Audiência debate o Recife na luta pelo feminicídio zero

Uma audiência pública para discutir o tema “Recife na Luta pelo Feminicídio Zero” foi realizada, na manhã desta quarta-feira (15), no plenarinho da Câmara Municipal, sob iniciativa do vereador Felipe Francismar (PSB). O parlamentar salientou que o evento se faz necessário diante do crescente número de casos de violência contra a mulher. “O espaço tem por objetivo ampliar o diálogo entre Poder Público, sociedade civil e entidades de proteção às mulheres, buscando fortalecer políticas de prevenção, acolhimento e combate à violência de gênero”.

O vereador Felipe Francismar, ao iniciar o evento, lamentou que a cada seis horas uma mulher é vítima de feminicídio no Brasil. O país ocupa o quinto lugar que mais mata mulheres no mundo. O parlamentar pontuou ser essencial a junção da sociedade e dos poderes públicos visando um melhor combate para a violência contra a mulher. “É um dado alarmante que precisa nos mobilizar e acredito que é fundamental que o poder público, o judiciário e a sociedade civil organizada trabalhem juntos. Cada um de nós tem um papel essencial nesse combate. O poder público precisa garantir políticas de proteção e acolhimento às mulheres, investir em capacitação e fortalecer os órgãos de segurança, assistência social e saúde. O judiciário, por sua vez, deve agir com agilidade e rigor aplicando a lei e prevenir as situações de risco acompanhando de perto os casos que demandam atenção”, disse.  

“Também vejo a sociedade civil organizada como uma peça chave. E as instituições de ensino têm um papel na conscientização na prevenção e na educação, desenvolvendo projetos e campanhas que transformam a realidade das nossas comunidades”, completou Felipe Francismar.

O parlamentar salientou que a educação e a conscientização devem ser instrumentos contínuos de prevenção e citou um projeto de lei, de sua autoria, de número 310/2025, Institui o “Dia Municipal de Luta pelo Feminicídio Zero – Lei Patrícia Wanderley” no Calendário Oficial de Eventos do Município do Recife. “A matéria está em tramitação nesta Casa com a data que vai fortalecer as ações de conscientização, prevenção e educação sobre o tema. Acredito que nenhum setor pode agir sozinho. A união de todos  faz a diferença na construção de uma sociedade mais segura e justa para todas as mulheres".

Andréa Rodrigues, presidente do Instituto Banco Vermelho, parabenizou a iniciativa do vereador e contou como surgiu a ideia do Instituto. Na Câmara Municipal do Recife, a instalação do equipamento foi realizada nesta terça-feira (15). “Nós temos um banco que foi instalado ontem, na frente da Casa de José Mariano, que é a primeira Câmara Municipal, a receber o projeto. Que essa iniciativa seja um marco na construção de políticas públicas que salvem vidas de mulheres. O Instituto nasceu da transformação de um luto em luta. Perdi a minha melhor amiga para o feminicídio, no ano de 2018. E, junto com Paula Limongi, que também perdeu uma amiga para esse crime bárbaro, nos unimos e hoje dedicamos integralmente à prevenção ao feminicídio porque nada traz uma mulher morta de volta”.

A presidente do Instituto Banco Vermelho ressaltou que a iniciativa da ação começou no Recife e que era necessário implantar uma campanha direcionada aos homens. “A iniciativa nasceu aqui no Recife, no dia 25 de novembro de 2023, quando nós queríamos apenas fazer uma homenagem às nossas amigas que tinham sido assassinadas. O banco é um ícone democrático, está nas principais vias públicas da cidade e está também na periferia. A cor vermelha representa o sangue derramado por tantas mulheres", afirmou. "Os homens agressores, em sua maioria, não se reconhecem como agressores e, menos ainda, como criminosos”, finalizou Andréa Rodrigues.

Paula Limongi, vice-presidente do Instituto Banco Vermelho, explicou as diversas formas de como as mulheres podem pedir ajuda no Recife. “A vítima pode ir ao Centro Clarice Lispector, que é um centro de acolhimento da mulher, e pode contar com psicóloga e advogada. Na Defensoria Pública tem um núcleo de apoio que disponibiliza uma defensora para ir com a vítima fazer o BO [boletim de ocorrência]. Na Defensoria Pública, da mesma forma. O Tribunal de Justiça de Pernambuco possui a Coordenadoria da Mulher, o Ministério Público tem um núcleo e a Secretaria da Mulher de Pernambuco recebe mulheres vítimas na rua do Bom Jesus, bairro do Recife Antigo”.

O juiz Francisco Tojal, presidente do Fórum Nacional de Violência Doméstica, pontuou que os homens precisam de conscientização e que a educação é imprescindível a partir das escolas. Tojal detalhou que, no ano de 2024, o país recebeu 988.000 novos processos de violência contra a mulher. “Nós cansamos de ser opressores em potencial. Nós queremos ser bons filhos, queremos ser companheiros que demonstram amor, carinho e cuidado e é por isso que é tão importante esse papel de prevenção e de educação e o papel que o Banco Vermelho tem feito nos canteiros de obras. Nas escolas, o Judiciário de Pernambuco também tem feito uma ação de conscientização porque antes de pensarmos em penas mais severas, nós precisamos pensar em conscientizar as crianças. A criança de hoje é o adulto de amanhã”, destacou.

A delegada Larissa Souza, representando a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher, disse que as delegacias da mulher têm um papel importante de atuar de forma preventiva e contou como a pasta pode ajudar na conscientização sobre o tema nas escolas. “O nosso departamento tem muitos trabalhos de forma informativa, de forma educativa, e promove palestras nas escolas porque é onde a gente tem que estar realmente ensinando aquela criança o que é violência. Até porque a criança reproduz o que ela vem dentro de casa. Por meio de ações preventivas, é que a gente vai conseguir chegar nesse tão sonhado feminicídio zero”.

Maria Chaves, jornalista e empreendedora, disse que rompeu o ciclo de violência com um relacionamento abusivo durante cinco anos. Ela afirmou que após adotar a medida protetiva (que visa proteger a vítima de violência doméstica ou familiar) ainda fica apreensiva. “A medida é uma ferramenta importante, mas eu quero saber o depois. Eu tenho o papel da medida nas mãos, o boletim de ocorrência nas mãos, mas a delegada precisa dar andamento urgente. Um exemplo foi a de uma mulher que foi agredida por um final de semana inteiro. Ela ligou para delegacia e disseram que estavam sem viatura disponível. Cadê urgência na nossa proteção? Só vai ter feminicídio zero quando for urgência. E, mulheres, falem. Por mais que seja doloroso e difícil de falar, peçam ajuda e não se acomodem”.

Adriane Mendes, gerente de Governança Ambiental e Social do Grupo Ser Educacional/Uninassau, teceu detalhes de como os trabalhos são desenvolvidos na unidade educacional, a exemplo do projeto Cadeira Vazia. Em cada sala de aula da instituição, há uma cadeira vazia sinalizada com a mensagem do projeto, representando uma mulher vítima de feminicídio que poderia estar se capacitando naquele ambiente. A professora levou uma cadeira, exemplo do projeto, para ser vista no plenarinho.  

“Nós acreditamos que a educação é a grande mola transformadora da sociedade. Apesar de ser um caminho longo, a educação não é fácil e não se faz da noite para o dia", destacou. Ela disse que a cadeira vazia mostra que muitas mulheres não perdem só uma aula. "Perdem muito mais do que isso. A cadeiras trazem uma frase dizendo que uma aluna poderia estar sentada aqui, mas que não está porque foi vítima de feminicídio. Levamos também esse projeto para empresas e jogos universitários”.

 

Clique aqui e assista a reportagem do TV Câmara do Recife.

Clique aqui e assista a audiência pública: Recife na Luta pelo Feminicídio Zero.

 

Em 15.10.2025