Especialista apresenta solução para conter o avanço do mar no litoral do Estado

Para reduzir o impacto das ondas sobre a costa em Alagoas, foram construídos três dissipadores de energia do tipo barra mar “Bagwall”, que é uma espécie de muro de concreto em forma de escada. A obra, pioneira no Brasil, foi apresentada como uma possível solução para conter também o avanço do mar no litoral de Pernambuco. Marco Lyra, engenheiro civil e especialista no assunto, falou da experiência alagoana, na tarde desta sexta-feira (9), durante o segundo dia do I seminário nacional sobre a erosão marinha na costa pernambucana e seus reflexos na região metropolitana. O evento está sendo promovido pelo Parlamento Metropolitano do Recife que tem como presidente o vereador Josenildo Sinesio (PT).

Lyra destacou vantagens do Bagwall como a durabilidade da obra que, segundo ele, é de 30 anos e o baixo custo de manutenção. “Isso é importante porque não adianta fazer uma intervenção de proteção costeira se o órgão responsável não tiver condições de dar manutenção. A Prefeitura do Recife, por exemplo, tem um custo de quase R$ 2 milhões de reais por ano com a manutenção do enrocamento  de mais de 2 km de sua orla”. O especialista disse ainda que as intervenções em Alagoas  tiveram ótimos resultados no combate à erosão costeira, como a engorda da areia e o aumento da fauna marinha.

O tema do segundo palestrante da tarde foi a legislação para monitoramento da gestão costeira de Pernambuco. O Secretário Executivo de Meio Ambiente do Estado, Helvio Polito Lopes, apresentou slides com fotos das décadas de 40, 50 e 60 das praias de Boa Viagem e Piedade para comparar o processo de ocupação da orla da cidade. Segundo ele, a convivência entre a população e o mar teve início a partir do século 19, com a ocupação da praia. Hoje, a densidade populacional que existe em Pernambuco nos 187 km de litoral é considerada alta, com 903 habitantes por km². A Bahia, por exemplo, que possui o maior litoral do País, tem 966 habitantes por km².  “É preciso destacar a pressão por parte da cidade sobre as áreas costeiras. A gente fala do avanço do mar, mas se esquece de falar do avanço da cidade sobre o mar, o que causa prejuízos econômicos, destruição do patrimônio publico e dos imóveis, além do prejuízo às atividades turísticas, entre outros”.

Helvio falou do Projeto de Monitoramento Ambiental Integrado do Litoral Pernambucano (MAI Erosão Costeira) concebido, desde 2005, por Universidades, Estado e Municípios com o objetivo de disponibilizar informações técnicas para viabilizar medidas de recuperação e prevenção do avanço do mar. Orçado em mais de R$ 1 milhão de reais de recursos federais com contrapartidas estadual e municipais, o MAI tem realizado estudos e pesquisas sobre as condições físicas, oceanográficas, geológicas e ambientais da costa  pernambucana, em particular, da orla dos municípios de Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda e Paulista.

O secretário também destacou que tramita na Assembléia Legislativa de Pernambuco projetos do Governo do Estado com objetivos  como desertificação, mudanças climáticas, gerenciamento costeiro e resíduos sólidos e floresta.

Ex-secretária estadual de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Pernambuco e ex-prefeiita de Olinda, Luciana Santos também participou do debate e parabenizou o Parlamento Metropolitano pela iniciativa. "Acredito que fóruns como esse possibilitam a elaboração coletiva. Acompanho o assunto há muito tempo e esse debate é algo que aflige a todos os cidadãos que moram no litoral".

Luciana Santos disse ainda que o problema é histórico e que, durante a ocupação holandesa no Estado, vários bairros como São José surgiram com o aterro de mangues e rios. “Foram intervenções urbanísticas, assim como Porto de Suape, que agravaram a erosão marinha”. Ela destacou a implantação do MAI e disse que as soluções tecnológicas são diversificadas e que é preciso saber qual a mais adequada a cada trecho do litoral. “Enquanto estava à frente da Secretaria, apresentamos um termo de referência de um projeto básico de engenharia de maneira integrada para todos os municípios. O governador já tem ciência e concordou com esse caminho.  Mas vamos precisar de pelo menos mais um ano para que as obras sejam iniciadas”.

Ambientalistas, estudantes, vereadores do Parlamento Metropolitano e vários integrantes do seminário também puderam participar dos debates com perguntas que foram respondidas pela mesa. Amanhã (10), a partir das 9h, começa o último dia do seminário quando acontece a 1ª reunião do Pleno do Parlamento Metropolitano em 2010. Também está prevista a criação da Frente Parlamentar Metropolitana de Acompanhamento das Políticas Estaduais de Enfrentamento à Erosão Marinha e a leitura da Carta Metropolitana, documento elaborado durante o evento e que será entregue ao Governador Eduardo Campos.

Em 09.04.2010, às 21h15.