André Régis lamenta morte de Abelardo da Hora

O presidente da Comissão de Educação, Cultura, Turismo e Esportes da Câmara Municipal do Recife, vereador André Régis (PSDB), disse nesta quarta-feira, 24, que não há como contar a história política e cultural do Recife sem mencionar o nome do artista plástico, mestre das esculturas, Abelardo da Hora, que faleceu ontem. “Ele teve uma vida de grandes realizações e deixou um grande legado artístico para esta cidade e para o Estado”, afirmou. A Casa de José Mariano fez um momento de silêncio, em reunião plenária, em homenagem ao escultor, pintor, desenhista e gravador.

“Ele foi um grande artista que defendia suas convicções. Tinha compromissos sociais e uma vida dedicada à militância política, em defesa de uma vida mais justa e igualitária. É lamentável que nos últimos meses já tenhamos perdido outro grande artista, o escritor Ariano Suassuna e agora Abelardo da Hora”, lembrou André Régis.

No mês passado, a Câmara Municipal do Recife concedeu a Medalha do Mérito José Mariano a Abelardo da Hora, dentro das comemorações dos 90 anos do artista.  A mais alta comenda do legislativo municipal foi entregue pelo vereador Almir Fernando (PCdoB). “Este pernambucano foi um verdadeiro monumento à cultura. Além do grande artista, ele teve uma vida dedicada a um país mais justo e igualitário, através de sua trajetória de militância política”, ressaltou o parlamentar.

Ao receber a Medalha do Mérito José Mariano, no mês passado, o escultor e gravurista falou de suas origens humildes e disse que vinha de uma família de agricultores. No Recife, foi mestre de uma geração de artistas plásticos pernambucanos.  “Minha arte é feita de revolta social, mas também é de amor e de solidariedade. Uma solidariedade às vezes violenta, de quem dá um tapa na cara e diz: ‘Isso está errado’. Precisamos superar as diferenças”, afirmou, ao receber a homenagem.

Além da Medalha do Mérito, Abelardo da Hora também recebeu o título de Cidadão Recifense, no dia três de novembro de 2011, por iniciativa do vereador Rogério de Lucca (PSL).  Abelardo da Hora nasceu no Engenho Tiúma, São Lourenço da Mata, em 1924. No Recife, trabalhou com Francisco Brennand, cursou a Escola de Belas Artes, engajou-se na política, lutando pela Redemocratização do país em 1945. Em 1948 realizou exposição com esculturas de cimento, mármore e pedra calcária, que ganhou repercussão nacional, com os títulos “Meninos do mocambo”, “A fome e o brado” e “Desespero”.

Paralelamente à atividade artística, ele também foi militante do Partido Comunista Brasileiro, o que lhe rendeu a vivência em bairros da periferia e convivência com operários, sindicalistas e lideranças comunitárias. Teve uma vida política intensa, com participações em campanha pelo petróleo e pela interdição das armas nucleares.  Em 1956, nova exposição trouxe tipos nordestinos que ficaram famosos como “Os cantadores”, “Sertanejo” e “Vendedor de caldo de cana”. Em 1958 foi delegado da Seção Pernambuco da Associação Brasileira Internacional de Artes Plásticas da Unesco. Também dirigiu o Ateliê Coletivo nos anos 50.

Em 1960, com a criação do Movimento de Cultura Popular, pelo então prefeito do Recife Miguel Arraes, Abelardo da Hora teve a chance de influenciar diversos artistas. Em 1964, com o golpe militar, foi preso. Cerca de outras 60 prisões ocorreram em seguida. Mudou-se em 1967 para São Paulo, onde organizou a exposição de artistas pernambucanos no MAC. Retornou para o Recife na década de 1970 e continua seus trabalhos no ateliê na Rua do Sossego. Participou de ateliês, exposições, bienais e expôs no exterior. Em 1998, recebeu a Comenda da Ordem do Rio Branco.

 

Em 24.09.2014, às 12h55.