Morre um dos políticos históricos do Recife

Um líder, um orientador, uma pessoa conciliadora. Essas eram as principais características que identificavam o médico Moacyr André Gomes, que morreu aos 88 anos, na noite de ontem, sexta-feira, 4 de outubro, e o velório está ocorrendo neste momento no plenário da Câmara Municipal do Recife. Ex-vereador do Recife e ex-deputado estadual, "O Príncipe Negro do Arraial de Casa Amarela”, como era conhecido, faleceu por complicações cardiorrespiratórias cerca de um mês depois de internado no hospital Albert Sabin, com infecção pulmonar. O corpo será sepultado neste sábado às 16h30, no Cemitério de Santo Amaro.

Pai do vereador Vicente André Gomes, presidente da Câmara Municipal do Recife, Moacyr André Gomes foi um dos fundadores do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) em Pernambuco na companhia de lideranças do porte de Jarbas Vasconcelos, Marcos Freire e Fernando Lyra. Por esse motivo foi considerado um dos representantes da chamada resistência democrática nos anos de chumbo, uma vez que o MDB foi o partido de oposição ao regime ditatorial que se instalou no Brasil após o golpe militar e que posteriormente veio a se transformar em PMDB.

Homem de forte história política no Estado, permanecendo na vida pública por mais de 50 anos, Moacyr André Gomes exerceu oito mandatos legislativos, sendo quatro de deputado estadual e quatro de vereador do Recife. O último, como vereador da capital, foi no período de 2001 a 2004. O primeiro, também como vereador, em 1963, antes do Golpe Militar. Em 1970, elegeu-se, pela primeira vez deputado estadual e foi reeleito para o cargo por mais três mandatos. Sua atuação esteve focada nas comunidades da Zona Norte do Recife, onde realizou, com recursos próprios, um trabalho social voltado à saúde da população mais desassistida pelos órgãos oficiais.

Político de vida intensa, que nunca mudou do bairro que o elegeu, Moacyr André Gomes teve oito mandatos de deputado estadual, entre os anos de 1971 e 1983, e também foi vereador do Recife. Na Câmara Municipal, foram seus contemporâneos vereadores como Aristófanes de Andrade, Jarbas de Holanda, Lula Cavalcanti, Rubem Gambôa, Liberato Costa Júnior e Rivaldo Alain, que marcaram época no legislativo municipal. Sempre militante da esquerda, Moacyr foi preso pelas forças da repressão política, em 1964, e levado do pátio da Câmara Municipal do Recife para a sede do Dops por ter se recursado a votar a cassação do então prefeito Pelópidas da Silveira. Quem o libertou foi o capitão Feliciano André Gomes, que era seu irmão.

Pelas suas convicções democráticas, de conviver bem com os contrários, Moacyr foi respeitado pela direita. Era um político muito bem relacionado no meio. Ao mesmo tempo, trilhou um longo caminho ao lado de Miguel Arraes de Alencar, onde o apoiou na última eleição para governador. Também caminhou junto com Brizola por vários anos e ainda apoiou o governador Eduardo Campos nas duas eleições ao governo do Estado.

Moacyr nasceu em 24 de maio de 1925, era filho do médico Vicente André Gomes (o mesmo do seu filho) e sobrinho do deputado federal Feliciano André Gomes (mesmo nome do seu irmão). Matriculou-se na extinta Faculdade de Ciências Médicas de Pernambuco (FCM) em 1952. Lá, já tinha uma militância política, pois foi presidente do Diretório Acadêmico. Ao se formar, registrou-se com o CRM número 961, e abriu um consultório em Casa Amarela, bairro onde morou e permaneceu trabalhando e atuando a vida inteira. Foi especialista em nutrição, aparelho digestivo e fígado. Foi casado com Dona Geni. Ele deixa quatro filhos: Ricardo André Gomes, Renata André Gomes, Ana (em memória) e Vicente André Gomes. Moacyr deixa ainda 13 netos. Além de ter exercido oito mandatos parlamentares, Moacyr foi ainda Provedor da Santa Casa de Misericórdia, e também era conselheiro do Santa Cruz Futebol Clube.

 

 

Em 05.10.2013, às 8h30.