Rede de atendimento aos usuários de drogas é tema de audiência pública

A ausência de psicólogos nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) do Recife e a frágil rede de atendimento aos usuários de drogas na cidade foram assuntos abordados na audiência pública “Planejamento do governo municipal no combate às drogas”. O debate lotou o plenarinho da Câmara, na manhã desta sexta-feira, 19. O autor da iniciativa, vereador Luiz Eustáquio (PT), enfatizou que o objetivo foi possibilitar à sociedade conhecer e debater as ações do governo nesta área, lembrou as propostas encaminhadas na reunião do mês passado e a recriação na Casa da Frente Parlamentar de Combate ao Crack .

“Percebo que a rede de atendimento do Recife precisa de  parceiros,  pois é insuficiente.  Na gestão passada houve um concurso e os profissionais ainda não foram convocados. Resultado: os  Caps têm equipes incompletas. As portas de entradas dos Caps estão praticamente fechadas”. Ele também ressaltou que o crack é uma epidemia que “mata e mata, joga pessoas nas cadeias”.

O secretário de Segurança Urbana, Murilo Cavalcanti, admitiu que o problema não é  fácil e que é preciso  trazer para a cidade uma política  ampla e integrada. Destacou que estava para ouvir o debate e que  a secretaria faz um mapeamento de todos os bairros. “Sabemos onde ocorrem os homicídios e que as drogas estão entre as principais causas”.

Ele disse que há uma prioridade em ouvir a comunidade e reforçou a necessidade de uma policia cidadã e melhoria na educação. “É preciso  quebrar esta lógica perversa de péssima educação para os mais pobres. Um estudo mostra que as 50 cidades que tiveram o pior desempenho no Ideb (índice de Desenvolvimento da Educação Básica) são as 50 cidades mais violentas no Brasil”.

O conselheiro tutelar, Geraldo Nóbrega, lamentou que  crianças e adolescentes sejam atualmente tão atingidos pelas drogas. “O problema chega cada vez mais cedo. Hoje temos criança de oito,  nove anos de idade no mundo das drogas e, o que é pior, está crescendo  o número de meninas que trafica e serve ao traficante com o seu próprio corpo, para conseguir mais droga”.   

Já o  representante do Condica, Alexandre Nápoles, destacou que o papel da entidade é  monitorar como são aplicados  os recursos recebidos para  o combate as drogas. Aproveitou para anunciar que até junho será lançado o edital do fundo para combate  às drogas usadas por  crianças e adolescentes.

O Coordenador do Conselho Municipal de Saúde,  Wellington Carvalho,  destacou que se trata de um tema relevante na saúde publica do município.”Estamos discutindo muito a estrutura dos  Caps. Recife tem  um certa vantagem, mas  precisamos ser melhor estruturados na questão dos  recursos humanos, espaços adequados, alimentação  para  os usuários e reconhecemos que temos a necessidade de trazer a ampliação do serviço: consultório  de rua, residência terapêutica”. Segundo ele este ano  será construído o   plano municipal de saúde. 

A  representante do Conselho Regional de Psicologia, Maria da Conceição,  reafirmou a necessidade de  fortalecer os Caps através da política do SUS. “O  tema abusivo das drogas tem de ser visto sem amarras. Essencial é que  a equipe envolva várias  áreas profissionais.  Queremos construir um parecer dizendo que  o Recife tem uma política sobre drogas que é justa e respeita as pessoas”.

A representante da Secretaria de Desenvolvimento  Social e Direitos Humanos, Gerusa Felizarda,  reconheceu a complexidade do tema. “Temos conhecimento   que  exige uma parceria entre todos e temos  a compreensão de que a nossa rede precisa melhorar. A nossa proposta e qualificar os serviços e ampliar a rede”.  

A promotora de Justiça de Defesa e Cidadania da Capital, Heloisa Poliana, enfatizou que há um número reduzido de serviços no Recife e disse que várias mães procuram a entidade quando já perderam o controle sobre seus filhos. “A criança e o adolescente antes de se envolver com álcool e outras drogas já passou por várias outras violações dos seu direitos. Na verdade o problema não reside na ausência de lei, mas na precariedade do atendimento”.

A vereadora Aline mariano (PSDB) criticou a gestão passada pelas deficiências encontradas hoje. “Tivemos na legislatura passada muitas discussões e poucas ações efetivas e sobrou para esta gestão repensar e construir uma nova estratégia para o assunto. A realidade é  muito precária.”   

Para Isabella de Roldão (PDT), a maior dificuldade enfrentada recai sobre a mulher. “Vemos que meninas  são usadas,  violentadas. Cabe a todos nós discutirmos,  mas acima de tudo fortalecermos os movimentos  sociais.  Fortalecer a política publica social,  caso contrário  não saímos do redemoinho que  é o crack”. 

Michele Collins (PP) lamentou que na reunião pública de março e nesta audiência, a prefeitura não tenha trazido propostas para apresentar. Ela aproveitou para lançar  a  Pauta Recife de combate às drogas, “um documento que será postado no site da Câmara destinado a recolher sugestões  e planos da sociedade sobre o assunto”.

 

 Em  19.04.2013, às 14h30.