Câmara debate voto de aplausos para equipe do filme 'Ainda Estou Aqui'
O voto de aplausos foi aprovado por unanimidade, mas foi precedido de um debate. O primeiro a discutir o assunto foi Thiago Medina, que reconheceu a importância do filme, mas fez uma ligação da obra com a atualidade histórica, e com as decisões tomadas pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). “O filme é importante para entender o que aconteceu no Brasil, para situar o presente e proteger o futuro. Hoje, acontece em maior escala”, disse, criticando as decisões judiciais sobre as pessoas envolvidas na tentativa de golpe contra a democracia, em 8 de janeiro de 2023. Ele acha que são autoritárias as penas atribuídas aos participantes das manifestações, marcadas por depredação e vandalismo, que destruíram equipamentos do patrimônio histórico e político, em Brasília. Para Thiago Medina há um “ativismo judicial”. Ele acusou o STF de radicalismo e criticou partidos de esquerda. Clique aqui e assista ao pronunciamento do vereador Thiago Medina.
O vereador Eduardo Moura também se dirigiu à tribuna da Casa de José Mariano para analisar o requerimento nº 1022/2025. “A vereadora Cida Pedrosa é uma pessoa que transpira cultura e isso é muito respeitável, mas acho que votos de aplausos, na Câmara, a gente deveria pensar para os recifenses. Mas, entendo, e também concordo, que o feito de um filme de uma realidade que aconteceu no Brasil tem que ser reconhecida. Acho que qualquer tipo de ditadura tem que ser execrada da humanidade. No Brasil, as ideologias querem plantar nas pessoas a imagem de que a ditadura só existe quando se usa uma farda".
No aparte, Luiz Eustáquio (PSB) ressaltou que o filme 'Ainda Estou Aqui' foi aclamado no mundo inteiro e afirmou que é contra qualquer ditadura. “O mundo elogiou e aplaudiu essa história porque ela é real e o mundo democrático tem medo da ditadura. Sou contra qualquer ditatura. Eu sou contrário ao que foi implantado em Cuba, Venezuela e, também, às ditaduras de direita que tiveram nesse país. A nossa República foi constituída a partir de um golpe de Estado. Ou seja, a gente vive de golpe de Estado desde o começo da República”.
Ao final do discurso, Eduardo Moura mostrou a imagem de uma mulher que está presa por dano ao patrimônio durante os atos de 8 de janeiro, que ocorreram em Brasília. “Uma mulher que pintou uma estátua com um batom pegou 17 anos de prisão", lamentou, comparando com casos de homicídios em que a lei prevê redução da pena. Clique aqui e assista ao pronunciamento do vereador Eduardo Moura.
A autora do requerimento, vereadora Cida Pedrosa (PCdoB), enalteceu o voto de aplausos, pois o filme representou o Brasil em várias premiações internacionais. “ O filme 'Ainda Estou Aqui' fala da tortura da época da ditadura militar sem apresentar uma cena de tortura; fala da dor de uma família que teve o pai desaparecido, uma mãe presa ilegalmente, uma menina de 15 anos presa", enfatizou. Visivelmente emocionada, elencou o nome de pessoas de seu partido que também enfrentaram os porões da ditadura militar no país. Relatou dores, sentimentos de perdas e defendeu a democracia.
Para a parlamentar o filme não só expressa a arte cinematográfica, como cumpre o papel de discutir a história brasileira e provocou uma onda de debates e torcidas quando do anúncio do Oscar em pleno domingo de Carnaval. “Só se viu torcida igual em época de Copa do Mundo. Que felicidade para uma mulher da cultura, feito eu, ver como a cultura mobilizou esse país, que não só o esporte tem capacidade de mobilização”, complementou a parlamentar. Clique aqui e assista ao pronunciamento da vereadora Cida Pedrosa.
Em seu discurso em defesa do requerimento, Liana Cirne afirmou que o voto de aplauso traduz o sentimento da população do Recife em relação ao filme 'Ainda Estou Aqui'. A parlamentar classificou, ainda, como fantasiosa a tese de que seriam antidemocráticas as prisões e condenações dos envolvidos na tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023. “Esse é um voto justo, um voto legítimo, e que representa o sentimento do povo recifense. O povo do Recife quer aplaudir ‘Ainda Estou Aqui’. O povo do Recife quer aplaudir Walter Salles”, disse. “Vereadores que me antecederam subiram a esta tribuna não para falar de ‘Ainda Estou Aqui’, um filme que é baseado em fatos reais. Mas, sim, para falar de uma ficção muito mal escrita que eu acho que passa no site Brasil Paralelo, que é um site de revisionismo histórico”. Clique aqui e assista ao pronunciamento da vereadora Liana Cirne.
As vereadoras Kari Santos (PT) e Jô Cavalcanti se pronunciaram em apartes ao discurso de Liana Cirne. Na ocasião, elas observaram que as condenações dos envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 são uma resposta a movimentos antidemocráticos. “A gente precisa recordar, relembrar para que não se aconteça, não se repita. O que aconteceu no dia 08 de janeiro de 2023 foi uma tentativa de golpe de Estado, reflexo de um país que anistiou os algozes da ditadura militar de 1964”, analisou Kari Santos. “Acho que é muito importante a gente relembrar a história. Acho que falta, aqui, falta a gente ler alguns livros históricos da época da ditadura”, indicou Jô Cavalcanti.
O último a ocupar a tribuna para destacar o requerimento foi o vereador Gilson Machado Filho. “Estamos vivendo uma democracia relativa”, acusou, explicando que sua opinião se baseia no fato de que o general de Exército Braga Neto está preso há 87 dias, e que hoje é o aniversário dele. “Ainda estou aqui, diz o general Braga Neto. Ainda estou aqui, diz Pezão, que foi morto em cadeia", lamentou. "Como vamos votar um voto de aplausos para este filme? Infelizmente ele retrata uma ditadura do passado, mas o povo que o fez [o filme] esconde o que estamos vivendo hoje”.
Neste momento, o vereador Thiago Medina pediu aparte e repetiu o que disse no discurso que abriu o debate. No final, o vereador Rinaldo Junior também pediu aparte e tomou as rédeas da discussão, esclarecendo o que estava sendo votado. “Estamos aqui votando um voto de aplauso a uma produção cinematográfica e não a questões ideológicas”. Clique aqui e assista ao pronunciamento do vereador Gilson Machado.
Outros requerimentos - A vereadora Cida Pedrosa também discutiu outros dois requerimentos de sua autoria, o de número 1.024/2025, que formula voto de aplausos e congratulações para o multiartista Leopoldo Nóbrega por seu excepcional trabalho na criação e confecção do Galo gigante do Carnaval do Recife. A vereadora Liana Cirne e os vereadores Júnior de Cleto (PSB) e Rodrigo Coutinho (Republicanos), em aparte, também prestaram reconhecimento ao artista e destacaram a iniciativa.
O outro requerimento abordado por Cida Pedrosa foi o de número 1.023/2025, que concede voto de aplausos e congratulações à Escolinha de Arte do Recife, pelos seus 72 anos em benefício do povo do Recife. A Escolinha foi fundada em 1953 por um grupo de intelectuais, educadores e artistas, incluindo nomes como Noêmia Varela, Paulo Freire, Augusto Rodrigues, Aloísio Magalhães, Francisco Brennand e Hermilo Borba Filho. É considerada uma das iniciativas mais relevantes da cidade do Recife
Clique aqui e assista a reportagem do TV Câmara do Recife.
Em 11.03.2025