80 anos da morte de Demócrito Souza Filho são lembrados em reunião pública

Uma reunião pública em memória dos 80 anos da morte do estudante Demócrito Souza Filho foi promovida pela vereadora Cida Pedrosa (PCdoB), na tarde desta segunda-feira (5), no plenarinho da Casa. Em 3 de março de 1945, Demócrito de Souza Filho, estudante da Faculdade de Direito do Recife, foi assassinado enquanto discursava numa manifestação cívica na sacada do Diario de Pernambuco. Ele tinha 23 anos de idade. “Há 80 anos, o tempo foi ferido em uma tarde de março. O silêncio da injustiça engoliu a voz ardente de um jovem revolucionário que usou sonhar alto demais para os ouvidos da tirania: o estudante Demócrito de Souza Filho”, destacou a parlamentar.

A vereadora Cida Pedrosa, ao abrir o evento, enfatizou o valor de sempre recordar a morte do estudante e que ele seja um exemplo para as novas gerações. “Seu corpo tombou na praça do Diario, aqui no centro do Recife, mas sua chama nunca se apagou. Demócrito era estudante da gloriosa Faculdade de Direito do Recife e o teatro da Faculdade carrega o seu nome. Ele segue vivo, o sonho em um mundo melhor. Demócrito é memória viva em cada um de nós. Ele vive nas lutas de cada estudante que se ergue contra a opressão. Vive na juventude negra periférica que resiste à bala e ao abandono. Vive nas mulheres que gritam por justiça e nos trabalhadores. Fazemos desse momento não uma cerimônia, mas um ato político, um compromisso de vida com a verdade, justiça, liberdade e esperança. Que sua morte nunca seja em vão”.

Cláudio Ferreira, representando a Ordem de Advogados do Brasil – Seccional Pernambuco (OAB-PE), ressaltou que era preciso retornar a luta democrática. “E retornar diuturnamente. Porque a luta democrática passa por sistemáticos ataques que podem, no limite, tornar a democracia brasileira uma miragem. Uma democracia que, diga-se de passagem, é bastante imperfeita. Mas, sem ela, nós vamos cair no lado obscuro da política que o Brasil passou. Nós temos duas experiências muito duras: a ditadura do Estado Novo, que ceifou a vida de Demócrito, e a ditadura militar que ceifou a vida de inúmeras pessoas. A OAB será e continuará sendo o bastião de defesa da democracia. Porque sem democracia não há justiça, sem democracia não há defesa dos direitos das pessoas”.

Mikelly Tawane Venceslau, presidente do Diretório Acadêmico Demócrito de Souza Filho, da Faculdade de Direito do Recife, enalteceu o legado do estudante e lamentou que muitos ainda não acreditam no que aconteceu há 80 anos. “É importante manter a memória dele viva porque nós vemos constantemente ataques às nossas instituições democráticas. São pessoas que a todo momento tentam subverter a nossa democracia. Que nós, enquanto juristas, saibamos que devemos estar sempre na linha de frente como um defensor ativo do estado democrático de direito e que não esqueçamos jamais do legado que Demócrito de Souza Filho deixou para a gente. Esse jovem que deu a sua vida por uma causa e que, infelizmente, há pessoas hoje em dia que ainda negam o que aconteceu”.

Luciana Grassano, representando a Academia Pernambucana de Letras Jurídicas (APLJ), enfatizou o valor de preservar a memória e pontuou  que os alunos deveriam conhecer mais os propósitos de Demócrito de Souza Filho. “A memória que faz com que essa dor se mobilize e as novas gerações entendam e tenham a compreensão da importância da gente, como sociedade, de se impor e exigir a nossa condição de cidadão garantida pelas nossas instituições. A maior parte dos estudantes não conhece a história de Demócrito. É importante que o Diretório Acadêmico leve adiante o nome dele. Demócrito tinha esse clamor pela democracia, pela liberdade de expressão e pela luta por um país mais justo, mais fraterno, solidário e com mais justiça social”.

Marcelo Santa Cruz, representando a Secretaria de Direitos Humanos e a Comissão de Justiça e Paz, disse que o estudante era uma inspiração e contou como o Diretório da Faculdade recordava àquele dia. “Quando era estudante, na data de 3 de março, fazíamos uma visita ao cemitério onde está o túmulo de Demócrito de Souza Filho. No retorno, a gente se reunia, geralmente os estudantes do primeiro e segundo anos, e tínhamos todo o interesse de fazer uma reunião na sala e conversávamos sobre a história da democracia e associava a luta de Demócrito contra a ditadura do Estado Novo e com a ditadura que havia sido implantada em 1964”.

Fernando Araújo, do Memorial da Democracia, pontuou que a democracia deve ser alimentada diariamente. “A democracia é como um processo, como algo em que a gente viva num ambiente de mais harmonia. Essa é luta que devemos entoar e essa foi também uma luta de Demócrito que deu sua vida combatendo a ditadura. A ditadura que não foi essa mais recente. Foi uma ditadura mais remota, que vinha lá do Estado Novo, e a gente tem que ter consciência de que esse país, permanentemente, vive renovando apelos à ditadura. E no início de 2023 quase vinga. Agora, a luta tem que ser para que não haja anistia porque a gente precisa encerrar esse capítulo da história do Brasil em que sempre se tenta dar um golpe com apoio de militares, empresários e civis”.

Ao final do evento, Cida Pedrosa entregou um certificado de um voto de aplauso ao Diretório Acadêmico Demócrito de Souza Filho. Também estiveram presentes, Adriele Vitória, presidenta da Federação Nacional de Estudantes de Direito; além de João Mamede, representando a União de Pernambuco (UEP) Cândido Pinto.  

Clique aqui e assista a reportagem do TV Câmara do Recife.

Clique aqui e assista a pública em memória dos 80 anos da morte do estudante Demócrito Souza Filho.

Em 05.05.2025