Troca de saberes sobre negritude: lançamento da 2ª edição das cartilhas neGRITO é tema de reunião pública

No mês da Consciência Negra, o Coletivo de Negritude, por iniciativa do vereador Ivan Moraes (PSOL), realizou uma reunião pública, na manhã desta segunda-feira (4), para lançar a 2ª edição das cartilhas “neGRITO” sobre o Genocídio da Juventude Negra e sobre Racismo. Vários estudantes da rede pública estadual participaram do evento no Plenarinho.

Segundo dados do vereador Ivan Moraes, o Brasil foi a última nação da América a abolir a escravidão. Entre 1550 e 1850, data oficial do fim do tráfico de negros, cerca de 3.600.000 africanos e africanas chegaram ao Brasil. “A força de trabalho desses homens e mulheres produziu a riqueza do País durante 300 anos. Apesar de a maior parte dos escravos(as)não saber ler nem escrever, isso não significava que não tivessem cultura. Eles trouxeram para o Brasil seus hábitos, suas crenças, suas formas de expressão religiosa e artística, além de terem conhecimentos próprios sobre técnicas de plantio e de produção. Entretanto, a violência e a rigidez do regime de escravidão não permitiam que os negros e as negras tivessem acesso à educação”, justificou o parlamentar.

João Pedro Simões, do Coletivo de Negritude, disse ter ficado muito feliz com a realização da reunião pública e enalteceu a importância das publicações das cartilhas. “A gente sabe como as pessoas negras são tratadas com descaso e a morte de Marielle Franco serviu como gás para publicar essas cartilhas. É uma luta diária e constante e principalmente nós, que somos negros, pois a nossa realidade é muito difícil nesse país.  As cartilhas são publicações bem produzidas e colocamos nosso coração nelas”.

Para Bel Poã, militante do Afronte, poetisa e mestra em história pela Universidade Federal de Pernambuco, a intolerância vem do racismo e relembrou detalhes históricos da escravidão no Brasil. “Essa guerra que existe contra as pessoas negras e faveladas, e que não é declarada, vem de um descaso com as pessoas negras do Brasil desde o período colonial e é muito importante que a gente volte a essa época. A colonização é muito forte porque desde que os portugueses invadiram o Brasil, o país tem uma historia marcada por essa invasão e escravidão. São 519 anos de invasão e quase 400 de escravidão sem indenização e nem preocupação de como estão essas pessoas negras”.

Pai Edson de Omulu, sacerdote da Tenda de Umbanda e Caridade Caboclo Flecheiro e Mestre em ciência da Religião pela Unicap, frisou que é a valorosa a presença dos estudantes na Casa de José Mariano. “Vocês têm os professores com a devida compreensão desse processo e trouxeram vocês aqui, na Câmara. Isso é muito positivo. Sonhem, ousem, acreditem e utilizem esse momento e essas cartilhas como um momento de resistência. Contra as armas da intolerância, usem essas publicações como escudo e para o empoderamento. Contem sempre com professores”.

Já Leonardo Azevedo, diretor e Mestre Alabê do Afoxé Alafin Oyó, lembrou da importância das mobilizações e enfatizou Zumbi dos Palmares, líder quilombola brasileiro. “A gente precisa potencializar, juntar a juventude negra, independente de classe e religião. Seria um momento de unir as nossas forças e lutarmos pelos nossos ideais. Esse mês de novembro é da Consciência Negra e lembro de Zumbi. Será que amanhã serei uma vítima como Zumbi? O povo negro está nas comunidades, nas barreiras e são vítimas da polícia”.

Jessica Vanessa, militante do Centro de Comunicação e Juventude, destacou o acolhimento da Casa de José Mariano em relação ao tema. “É muito bom ver a Câmara acolher uma juventude que vem da escola pública. A juventude é um novo ciclo e a educação é fundamental. É preciso entender esses espaços como potência para essa juventude. A gente vive num Brasil turbulento, cada dia uma notícia pior do que a outra. A juventude negra está morrendo porque não há política de fato. Vamos construir uma narrativa potente e levar nossas vivências para os vários lugares que a gente for”.

Em 04.11.2019 às 11h35.