias e teleféricos. Façamos um pacto para admitir que erramos, vamos rever nossos paradigmas, com o objetivo de humanizar  nossa cidade.”, disse.

 Em 08.08.13 às 20h05.