Aline Mariano realiza audiência pública sobre mangue de Santo Amaro

Um dos símbolos da paisagem recifense, o mangue é também um local de prostituição e miséria. Na área localizada no bairro de Santo Amaro, centro do Recife, há toneladas de lixo degradando o meio ambiente, prostituição aliada ao tráfico e consumo de drogas, casos de prostituição infantil e até uso da área como desova de cadáveres. Esses problemas, detectados pela vereadora Aline Mariano (PSDB), serviram de base para a audiência pública que ela promoveu na manhã desta quarta-feira, 5, na Câmara Municipal. “Desde o início do ano venho realizando visitas e produzindo material para embasar a denúncia de fatos graves que ocorrem na região localizada sob a Ponte do Limoeiro, na Avenida Prefeito Artur Lima Cavalcanti”, disse Aline Mariano.

A área, que segundo ela está esquecida pelo poder público, “é um reflexo dos problemas sociais, ambientais e econômicos que assombram o Recife”. Os problemas que ocorrem na área ganharam projeção há poucos dias com reportagem da jornalista Marcionila Teixeira, do Diario de Pernambuco, que abordou a questão das mulheres que vivem da prostituição na área do mangue e que foram chamadas de “mulheres caranguejos”. A vereadora citou a reportagem e disse que essas mulheres “são muito pobres, algumas não passam de meninas e são, na maioria, dependentes de droga. O crack é ofertado com facilidade no local”, denunciou.

No mangue há mulheres portadoras do vírus HIV e com sífilis. Aline Mariano também lembrou que na área, que está tomado por lixo levado pelas marés, também há um grupo de pescadores que necessita de apoio para organizar o trabalho. Para discutir essas questões participaram a secretária da Mulher, Sílvia Cordeiro; o secretário de Segurança Urbana, Murilo Cavalcanti; a representantes da secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, Valéria Monteiro;  a representante da secretaria de Infraestrutura e Serviços Urbanos, Ana Cláudia Mota; o representante no Recife da empresa Marine Acquisition – Brazil, Gildásio Oliveira Júnior; e o representante da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), Rinaldo Carvalho.

Um vídeo de oito minutos, com depoimento do Luís Antônio Ivo, presidente da Associação de Pescadores da Ponte do Limoeiro, mostrou uma situação trágica, de miséria. As imagens revelaram a degradação ambiental e social da área. “Como vereadora e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara do Recife, eu não poderia deixar de intervir junto aos órgãos públicos competentes para tentar mudar a realidade local, que poderíamos classificar como área de calamidade social”, disse Aline Mariano. Ela sugeriu a criação de um plano emergencial que possa revitalizar a área, promover a preservação do mangue e instalar uma cooperativa de pescadores regularizada, além de combater a violência e o tráfico de drogas.

“Temos também que oferecer apoio e segurança social às mulheres que hoje se prostituem no mangue. A mudança está em nossas mãos e precisa ser iniciada. É inadmissível que o Recife continue fechando os olhos para o caos e o desmando que se instalaram naquele local”, acrescentou a vereadora. A audiência pública teve resultados concretos: as secretarias participantes dos debates vão unir esforços para tentar solucionar os problemas da região do mangue de Santo Amaro. A Comissão de Direitos Humanos da Câmara do Recife vai solicitar à Secretaria de Planejamento do Estado a participação na próxima reunião do Pacto pela Vida para falar sobre o tema.

O secretário Murilo Cavalcanti reconheceu a existência do problema e disse que a Prefeitura do Recife, sozinha, não irá resolvê-lo, mas que há ações que podem ser resolvidas a curto e longo prazos. Os de curto prazo são o recolhimento de lixo nas margens do rio, onde está o manguezal; e o combate ao tráfico de drogas.  Outro problema, que se relaciona com os pescadores, exigiria um planejamento mais longo. Ele lembrou, ainda, que existe um projeto de revitalização do Cais da Aurora, para funcionar como atrativo turístico, mas que isso não pode ocorrer se a alguns metros da rua está o retrato da miséria social. “Seria ideal comprometer recursos dessas obras para investir na área do mangue”, disse.

A representante da secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, Valéria Monteiro, fez análise dos problemas enfrentados, discursou sobre a política de assistência social, das dificuldades enfrentadas para resolver os problemas sociais, mas não apresentou propostas concretas para amenizar o drama da área. A secretária da Mulher, Sílvia Cordeiro, observou que a situação do mangue de Santo Amaro “se arrasta pelas diversas gestões da Prefeitura do Recife” e que dramas semelhantes se repetem em outras regiões como o mangue da Beira Rio. “A minha situação principal é com a mulher que ali está, que se mistura com o lixo urbano.Temos que olhar a situação de frente. Todos temos que dar uma resposta a essa situação. Não é uma tarefa somente do poder municipal”, afirmou.

A representante da secretaria de Infraestrutura e Serviços Urbanos, Ana Cláudia Mota, disse que o projeto Cais da Aurora tem uma preocupação de revitalização da Rua da Aurora, que inclui a Ponte do Limoeiro até a Vila Naval, passando pela área do mangue. “Já foi feita uma vistoria da área, relatório fotográfico, detectamos que há necessidade de iluminação especial, limpeza e recuperação das canaletas. Nos dias 22 e 23 faremos uma operação caça-tralha e um trabalho de educação ambiental”, garantiu. Segundo ela, o projeto vai manter a atividade dos pescadores. Quanto à prostituição ela falou que o problema não é a prática em si, mas o fato de ela estar aliada ao tráfico e uso de drogas.

 

Em 05.11.2014, às 13h15