Câmara rende homenagem póstuma a Moacyr André Gomes
Jungmann discorreu sobre a vida do homenageado buscando a historia desde muito antes de ele existir como pessoa. Invocou seus antepassados negros e escravos, seus bisavôs. Sobreviveram, libertaram os filhos que por sua vez conseguiram enviá-los para escolas. Chegou a Moacyr, liberto, pobre, negro, que conseguiu se formar em medicina, ajudar pessoas, e se eleger diversas vezes vereador e deputado estadual. Quantos de nós, lembrou Jungmann em seu discurso, não somos levados pela história que nos antecede, é o caso dele. “Quis o destino que o avô de Moacyr casasse com a filha de um usineiro. Começavam a cair as barreiras do preconceito. Tiveram 19 filhos entre eles o próprio Moacyr”.
O autor da homenagem puxou pela memória e mostrou que a história da família é um constante romper de obstáculos do destino. Recordou que Moacyr foi menino na Várzea, peladeiro, começa a vida por esforço próprio e aos 33 anos se forma em medicina. O irmão Feliciano, também médico, o ajuda. Casa com Geni e tem quatro filhos, entre eles Vicente André Gomes, vereador e presidente da Câmara do Recife. “Novamente o destino bate à porta de Moacyr. Vereador eleito especialmente pelo voto de Casa Amarela se vê na contingência de cassar o prefeito Pelópidas Silveira, por imposição dos militares. Ele não cassa e cai na clandestinidade. Seus filhos passam necessidade. Depois disso, minha vida cruzou a dele e o conheci na criação do MDB. Era considerado o Príncipe Negro de Casa Amarela, título que ele mais gostava, entre tantos que recebeu em vida”.
Vicente André Gomes, filho de Moacyr, fez questão de presidir a reunião que homenageou o pai dele. Agradeceu às dezenas de pessoas que compareceram à homenagem, dirigindo-se a cada uma delas nominalmente. Ressaltou que Jungmann havia discorrido sobre a vida de seu pai de forma irrepreensível e carinhosa. Disse também que havia escrito algumas palavras e entre elas escreveu ao pai que procurou fazer tudo que ele o havia ensinado. Mas, emocionado disse também que ele, o pai, não o havia ensinado a viver sem ele. “Estou só. Não tenho a quem perguntar se errei se acertei”.
O presidente frisou que apesar de tudo, o pai de Moacyr consegue enviá-lo para fazer medicina na Bahia junto com o irmão Feliciano. “Negros que rompem o preconceito racial e econômico”. Vicente lembrou que eles voltaram médicos para ajudar os mais carentes. Relatou que ele mesmo havia sido vítima de preconceito. “Quase fui impedido de cursar medicina por não ter uma mão. Consegui um atestado e me formei. Meu pai ia todos os dias à faculdade comigo, para me proteger. Tinha receio de que eu precisasse da outra mão. Ele estava lá para me ajudar. Esse era meu pai”.
Em 20.11.2013, às 18h19