A maternidade além das grades é tema de debate na Câmara

A dona de casa Maria Aparecida Souza Gomes, de 20 anos, é mãe de um bebê de nove meses e só há poucos dias conseguiu a certidão de nascimento para o filho. O marido de Aparecida cumpre pena há dois anos no Presídio de Igarassu, que abriga 3.800 detentos. As dificuldades para obter o documento foram relatadas por ela durante o debate “A maternidade além das grades”, realizado na manhã desta sexta, 8, no plenarinho da Câmara, por iniciativa do vereador Eurico Freire (PV).

Organizado pela Associação Pernambucana das Mães Solteiras, entidade criada em 1992, o evento teve a participação do defensor público de Pernambuco, Henrique Seixas; do mestre em educação pela UFPE e agente penitenciário do Presídio de Igarassu, Euclides Costa; da assessora da Secretaria Estadual da Mulher, Jaciara Campos; da psicóloga da Colônia Penal Feminina de Abreu e Lima, Aline Marques; e da presidente do Conselho de Mulheres da Iputinga, Nevinha Silva.

Antes das discussões foi exibido o documentário “Porque temos esperança”, realizado por Suzanna Lira. Com uma hora e dez minutos de duração, o vídeo mostra o trabalho da presidente da Associação Pernambucana das Mães Solteiras, Marli Silva, com os reeducandos do Estado. “Visitei os presídios e descobri que os pais querem registrar os filhos mas encontram inúmeras barreiras por parte da justiça e isso impede que os filhos visitem os pais e que essas crianças tenham direito à cidadania”, frisou Marli.

Para o agente penitenciário Euclides Costa, que já coordenou o setor psicossocial do Presídio de Igarassu, a dificuldade em levar os presos até o cartório é uma realidade causada pela insuficiência de efetivo policial. Além disso, alguns cartórios ainda exigem das mães a comprovação da paternidade. Foi o caso de Aparecida Gomes que, mesmo de posse de documento assinado pelo companheiro reconhecendo ser o pai da criança, o Fórum de Paulista ainda exigiu um teste de DNA. “Os presos são discriminados até nisso”, reclamou ela.  O agente Euclides completou: “Tudo em torno da prisão é de muita carência e, por causa disso, muitas vezes as mães se desesperam e registram os filhos como mães solteiras”.

O defensor público Henrique Seixas lembrou que existe a possibilidade do reconhecimento paterno já na maternidade e que, desde 1992, está em vigor a lei de averiguação oficiosa da paternidade onde a mãe afirma no cartório o nome do pai e ele é chamado a comparecer para confirmar que é o pai da criança. “Sabemos que a quantidade de pais que não reconhecem os filhos ainda é muito grande e incentivamos a paternidade responsável porque a certidão de nascimento é o principal documento do cidadão”, disse.

A situação nos presídios femininos não é diferente. Na Colônia Penal Feminina do Recife vivem atualmente 970 mulheres. Na de Abreu e Lima são 494 encarceradas. A grande maioria dessa população é mãe e muitas não têm seu próprio registro de nascimento. “Sem isso, seus filhos também não possuem a certidão e, consequentemente, não têm acesso a serviços de educação e saúde nem podem visitá-las”, comentou Marli Silva. “Isso gera muita ansiedade, problemas de saúde e ainda piora o relacionamento no presídio”, afirmou a psicóloga Aline Marques. “Nosso desafio é garantir esse direito ao registro porque esse reconhecimento  termina ajudando até a reconciliar as famílias, concluiu Marli.

Em 08.05.2015, às 14h29