Políticas públicas às mães atípicas são debatidas em audiência pública

Uma audiência pública com o objetivo de tratar o tema “Vamos cuidar de quem cuida: Políticas Públicas de Suporte e Atendimento às Mães Atípicas”, foi realizada, na manhã desta quinta-feira (16), no plenarinho da Câmara Municipal do Recife, que ficou repleto de mães, filhos, representantes da sociedade civil e poder público. A iniciativa do evento partiu da vereadora Ana Lúcia (Republicanos). “Essas mulheres, que dedicam suas vidas ao cuidado diário de filhos com deficiência, frequentemente enfrentam uma sobrecarga física, emocional e financeira que nem sempre é devidamente reconhecida pela sociedade e pelo poder público”.

Ana Lúcia explicou que em um estudo intitulado de “O perfil socioeconômico de mães de pessoas com deficiência”, envolvendo 40 mães de filhos com diferentes tipos de deficiência (visual, física, intelectual), apontou que essas mulheres têm menor escolaridade, renda baixa e grande dificuldade em conciliar trabalho e cuidado.

Em outro estudo repercutido pela parlamentar, publicado na Revista Brasileira de Estudos Populacionais, foi retratado que as mães de filhos com deficiência intelectual têm, em média, 17 pontos percentuais a menos de chance de estarem empregadas quando comparadas às mães de filhos sem deficiência.

“Há dados que revelam que 70% das mulheres interrompem suas carreiras após o diagnóstico ou nascimento de um filho com deficiência. Esses indicadores mostram que o cuidar perpassa dimensões econômicas, emocionais, de saúde e cidadania", salientou a parlamentar. "Não estamos pedindo favores: estamos reivindicando justiça. Se 8,9% da população pernambucana vive com deficiência, é também obrigação do município garantir que quem cuida tenha respaldo. Isso precisa mudar. E hoje convido o Recife a dar esse passo”, concluiu Ana Lúcia.

Andreza de Castro, da Associação Mães e Anjos Azuis, disse que iniciativas, como a audiência pública, são importantes para obter encaminhamentos. “A gente precisa mudar a realidade a partir do debate da discussão pública. Temos que continuar olhando pelos nossos filhos, mas se não olhar para a gente, quem é que vai cuidar? Estamos cansadas”, lamentou.

Juliana Alves de Sousa, representante das Mães Atípicas, disse que tem quatro filhos, dos quais três são autistas. Bastante emocionada, ela descobriu que tinha câncer de mama e o marido deixou de trabalhar para cuidar dos filhos. “Eu não vivo. Eu tento sobreviver. Eu não saio e a ansiedade, e também a depressão, tomam conta de mim todos os dias. Como vamos cuidar de nossos filhos se não podemos cuidar de nós mesmas? Queremos políticas públicas que cheguem à nossa realidade”.

Léa Barros, psicóloga clínica especializada no atendimento a mães atípicas, explicou que quando o ser humano passa por situações que afetam o seu biopsicossocial, há um alto índice de ação suicida. “Os dados trazem que uma mãe atípica, ou um cuidador, passa pelo processo de ansiedade equivalente a um soldado na guerra”.

Joelson Rodrigues, representante do CRAS / Secretaria de Desenvolvimento Social do Recife, disse que a pasta integra o Sistema Único da Assistência social com a Política da Assistência Social e explicitou como o trabalho é desenvolvido.

“Temos uma rede com 16 CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) em todas as RPAs (Regiões Político-Administrativas). E vamos inaugurar o 17º CRAS. O Centro é a porta de entrada de atendimento de referenciamento das famílias. Então, as demandas sociais, acesso aos serviços e benefícios, é o CRAS que ajuda as famílias. Lançaremos um edital para as OSS (Organizações da Sociedade Civil), próximo mês, para cofinanciamento na execução do serviço de convivência e fortalecimento de vínculos”.

Ana Magalhães, representante da Secretaria da Mulher do Recife, pontuou os projetos realizados pela pasta como os da área de empreendedorismo.

“Existem vários centros de atendimento às mulheres de centralizados em todas as RPAs (Regiões Político-Administrativas), com ações voltadas para o fortalecimento sociopolítico e econômico de mulheres com projetos na área de empreendedorismo. Há o Centro de Promoção de Direitos das Mulheres Marta Almeida com cursos, oficinas e eventos voltados para a qualificação profissional. Além disso, acho que é preciso juntar com outras secretarias como Assistência Social, Saúde e Trabalho”.

Dalva Cabral, promotora de Justiça do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), anunciou uma nova campanha intitulada “Sou ponte, não barreira”. A iniciativa, em combate ao capacitismo revelado em frases e condutas, é do Núcleo da Pessoa Com Deficiência (NPCD) do MPPE.

“É preciso que essa causa seja vista. No próximo dia 24, na Avenida Rio Branco, localizada no Bairro do Recife, estaremos com uma campanha de adesivação voluntária. E vamos lançar também a campanha nas escolas, com mensagens nos marcadores de livros. Vamos falar sobre capacitismo. Onde é que a gente escuta e reproduz? E onde é que os nossos pais estão errando na nossa condução de quebra da igualdade e da isonomia entre todas as pessoas humanas?”.

Presente na mesa do evento, o vereador Tadeu Calheiros (MDB) salientou que a gestão municipal tem avançado com a abertura de núcleos de desenvolvimento infantil e sugeriu desonerações para empresas que contratem mães atípicas.

“Quando a gente fala que é preciso ter oportunidade, o que a gente pode fazer como poder público? A gente pode incentivar empresas, por exemplo, com desonerações, para que contratem mães de pessoas atípicas. Isso estimula as empresas para que elas tragam contratos com um olhar diferenciado, oferecendo uma flexibilidade de horário diferente. São várias as ações que precisam ser feitas e estamos aqui pensando conjuntamente. A luta que vocês trazem aqui precisa ser ouvida”.

O vereador Agora É Rubem (PSB) também fez uso da palavra e parabenizou a iniciativa da vereadora Ana Lúcia. Ao final das falas da mesa, o público presente pôde expor sugestões e tecer reclamações. Logo após, Ana Lúcia informou que documentos poderão ser elaborados e que irão ser remetidos aos órgãos competentes, com base no que foi dito pelos participantes.

“O grito de vocês é que vai repercutir em requerimentos, ofícios e encaminhamentos para a gente se juntar e avançar. É o papel de uma Casa Legislativa. A audiência é um primeiro momento de escuta. Vamos acolher as ideias, falas e depoimentos de vocês, a exemplo do atendimento de neurologista na clínica Lessa de Andrade. Temos ainda a formação continuada específica e a humanização aos profissionais da que atuam na educação e nos CRAS. Vou conversar também com o vereador Tadeu Calheiros para analisar as demandas e formar caminhos resolutos”.

 

Clique aqui e assista a reportagem do TV Câmara do Recife. 

Clique aqui e assista a audiência pública: Vamos cuidar de quem cuida: Políticas públicas de suporte e atendimento às mães atípicas.

 

Em 16.10.2025