Solene exalta os 60 anos de Arcebispado de Dom Helder Camara e os 40 anos do IDHeC

Os 60 anos de Arcebispado de Dom Helder Camara na Arquidiocese de Olinda e Recife e os 40 anos do Instituto Dom Helder Camara (IDHeC) foram exaltados numa reunião solene bastante prestigiada, no plenário da Casa de José Mariano, promovida pela vereadora Cida Pedrosa (PCDoB), na noite desta segunda-feira (22). “É o reconhecimento das contribuições inestimáveis de Dom Helder Pessoa Camara ao longo de sua vida e atuação como Arcebispo de Olinda e Recife, bem como o relevante papel do Instituto Dom Helder Camara (IDHeC) na preservação de seu legado”, destacou a parlamentar. A vereadora Elaine Cristina (PSOL) presidiu o evento.

A mesa da solenidade foi composta pelo Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Paulo Jackson; o pró-reitor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), padre Delmar Cardoso, a diretora executiva do Instituto Dom Helder Camara (IDHeC), Virgínia Pimentel; a presidente do Conselho Curador do Instituto Dom Helder Camara (IDHeC), Irmã Vanda, e pelo monge beneditino e ex-secretário de Dom Helder Camara, Marcelo Barros.

Dom Helder Pessoa Camara, nasceu em Fortaleza em 7 de fevereiro de 1909, tornou-se uma figura emblemática na história da Igreja Católica e da sociedade brasileira, destacando-se por sua defesa intransigente dos direitos humanos e sua atuação corajosa durante a Ditadura Militar no Brasil. Sua ordenação sacerdotal aos 22 anos marcou o início de uma trajetória de engajamento social e religioso que se estenderia por décadas, culminando em sua nomeação como Arcebispo de Olinda e Recife, posição que utilizou como plataforma para a promoção da justiça e da paz. O Instituto Dom Helder Camara (IDHeC), ao preservar o acervo cultural deixado por ele, desempenha um papel fundamental na manutenção e divulgação de seu legado. Este acervo, rico em documentos históricos, fotografias e escritos, oferece uma janela para as lutas e esperanças de uma época marcada por intensos desafios, refletindo as mensagens de amor, paz e cidadania que Dom Helder transmitiu ao longo de sua vida. Ele faleceu aos 90 anos, no Recife, em 27 de agosto de 1999.

Durante a reunião solene, quatro vídeos foram exibidos celebrando Dom Helder e o IDHeC, dentre eles, depoimentos do padre Julio Lancelotti e o teólogo Leonardo Boff. Estudantes da Casa Frei Francisco, a cantora Cylene Araújo, o grupo Vozes da Resistência, juntamente com a cantora Heloísa, fizeram apresentações musicais. Em outro momento, o padre Fábio Potiguar, capelão da Igreja das Fronteiras, recitou uma poesia.

A vereadora Cida Pedrosa disse que no mundo existem pessoas muito especiais, a exemplo de Dom Helder Camara, que lutou por direitos e por uma igreja que confia no próximo. A parlamentar também citou proposições, de sua autoria, com propostas ligadas a causas humanistas. “Tem pessoas que vêm ao mundo e transformam tudo o que está ao seu redor. E Dom Helder foi isso para todas e todos nós. Minha luta nasce com a palavra de Dom Helder, nasce com a palavra de uma igreja que confia no próximo, que constrói proximidades e que constrói direitos. Estamos aqui para dizer que está tramitando uma iniciativa para que a Campanha da Fraternidade tenha um Dia Municipal para que a gente possa levá-la para as escolas com o objetivo das crianças entenderem que a Campanha da Fraternidade é importante. E é com alegria que a gente diz aqui que aprovamos, nessa Casa, por unanimidade, um Dia da Ecologia São Francisco de Assis porque a gente entende que precisa tratar desse tema.  Dom Helder Camara, que era a palavra hiato, que era poesia e gesto, ele nos diz: Vamos construir o tempo novo, a partir do verbo, mas a partir também da ação”. Logo após o discurso, Cida Pedrosa entregou uma placa ao Instituto Dom Helder Camara, representado pela diretora executiva, Virgínia Pimentel, e pela presidente do Conselho curador, Irmã Vanda.

A diretora executiva do IDHeC, Virgínia Pimentel, destacou os 40 anos do Instituto, que foi fundado pelo próprio religioso, e agradeceu as parcerias. “Dom Helder foi o nosso primeiro diretor executivo e os leigos mantém o Instituto com muito afinco  e também mantém a chama viva do legado de Dom Helder até os dias atuais. Quero também ressaltar aqui que esses 40 anos do IDHeC não seriam possíveis se não contássemos com tantas parcerias institucionais. Parcerias como a Universidade Católica de Pernambuco e o seu reitor, padre Pedro Rubens.  A Universidade é guardiã do acervo de Dom Helder e também promove a Semana de Direitos Humanos Dom Helder Camara, todos os anos. Agradeço à Fafire, Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social. (Cendhec), Trapeiros de Emaús, Governo do Estado de Pernambuco, Companhia Editora de Pernambuco, Assembleia Legislativa de Pernambuco, Prefeitura do Recife e Fundarpe”.

O arcebispo de Olinda e Recife, Dom Paulo Jackson, ressaltou a importância de apresentar o legado de Dom Helder Camara para as novas gerações. “Que novas gerações estejam presentes e sintam um pouco daquilo que acontece, nesta noite. Porque passados 60 anos nós precisamos propor e repropor Dom Helder Camara para as novas gerações. Talvez seja o grande desafio nosso como fazer com que as novas gerações se encantem com a figura, a proposta e a mensagem de dom Helder Camara. Então, eu pensei de recordar um pouco o discurso de Dom Helder, na sua chegada, no famoso discurso diante da Pracinha do Diario Pernambuco. Um discurso verdadeiramente icônico, que me impressiona muito, como ele faz o remarque e acentua a dimensão ecumênica mais de uma vez. Ele diz que é o bispo de todos e não exclui ninguém do diálogo. Quem dera se aprendêssemos isso!”.

Dom Paulo Jackson continuou a citar momentos do discurso de chegada de Dom Helder, como os pobres, o Recife e as reformas de base. O Arcebispo concluiu suas palavras exaltando o amor do religioso pela vida e pelas pessoas.  “Dom Helder disse que veio cuidar dos pobres. Todas as pessoas. Dom Helder ajuda-nos a compreender o conceito de que o pobre não é simplesmente o conceito socioeconômico. Ele disse que quem estiver sofrendo do corpo ou da alma, pobre ou rico, quem estiver desesperado, tem lugar no coração do bispo. Ele antecipa de muito aquilo que o Papa Francisco falou de ir às periferias geográficas e também às periferias existenciais. Depois ele toca no Recife para romper o ciclo do subdesenvolvimento do nordeste. E Recife como grande símbolo desta luta. Ele também disse que as reformas de base propostas são absolutamente ingentes e urgentes. Como temer movimentos que se interessam pela autêntica democracia e só se podem realizar se tiver exatamente a força das classes populares? Como temer grupos, partidos, regimes que respeitem e busquem a plena liberdade? Essa é a grande pergunta dele. E vai concluindo: é preciso identificar Cristo na pessoa do pobre. Esse é dom Helder Camara. A memória de Dom Helder, o seu amor pelos pobres, por Cristo, pela pessoa humana, pluralidade, pela beleza e poesia, isso deve estar no coração de cada um de nós. É o amor pela vida que marca fundamentalmente Dom Helder Camara”, afirmou.  

"Se Dom Helder estivesse aqui, hoje, o que ele diria para nós e pediria?", questionou o monge Marcelo Barros ao iniciar a sua fala na tribuna. "É muito difícil responder por ele. De 60 anos para cá, infelizmente, o mundo não parece ter melhorado. Na nossa igreja, eu não vou dizer que não melhorou, mas os desafios são muito grandes. Provavelmente, se ele estivesse aqui, agora, ia pedir que nós sejamos testemunhas de que a mensagem dele é cada dia mais atual, que a proposta dele não ficou para o tempo atrás. Ao contrário, é mais exigente e urgente hoje. A sinfonia dos dois mundos tem que ser a sinfonia de todos os mundos e, certamente, ele aqui, mudaria toda a linguagem", disse. 

De acordo com Marcelo Barros, uma das principais características de Dom Helder é que ele era um ser autêntico. "Ele era verdadeiro em tudo. Temos uma dificuldade muito grande na política, na fé, de ligar o macro com o micro. É fundamental que esses 60 anos nos ajude a nos rever, a nos converter permanentemente. Que possamos viver, no IDHeC, em todos os nossos trabalhos e em toda a nossa vida, o espírito de unidade, de amor que ele nos deixou como proposta para o mundo e para a igreja".

Ao final das considerações e das apresentações poéticas e musicais, a presidente da solenidade, vereadora Elaine Cristina, parabenizou a vereadora Cida Pedrosa pela iniciativa e convidou todos os convidados para cantarem o Hino do Recife. 

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Em 22.04.2024