Envelhecimento dos homens das periferias é tema de reunião pública na Câmara
Segundo Rinaldo Junior o debate na Casa de José Mariano vai servir não apenas para a criação de novas matérias legislativas, mas para dar mais atenção à questão do envelhecimento masculino. "Praticamente, a gente não discute esse tema na sociedade e é importantíssimo. Através da pesquisa de Acioli, que apresentou alguns números aqui, a gente espera encaminhar na Câmara projetos de lei e requerimentos – mas, principalmente, acender essa luz, pegar esse radar, essa antena, para que a gente possa debater esse tema todo ano. Homens também envelhecem e tem os problemas usuais, de sempre".
José Maria Silva, que além de presidir a Comissão da Pessoa Idosa da OAB/PE é membro do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa do Recife (COMDIR), reforçou a necessidade das informações científicas para as ações do poder público. “Não se faz política pública sem estatística. Então, foi uma oportunidade que a Câmara ofereceu para que nós tivéssemos conhecimento desses dados trazidos pelo senhor Acioli Neto”, afirmou.
Envelhecimento dos homens - A pesquisa foi apresentada pelo sociólogo que a coordenou, Acioli Neto. O levantamento foi realizado nas seis Regiões Política-Administrativas (RPA) do Recife, com 200 homens acima de 60 anos sobre qualidade de vida, saúde e bem-estar. O objetivo foi disponibilizar informações que possam ser utilizadas na elaboração de Políticas Públicas dirigidas ao envelhecimento masculino no Recife.
A pesquisa buscou identificar espaços de convivência e entretenimento de homens com 60 anos e mais, nas comunidades da periferia do Recife. Constatou-se que há poucas associações de moradores com espaços de convivência. A maioria tem atividades esporádicas ou apenas eventos culturais/festas. Vários espaços que poderiam ser úteis para atividades de idosos estão inativos ou fechados. E mesmo quando há eventos, é baixa participação masculina de 60 anos e mais, pois há predominância feminina nas atividades.
O perfil do recifense com 60 anos e mais, na periferia é o seguinte, de acordo com a pesquisa: 20,5% moram sozinhos; 27% moram com uma pessoa; 18%, com duas; e 34% com três ou mais. A escolaridade é de 7.5% com ensino fundamental completo; 37.5% com fundamental incompleto; 32% com ensino médio completo; 12.5% com médio incompleto; 4% tem nível superior completo; 3.5%, superior incompleto; 1% tem pós-graduação e 1% também é analfabeta.
Ainda de acordo com a pesquisa, a renda dos entrevistados, é de 52.5% ganhando até um salário mínimo por mês; 32% ganham até dois salários mínimo e 7% ganham até três. Acima de três mínimos estão 5% dos entrevistados e, sem renda, 3.5%. A fonte de renda é, em grande parte, a aposentadoria (36.5%), trabalho informal (34.5%), trabalho formal (24%). Apoiados pelas famílias estão 2.5%. Não informaram, 13.5%. Entre os que declaram, a situação financeira é ótima para apenas 1%; é boa para 15%; é regular para 61.5% e ruim e péssima para 16%.
O lazer dos idosos masculinos, na periferia do Recife, é distribuído na seguinte forma, conforme o levantamento: reuniões com amigos (71.5%); vai para bares e restaurantes, 46%; faz caminhadas, 42.5%; faz atividades culturais, 42%; jogam cartas ou dominó, 39.5%; faz exercícios físicos ou vai a academias, 26.5%. Nesse quesito da pesquisa, os entrevistados responderam a mais de uma atividade. A distribuição de outras formas de lazer é: esportes (assistem ou praticam), 76%; atividades ao ar livre, 9.5%; expressões artísticas, 4.8% e lazer audiovisual ou digital, 9.5%.
Entre os entrevistados, 80% disseram conhecer os direitos da pessoa idosa e 20%, não. Da mesma forma, 77% disseram ter acesso a programas de inclusão. Os serviços para idosos que eles conhecem no Recife são: Hospital da Pessoa idosa (89%), os centros de Referência de Assistência Social (CRAS) da comunidade (89%), a promotoria pública (82%), a Delegacia do Idoso (79%), canais de denúncia (dique 100,180 e ouvidorias), 64%; casas de acolhimento, 59%; Centros de Referência Especializado de Assistência (CREAS), 57%; conselhos Municipal e Estadual da Pessoa Idosa, 36%; e Centros de Convivência da Pessoa Idosa, 31%.
Para os entrevistados, os desafios que enfrenta no dia a dia são: mobilidade (97%), fata de oportunidade de trabalho (96%), discriminação (96%), isolamento social (86%), falta atividade de lazer (78%). Outros desafios identificados são: saúde e assistência social (31%), acessibilidade (31%), políticas públicas e representatividade (25%) e cultura e lazer (25%). Nesses itens, os entrevistados também puderam apontar mais de uma resposta.
A grande maioria não possui plano de saúde privado, frequenta clínicas de bairros e usam o SUS. Para eles, a saúde estaria regular e quase 80% disseram que têm alguma doença crônica. Quase 60% disseram que fazem exames regulares. Eles falaram que, entre as doenças mentais, sentem depressão e ansiedade. Fazem uso de bebida alcóolica, 60%. Os que disseram que usam bebidas alcoólica, só 4% disseram que bebem todos os dias. Mais da metade bebem nos finais de semana. A grande maioria não participa das atividades nas comunidades.
Em síntese, os dados da pesquisa mostram que o envelhecimento no Recife é uma realidade crescente e estrutural. E o envelhecimento masculino enfrenta muitos desafios. “As informações que a pesquisa nos trouxe nos levam a refletir. De um modo geral, a sociedade não presta atenção nos idosos, mas o homem idoso é mais invisibilizado ainda. Os homens enfrentam uma série de desafios, sobretudo nas comunidades”, disse o sociólogo Acioly Neto, que coordenou o levantamento.
De acordo com o sociólogo, é preciso “trazer visibilidade para o envelhecimento masculino. Os homens idosos estão morrendo antes das mulheres [idosas]. É preciso termos uma sociedade em que homens e mulheres envelheçam juntos. Não se deve tirar a visibilidade da velhice das mulheres, mas precisamos trazer à tona esse tema que ainda nem sequer é visto”.
Clique aqui e assista a reportagem do TV Câmara do Recife.
Clique aqui e assista a reunião pública: Apresentação da Pesquisa “Homens que Envelhecem”, realizada pela ONG Instituto Brasileiro de Voluntariado (IBV), com o apoio do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa do Recife (Comdir).
Em 03.12.2025