Almir Fernando debate preservação e manutenção de campos de várzea

Autor do projeto que originou a lei municipal 17.993/14, que criou o Programa de Tombamento, Preservação, Revitalização e Desapropriação dos Campos de Futebol de Várzea na Cidade do Recife, o vereador Almir Fernando (PCdoB) realizou audiência pública na manhã desta quinta-feira, 9, para cobrar a aplicação da legislação. Desde que ela foi sancionada, a Prefeitura do Recife planejou realizar ações em 31 dos 116 campos identificados nos bairros da periferia, realizou o processo de licitação das obras, mas somente quatro saíram do papel. Mesmo assim, as melhorias foram suspensas e agora estão paradas. “É fato que esses locais além de serem utilizados para a prática de esportes, são locais de convivência, onde muitos jovens encontram a alegria que, às vezes, a vida lhe cobra; quem pratica esporte comumente deixa de lado drogas e tantos mecanismos sedutores da sociedade”, afirmou o vereador.

A audiência pública atraiu dezenas de líderes comunitários, que lotaram o plenarinho da Câmara Municipal. Fizeram parte da mesa, além do vereador, o líder comunitário Toinho do União, representante do campo de várzea de Dois Unidos; e o gerente geral da Secretaria Extraordinária de Esportes, Paulo Cabral. “Eu fiz o convite pessoalmente á secretária de Esportes, Yane Marques. Mas ela não veio e nem mandou a secretária executiva. Informou que está numa agenda com o prefeito Geraldo Júlio”, lamentou o vereador. “Mas o tema da audiência é muito importante e eu estarei sempre atento às questões voltadas às comunidades e usarei o meu mandato para defender o esporte como meio de inserção e cidadania. Lutarei até o fim do meu mandato”, insistiu Almir Fernando. Sem o cumprimento da lei que ajudou a criar, o vereador entende que a tendência é haver o desaparecimento dos campos de várzea na periferia.

As obras de infraestrutura exigidas para os campos de várzea são diversas e variam de uma para outra unidade. Entre elas, terraplenagem, drenagem, instalação de gradil, instalação de alambrados, refletores, banheiros e vestiários. Em maio de 2013, o vereador realizou audiência pública para defender os campos e aperfeiçoar o projeto de lei de sua autoria, que estava em tramitação. No ano seguinte, a lei foi sancionada. “Estamos realizando esta nova audiência porque precisamos voltar à discussão. A Prefeitura catalogou os campos, realizou licitações e deu início ás obras como no campo Nacional do Ibura de Cima e o da Campina do Barreto. Mas, não deu continuidade. No campo da Linha do Tiro, a Prefeitura chegou a construir um habitacional e um terminal de ônibus. Sei que o habitacional e o terminal são úteis, mas é precisou preservar os espaços de lazer e de congregação das comunidades”, afirmou Almir.

Na abertura da audiência pública o vereador exibiu um vídeo que mostra jovens e adultos de comunidades pedindo a manutenção dos campos de várzea e alertando que são espaços de lazer garantido e que, sem eles, ficam ser ter onde treinar. O vídeo mostra também que esses espaços ficam localizados em comunidades com pouca ou nenhuma estrutura e opção. Almir Fernando encerra o vídeo dizendo que desses campos informais já saíram grandes atletas pernambucanos como Vavá, Ricardo Rocha e Rivaldo. “É preciso rever o apoio público na preservação dos campos de várzea. Nós, que moramos na periferia, não temos a quem recorrer e estamos vendo eles se acabarem. Às vezes marcamos audiência e sequer somos recebidos pelas autoridades”, criticou Toinho do União.

O gerente geral da Secretaria Executiva de Esportes, Paulo Cabral, reconheceu que os campos de várzea na periferia estão sendo extintos e que esse é um fenômeno que ocorre em nível nacional. Ele justificou que a paralisação das obras das unidades do Recife é uma conseqüência da crise econômica. “O prefeito Geraldo Júlio é sensível aos esportes e aos pleitos das comunidades. Os campos foram sua prioridade, mas infelizmente as obras foram afetadas pelas questões financeiras. A manutenção desses espaços não é barata. Instalar alambrados, por exemplo, que é uma das reivindicações das comunidades, fica caro. Com a crise em andamento foi preciso priorizar, nos gastos públicos, o pagamento de outros itens como por exemplo o salário dos servidores”, disse.

Cabral garantiu, porém, que dentro de duas semanas será concluído o planejamento estratégico da Secretaria Extraordinária de Esportes. “E a manutenção dos campos será uma das prioridades. Vamos ver uma forma de viabilizar as obras seja em parcerias ou buscando outras formas de recursos”, disse. Segundo ele, dos 31 campos que foram catalogados, quatro tiveram as obras concluídas: o campo Novais Filho, na Campina do Barreto; o Cacique, no Cardoso; o Bueirão, na Torre e o Nacional, no Ibura de Cima. Um outro foi revitalizado através de recursos de emenda parlamentar, que foi o Buruçu, do Jordão Baixo.


Em 09.03.2017, às 12h25