Transferência da delegada Gleide Ângelo gera debate na Câmara

A transferência da delegada da Polícia Civil Gleide Ângelo – que atuou por seis anos no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e passa a responder pela Delegacia de Olinda nesta semana – gerou um debate na Câmara do Recife na tarde desta segunda-feira (16). A discussão começou após a vereadora Isabella de Roldão (PDT) propor um voto de repúdio ao secretário de Defesa Social de Pernambuco pelo caso. O requerimento do voto foi rejeitado pelo plenário.

“É uma brilhante e competente delegada e que injustificadamente teve a transferência anunciada. Já existe lei federal que garante que toda transferência tem que ser feita a partir de um fundamento”, afirmou Isabella de Roldão.

Em pronunciamento realizado na mesma tarde, a vereadora Michele Collins (PP) abordou o tema e também lamentou a transferência. “O anúncio da remoção está repercutindo negativamente nas redes sociais e mídia local. Essa medida tomou de surpresa a delegada, uma pessoa bastante atuante e competente no que faz. No meu entendimento, a transferência foi arbitrária e inoportuna”, disse a parlamentar. Fazendo um apelo ao governo estadual para que a decisão fosse revista, Michele Collins também citou a lei federal número 12.830, segundo a qual remoção de um delegado precisa ser um ato fundamentado.

Diversos vereadores se manifestaram acerca do voto de repúdio proposto por Isabella de Roldão. O primeiro deles foi o vereador Carlos Gueiros (PTB), que se posicionou contrariamente ao requerimento. “Eu tenho todo o apreço pela delegada Gleide Ângelo. Ela se sobressai entre os delegados pela competência dela. No entanto, o repúdio é uma palavra muito forte para ser tomada por esta Casa, como poder hierarquicamente inferior. Isso tem a ver com o Estado. Podemos sim entender que foi uma injustiça, mas ignorando os motivos não podemos nunca repudiar a atitude de uma autoridade”, considerou. Durante sua intervenção, ele sugeriu a criação de uma comissão parlamentar para buscar informações na Secretaria de Defesa Social.

O vereador Henrique Leite (PT) defendeu que as transferências ocorrem de forma rotineira nas delegacias e que Gleide Ângelo foi escolhida para a Delegacia de Olinda por sua competência. “Ela é uma profissional dedicada. Existe um rodízio e não adianta você botar alguém que não tenha o perfil. Não vejo como perseguição, ela está sendo prestigiada inclusive com um cargo mais alto. Ela cuidava de pessoas desaparecidas e agora vai cuidar da questão dos homicídios em Olinda”, ponderou.

Também disse serem comuns as transferências o vereador Estéfano Menudo (PSB). “Isso é muito normal dentro da Policia Civil. Eu tenho 34 anos de polícia. Há um tempo, eu era comissário ali na Caxangá e a gente fez a prisão de um sequestrador que a sociedade e a imprensa tomaram conhecimento. Depois de cinco meses fomos transferidos, é uma normalidade”, acrescentou.

Na mesma tarde, Isabella de Roldão voltou a se pronunciar para falar do caso e defender seu requerimento da forma como foi proposto. Voltando a mencionar a lei que obriga que as transferências sejam justificadas, ela manteve o pedido por um voto de repúdio. “Já me sugeriram pedir um voto de solidariedade. Que se forme uma comissão; fica de acordo com a consciência de cada um. Eu apresentei um voto de repúdio. Na minha visão, ela foi colocada na geladeira. Ela chama a atenção por onde passa, pela seriedade, pela competência, mas acima de tudo pela coragem”, argumentou.

O vereador Amaro Cipriano Maguari (PSB) participou da discussão também demonstrando cautela em relação ao repúdio. “O ato é administrativo. A gente tem que ouvir e falar. A palavra contrária é muito pesada, e o repúdio mais ainda. Mas a gente vai tomar o conhecimento necessário. Ninguém sabe se estão precisando daquela profissional naquela cidade”, afirmou o parlamentar.

Já o vereador Marcos Menezes (DEM) pediu que o requerimento fosse refeito, mas ressaltou a importância da Câmara tomar uma atitude. “A minha sugestão é que o requerimento seja retirado e refeito. Esta Casa devia sim se mobilizar pelo retorno dela, desta vez para um cargo bem maior. Devemos à sociedade que a gente representa. Precisamos de delegados competentes”, defendeu.

O debate fez Michele Collins voltar a tomar a palavra. “Eu vou votar a favor do requerimento. O secretário de Defesa Social pode rever essa situação, principalmente se houver um desagravo desta Casa. É o certo para o povo do Recife e até para o Estado de Pernambuco, porque aqui é a capital”, declarou a vereadora.

Ao final das discussões, o vereador Eurico Freire (PV) deu sua contribuição afirmando não ver a transferência como uma perseguição a Gleide Ângelo. “Reconheço a posição da vereadora em prestigiar o trabalho da delegada. Não se trata inicialmente de uma punição. Está se dado à delegada a condição de titular no município de Olinda”, disse.

Após uma votação nominal, 16 parlamentares demonstraram ser contra o requerimento de voto de repúdio. Quatro se colocaram a favor.

Isabella de Roldão repercute entrevista e critica machismo

Ainda na reunião plenária desta segunda-feira (9), Isabella de Roldão repercutiu uma entrevista recente dada à imprensa pelo Secretário de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude de Pernambuco, Isaltino Nascimento. “Na mesma semana da transferência da delegada Gleide Ângelo, a gente se surpreende com uma entrevista do atual secretário em que ele, de forma extremamente machista, fala sobre mulheres que não teriam a mesma capacidade de se articular politicamente porque não saem para beber, não formam uma roda. Tudo isso é muito grave”, considerou.

O vereador Luiz Eustáquio (Rede) defendeu o secretário. “Infelizmente é, verdade, vivemos em uma sociedade machista. Mas se tem uma pessoa que respeita as mulheres é Isaltino Nascimento. Ele tem sete secretários executivos e quatro são mulheres. Como ele pode ser machista?”, respondeu o parlamentar.

Em 16.11.2015, às 18h