A favor de peça teatral, Ivan Moraes critica uso político da censura

O debate em torno da encenação da peça ‘O Evangelho Segundo Jesus Cristo, Rainha do Céu’ no Festival de Inverno de Garanhuns levou o vereador Ivan Moraes (PSOL) à tribuna da Câmara do Recife nesta quarta-feira (01), durante a reunião plenária. Segundo o parlamentar, as tentativas de censura ao espetáculo – um monólogo com a atriz trans Renata Carvalho – podem ter sido motivadas por questões eleitorais. “Acho que a comunidade cristã tem toda a legitimidade de assistir à peça e dar sua opinião. Mas repudio toda e qualquer tentativa de se obter ganhos políticos com a censura. Não podemos mais usar da religiosidade legítima das pessoas para fins eleitorais.”

Ao se pronunciar no plenário, Ivan Moraes citou diversas obras que comentam temas e comportamentos ligados à religião com tons críticos, como o Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. O parlamentar criticou, ainda, aqueles que se pronunciaram em repúdio à peça sem terem assistido à encenação. “Não estamos falando de nenhuma novidade. As pessoas têm liberdade para debater a religião, seja para exaltá-la ou para criticar comportamentos – assim como fez Jesus Cristo. Infelizmente, fui o único entre nós, vereadores, que a assisti. É importante sabermos do que estamos falando. As pessoas estão com suas opiniões formadas, mas as convido a assistir para que deem suas opiniões baseadas em fatos.”

Ivan Moraes leu, durante o seu discurso, uma carta aos cristãos de Garanhuns escrita pelo monge beneditino Marcelo Barros, que defendeu que a peça está de acordo com valores do cristianismo. O parlamentar citou, ainda, trechos do espetáculo que demonstrariam essa visão. “É uma peça sobre uma possível volta de Jesus Cristo na contemporaneidade. Esse é o enredo. Chamam a atenção as passagens sobre o filho pródigo, que sai de casa e volta para ser acolhido com amor, e sobre o bom samaritano. A peça não traz nenhum confronto em relação aos ensinamentos de Jesus, mas adapta de forma ficcional uma possível volta.”

Em um aparte, o vereador Jayme Asfora (PROS) chamou a atenção para os novos posicionamentos da Igreja Católica e fez uma defesa da liberdade artística. “A Igreja Católica, por meio do Papa Francisco, tem dado uma guinada positiva na sua orientação. Quem poderia condenar uma pessoa por ser homossexual quando nem Jesus condenou? O cristianismo não distingue, Jesus não distinguiu. Qualquer tipo de liberdade de expressão do pensamento é muito grave ao processo civilizatório. Isso só faz envergonhar o Brasil. As pessoas afirmam que a peça diz coisas que ela não diz.”

Em 01.08.2018, às 13h08