“Dono” do lirismo dos blocos é cidadão do Recife

Se o lirismo pudesse ter um dono, este seria o cantor e compositor Getúlio Cavalcanti, que recebeu ontem, o Título de Cidadão do Recife. De verdade, nem precisava. É só para constar. Ninguém tem dúvidas de que ele é mais recifense do que qualquer outro que tenha nascido por aqui, nessas ruas da Saudade, Hospício, Soledade, Aurora e tantas outras. Porque é ele quem melhor nos traduz. No amor pela cidade, pelo carnaval, “é lindo ver o dia amanhecer com violões e pastorinhas mil dizendo bem que o Recife tem o carnaval melhor do meu Brasil”, nossa marca tão profundamente enraizada em cada um recifense, pernambucano. Não há brasileiro nem estrangeiro que por aqui passe e não se apaixone pela cantoria dele. Mas ele nasceu, em Camutanga, Zona da Mata Norte.

Já desde pequeno, menino, mesmo, já fazia serestas e serenatas. Ele estudou, se formou em Administração, casou, teve filhos como qualquer pessoa comum e mortal. Só que ele não é comum e nem mortal. Tão modesto, diz que cantar, compor e interpretar são hobbies desde a adolescência. Compôs e gravou dezenas de cançoes, quase todas frevo-canção e frevo-de- bloco. Nada mais pernambucano, nada mais recifense. Compôs também baiões, baladas, marchas-rancho, maracatus, sambas-canção e muito mais, até boleros e rocks. E todos com muita qualidade e reconhecimento.

Ele recebeu o Título das mãos do autor da proposta, vereador Antônio Luiz Neto (PTB). Como bem disse o vereador falar de Getúlio é louvar o cantador multicultural, é lembrar momentos vividos nas ruas do Recife em antigos carnavais, dos bairros como Casa Amarela, Imbiribeira, Afogados, Arruda, com o povo caminhando junto às agremiações, Flor da Lira, Banhistas, Adoradores do Arruda, Madeira do Rosarinho, Batutas de São José, Maracatus, afoxés, Elefante de Olinda, cruzando a cidade. “Como não temos uma política cultural permanente que permita o crescimento, nos resta reconhecer os fortes, nossos herois como Getúlio que leva adiante com inteligência e bravura o estandarte da cultura. O Recife lhe pertence e hoje se curva a Camutanga, sua terra natal”.

Getúlio fez um discurso poético, e breve, porque é poeta e menestrel. Discursou e cantou acompanhado por integrantes dos Blocos das Flores, da Saudade e das Ilusões, colorindo o plenário da Câmara do Recife. Disse que era impossível desde tempos idos o carnaval do Recife não encantar os turistas que aqui chegavam. Um encantamento movido a frevos inéditos de compositores como Capiba, Antônio Maria, Irmãos Valença, Nelson Ferreira, todos embalados por grandes cantrores nacionais e exaustivamente tocados nas rádios e nos clubes Português, Náutico, Internacional, Cabanga. “Desfilei pela primeira vez nos Banhistas e me apaixonei e daí e em diante nunca mais larguei os blocos líricos. Amar o Recife é muito fácil”. E claro, agradeceu à mulher, filhos, netos, bisnetos, amigos...

 

 

Em 04/06/2015 às 18h09.