Audiência pública discute efeito de exposição às telas no desenvolvimento infantil

“Tela não é brinquedo: o impacto da exposição precoce às telas no desenvolvimento infantil”. Foi esse o tema de uma audiência pública nesta quinta-feira (11) pela Frente Parlamentar em Defesa da Primeira Infância da Câmara do Recife, que tem como representante a vereadora Flávia de Nadegi (PV). No evento, realizado no plenarinho da Casa de José Mariano, representantes da gestão municipal e de órgãos ligados aos direitos da infância, além de integrantes da sociedade civil, discutiram os problemas e as consequências do uso de telas e redes sociais por crianças.

Além da vereadora, compuseram a mesa da audiência a secretária-executiva da Primeira Infância do Recife, Luciana Lima; a promotora de Justiça e coordenadora do Centro de Apoio Operacional (CAO) da Infância e Juventude, Aline Arroxelas; a juíza do Trabalho Maria Odete Araújo; a presidente do Conselho Municipal de Defesa e Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente (COMDICA), Dora Pires; o delegado de Polícia Civil de Pernambuco e titular da Delegacia Especializada de Crimes contra a Criança e o Adolescente (DECCA), Geraldo Costa; o advogado especialista em Direitos da Infância e Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB-PE), Geraldo Nóbrega; a representante da Rede Primeira Infância de Pernambuco (REPI), Solidade Menezes; a coordenadora do Fórum em Defesa da Educação Infantil de Pernambuco (FEIPE), Célia dos Santos; a empresária do setor de saúde, Dulce Gayoso; e a influenciadora digital Katarina Gouveia. A vereadora Ana Lúcia (Republicanos) também participou do debate.

Durante o evento, foram repercutidos estudos e pesquisas que associam problemas de desenvolvimento e ocorrência de transtornos como ansiedade e depressão ao uso precoce e excessivo de telas e redes sociais por crianças e adolescentes. Temas como os crimes contra crianças e adolescentes, o papel da sociedade, da família e do Estado nos cuidados com a criança, a necessidade de fazer valer a legislação de defesa da infância e a interdisciplinaridade das políticas públicas para a primeira infância também estiveram em debate.

Para Flávia de Nadegi, oferecer o uso de telas como a de aparelhos celulares e smartphones para crianças tem se tornado um hábito comum entre pais e cuidadores, o que tem levado ao adoecimento de crianças e adolescentes. Segundo ela, mesmo quando não existe uma rede de apoio que auxilie no cuidado das crianças, é preciso ter responsabilidade.

“Teve um boom das redes sociais entre 2010 e 2012 – e, dez anos depois, a gente tem a primeira nota técnica de que o SUS tem mais crianças e adolescentes até 17 anos com mais transtornos de ansiedade e depressão do que adultos”, lembrou. “E, ‘coincidentemente’, isso se deu após o advento das redes sociais. Não pode ser uma coincidência. Então, a gente precisa colocar claramente que tela e criança não combinam”.

Na audiência, a secretária-executiva da Primeira Infância do Recife, Luciana Lima, citou alguns dos malefícios da exposição às telas, como a falta de socialização e a perda do direito de brincar. Ela mencionou alguns avanços legislativos, como a proibição do uso de redes sociais para crianças de até 12 anos, e disse que a Prefeitura do Recife aposta na melhoria urbanística do município, a partir de uma visão que fomenta “cidades saudáveis, cidades boas, para serem vividas e convidativas para todas as crianças e para quem está no entorno dela”. De acordo com a secretária-executiva, já foram criadas 12 Praças da Infância na capital.

“A Prefeitura do Recife oportuniza, a partir de investimentos com praças, com parques, com programas de parentalidade positiva, e incentivando muito o brincar, que essas pessoas consigam usar a tela como um benefício, e não como um malefício”, disse.

A presidente do COMDICA, Dora Pires, destacou que a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que crianças até dois anos de idade não tenham nenhum contato com telas e que crianças e adolescentes a partir dessa idade tenham contato com limites que variam entre uma e três horas diárias. Pires pediu “bom senso aos pais” e advertiu que o uso de telas expõe as crianças a um excesso de dopamina, um hormônio ligado ao prazer, o que pode criar situações de dependência e problemas de desenvolvimento.

“Esse excesso de acesso às telas cria uma doença chamada nomofobia, que é o medo de ficar sem o aparelho [celular]. Então, as crianças ficam irritadas, com ansiedade, com desatenção, com dificuldade de aprendizagem, com obesidade, com problemas oftalmológicos”, explicou. “Assim, é uma coisa que ou a gente presta atenção e dar um basta, ou a gente vai criar crianças adoecidas para o resto da vida”.

A representante da REPI, Solidade Menezes, foi outra participante da audiência a alertar para os problemas de saúde mental e desenvolvimento que as telas podem causar.  De acordo com ela, “mesmo que seja aparentemente satisfatório estar ali na frente da tela, está se perdendo três processos da integridade humana”, isto é, a integração social, o movimento do corpo e o contato com a realidade do mundo ao redor.

“Essa preocupação nossa com tempo de tela é porque abala toda a plasticidade cerebral e o desenvolvimento integral da criança. Então, se o cérebro está passando por uma transformação sadia, seremos adultos sadios”, defendeu.

Clique aqui e assista a reportagem do TV Câmara do Recife.

Clique aqui e assista a audiência pública "Tela não é brinquedo: o impacto da exposição precoce às telas no desenvolvimento infantil".

Em 11.09.2025