Grupo Caminhadas Domingueiras é tema de reunião pública

Uma coisa é percorrer as ruas do Recife dentro de um carro todo fechado, como se fosse uma cápsula, com ar-condicionado, no conforto, mas apartado da cidade. A outra experiência, completamente diferente, é caminhar a pé pelas mesmas ruas, deparando-se com os problemas urbanos, mas também apreciando a beleza arquitetônica, vivenciando a história que ela abriga e descobrindo lugares interessantes. Um grupo que existe há 15 anos fazendo roteiros de caminhadas urbanas no Recife, o “Caminhadas Domingueiras”, foi tema de uma reunião pública na Câmara Municipal realizada na tarde desta quinta-feira (3) pela vereadora Cida Pedrosa (PCdoB).

A mesa da reunião foi composta pela vereadora Cida Pedrosa e pelo precursor e idealizador do grupo, o arquiteto Francisco Cunha. Ao abrir a reunião pública, a vereadora Cida pedrosa explicou a razão da sua iniciativa: “Este grupo é muito mais do que [a organização de] uma simples caminhada. Ele é um exemplo de como a gente pode usar a cidade a partir do hábito de caminhar. E de como podemos construir memórias a partir da vivência e do olhar”, disse. As caminhadas, segundo a parlamentar, mostram a cidade como realmente ela é. Diante disso, Cida Pedrosa informou que vai propor um projeto de lei para que a Caminhada faça parte do Calendário de Eventos Oficiais do Recife.

O precursor e idealizador do grupo, Francisco Cunha explicou como começaram as Caminhadas e comentou que “elas são uma construção com importantes contribuições para a cidade”. Em seguida, fez uma apresentação, no telão do plenarinho, de fotos das Caminhadas que registram a sua história. “O que descobrimos, andando por aí? Em primeiro lugar, detectamos que o caminho do pedestre estava detonado. As calçadas estavam acabadas”, afirmou. Na apresentação, ele contou a história do grupo de caminhadas e disse que começou quando ele escreveu um livro sobre o Recife. Além do texto, precisou fazer fotos para ilustrar os locais citados.

Quando foi fazer as fotos, Francisco Cunha percebeu que passou “25 anos dentro de um carro e fora da cidade, pois quem está dentro de um carro está fora da cidade”. Naquele dia, fez a primeira caminhada registrando as fotos. Mas, em seguida, convidou o amigo Plínio Santos para caminhadas nos finais de semana. Os percursos do dia, sempre aos domingos, eram definidos entre eles e terminavam sempre num bar. Depois, surgiu a necessidade de criação de um blog (“Recife passo a passo – o Blog das Caminhadas Domingueiras”) e de um perfil no Facebook.

De acordo com a história relatada, a expressão “Caminhadas Domingueiras” foi usada pela primeira vez há 15 anos, em 4 de fevereiro de 2010. Essa também é a data da primeira caminhada no formato atual, com dezenas de pessoas. Com a publicização, muitos adeptos foram surgindo a cada edição, o que fez com que Francisco Cunha organizasse as caminhadas para um único domingo por mês e com uma melhor logística do passeio. Ele estima que já foram percorridos cerca de 40 mil quilômetros ao longo desses 15 anos, o que é equivalente à circunferência da terra. O número de caminhantes varia de acordo com o percurso, mas vem crescendo a cada edição.

Francisco Cunha contou, ainda, que as Caminhadas são o germinal de um projeto de parque público que hoje é uma realidade no Recife. “O Parque Capibaribe [nas Graças] nasceu a partir das Caminhadas, pois muitas vezes a gente andava naquela região e não via o rio. Não víamos que o Capibaribe corta o Recife de Leste a Oeste. O rio sequer era visto na cidade”. Ele disse que, numa conversa com o então prefeito Geraldo Julio, foi relatado essa “ausência” do rio. “Da conversa, saiu a ideia do parque. Mas o parque só saiu realmente do papel porque o prefeito era Geraldo Julio e porque a secretária de Meio Ambiente era Cida Pedrosa”. Ele disse, ainda, que o mesmo ocorreu com o Parque dos Baobás, também nas Graças.

Depois de 15 anos de caminhada, Francisco Cunha disse que chegou a grandes aprendizados. Entre eles, os seguintes: “Descobri, em primeiro lugar, que caminhar é um ato revolucionário. Revolucionou minha visão da cidade, do mundo e da vida. Caminhar terminou provocando coisas que eu nem imaginava. Além disso, a viagem das descobertas não é descobrir novas paisagens, mas de ver [as velhas paisagens] com novos olhos”. Ele finalizou dizendo que o fato “de passar diversas vezes pelo mesmo canto [nas caminhadas] terminam ressignificando o lugar”.

Ao retomar a palavra, a vereadora Cida Pedrosa disse que o arquiteto Francisco Cunha realiza “um trabalho que traz contribuições belíssimas para a cidade” e defendeu que a ideia das caminhadas, que ajuda o poder público a tomar decisões e a pessoas a se apropriarem da sua cidade numa relação de pertencimento, seja mostrada em congresso. A parlamentar também convidou o arquiteto a “pensar, juntos, coisas para a cidade”, e que resultem na criação de legislações. “Precisamos pensar em soluções para essa questão das calçadas. Podemos pensar numa lei de adoção de calçadas, a exemplo da lei de adoção das praças, que já existe”, disse. Em seguida, o microfone foi aberto para participação das pessoas presentes na reunião pública.

 

Clique aqui e assista a reportagem do TV Câmara do Recife.

Clique aqui e assista a reunião pública: Caminhadas Domingueiras.

 

Em 03.04.2025.