Mundo Livre S/A é homenageada em reunião solene

Pioneira do Movimento Manguebeat, que causou uma verdadeira revolução na música popular brasileira, junto com Chico Science & Nação Zumbi, a Mundo Livre S/A é uma banda icônica do Recife, e também um dos grupos mais importantes da história das músicas pernambucana e brasileira. Sua trajetória, ao longo de 40 anos de existência, está profundamente entrelaçada à identidade cultural da cidade, motivos pelos quais foi homenageada em reunião solene realizada na noite desta quarta-feira (10), na Câmara Municipal. A iniciativa foi da vereadora Liana Cirne (PT) e a presidência da solenidade foi do vereador Osmar Ricardo (PT).

Ao fazer o discurso de saudação, Liana Cirne destacou: “Dez álbuns, um DVD, melhor grupo no Prêmio da Música Brasileira, dois prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte. Estamos falando do grupo que ousou revolucionar o cenário da música pernambucana, a Mundo Livre S/A. Estamos hoje celebrando quatro décadas de resistência cultural, de artistas que mudaram definitivamente a forma como o Brasil olha para Pernambuco, por meio de ousadia e inovação estética“

A vereadora sublinhou que a trajetória revolucionária da banda “é um legado de um movimento encabeçado por Fred Zero Quatro, Pedro Diniz, Tony, Léo D e Pedro Santana que não pensavam apenas em fazer música, mas em questionar, provocar e reinventar. A Mundo Livre S/A surge como parte fundamental do movimento que transformou nossa identidade musical nos anos 90, o Manguebeat. Podemos dizer, que o Manguebeat nunca pediu licença. Não aceitava estereótipos. Fincou antenas parabólicas na lama do mangue ao dizer para o mundo que a cultura popular pernambucana é local e global”.

A parlamentar observou que a Mundo Livre S/A teve a  ousadia de misturar maracatu com punk, cavalo-marinho e coco com funk, cavaquinho com rock. “Como não falar de Chico Science e Nação Zumbi, e também dos nomes que passaram pelo grupo, como Otto, levando para o mundo a mensagem que vem de Pernambuco? Foi dentro desse furacão que a Mundo Livre S/A ocupou um lugar muito importante de reflexão política, crítica afiada e sarcasmo inteligente”.

De acordo com a vereadora, as letras das músicas da Mundo Livre S/A “escancaram desigualdades, denunciam hipocrisias, defendem a liberdade e enfrentam qualquer forma de autoritarismo. A importância da Mundo Livre S/A para Pernambuco vai além dos discos, dos palcos e das turnês. A banda ajudou a afirmar a autoestima cultural do nosso povo. Disse ao Brasil e ao mundo que não somos periferia de nada: somos centro e somos vanguarda”.

Celebrar os 40 anos da Mundo Livre S/A, para Lina Cirne, é reconhecer uma história de compromisso com a arte, com a cidade e com o pensamento crítico. “A Mundo Livre S/A reafirmou que cultura é política, que arte é cidadania e que música é transformação social. E, por isso, prestar homenagem a essa banda é prestar homenagem à própria identidade pernambucana, que é crítica, inquieta, múltipla e profundamente criativa. Que continuemos como a Mundo Livre S/A sempre fez, com os pés fincados no mangue e as antenas ligadas para o futuro”.

Após o discurso, a vereadora Liana Cirne fez a entrega de um certificado à Banda Mundo Livre S/A, em homenagem aos 40 anos de história. O grupo foi representado pelo compositor e vocalista, Fred Zero Quatro. Na sequência, ele ocupou a tribuna e fez suas colocações, quando lembrou do início do grupo, em 1984. “Começamos como uma banda de garagem, no bairro de Candeias, tudo na maior precariedade. Um filme passa na minha cabeça. Nós tínhamos que fabricar tudo, montar guitarras, fabricar caixa de som, amplificador. Era uma coisa meio utópica, todo mundo tinha suas correrias, mas não conseguia se desligar desse sonho de compor coisas próprias, autorais. Eu venho de uma formação como jornalista, estava trabalhando na televisão, tinha convites. Mas precisei fazer uma escolha difícil.”

Fred Zero Quatro rememorou que a época, os anos 1980, eram de sonho. “O lema era: ou você muda o lugar ou muda de lugar. Nós não tínhamos um ambiente favorável. Não tínhamos empresário, não tínhamos mídias, não tínhamos espaços para tocar. As primeiras apresentações, quando conheci o Chico Sciense, e os demais, eram em locais que nós mesmos inventávamos. A primeira festa foi no Alto da Sé, em Olinda. A segunda foi na Madalena; e só depois chegamos à Zona Sul. Foi então que Roger de Rennor criou a Soparia, em Boa Viagem, e aglutinou mais público. Hoje, vivemos num ambiente cultural que tem vários legados. Hoje existe uma recepção natural a tudo o quanto é ideia nova. E tudo o que sai daqui do Recife é recebido com mais facilidade do que tivemos,”.

O compositor disse que “é bacana ter hoje até e uma biografia escrita por um pesquisador carioca, que é apaixonado pela banda e que conseguiu resgatar todas as nossas fases. Também fizemos a abertura principal da Bienal de São Paulo; seremos homenageados pela Escola de Samba Grande Rio no carnaval do próximo ano e estaremos pela primeira vez no festival Lollapalooza, que é uma das maiores vitrines da música planetária. Estaremos no palco principal do festival em março. É uma grande honra termos a institucionalidade recifense prestando essa homenagem. Ainda bem que a institucionalidade recifense também reconhece este momento”.

O jornalista Renato L, que fez a cobertura das primeiras apresentações da banda, foi convidado a ocupar a tribuna. Ele disse que era importante a homenagem feita pela Câmara do Recife, através da vereadora Liana Cirne. “É uma banda muito coerente e corajosa em termos políticos”. O produtor Roger de Renor, que também falou, disse que a banda tem importância primordial da música pernambucana e do Brasil. “É bom ver esse reconhecimento da Câmara do Recife a uma das bandas que tem posição política, pois andamos necessitados disso”

Além da vereadora Liana Cirne e do vereador Osmar Ricardo, a mesa de honra foi composta pelo compositor e vocalista da Mundo Livre S/A, Fred Zero Quatro; o secretário Executivo de Gestão da Secretaria de Cultura do Recife, Dirceu Marroquim; e a coordenadora de Operações de Estudo e Inovação da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Luciana Marques. Ao final, o vereador Osmar Ricardo fez uma breve análise da reunião solene que presidiu e convidou os presentes para acompanhar o Hino da Cidade do Recife.

Clique aqui e assista a reportagem do TV Câmara do Recife.

Clique aqui e assista a reunião solene: Homenagem aos mais de 40 anos da banda Mundo Livre S/A.

Em 10.12.2025.