Assoreamento da Lagoa do Araçá é tema de audiência pública

A Lagoa do Araçá, a única natural ainda presente no Recife, está morrendo. Ela poderia ser mais um cartão postal da cidade, mas está cheia de lama, serve para despejo de esgotos condominiais, acúmulo de lixo e o mau cheiro que sai das águas sujas se propaga na vizinhança. Dentro da semana que se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente, a Câmara Municipal do Recife, através do vereador Aerto Luna (PRP), realizou audiência pública na manhã desta terça-feira, 7, com o tema: “Avanço do Assoreamento e a Dragagem da Lagoa do Araçá”. O evento funcionou como um alerta para tentar salvar a fauna e a flora que ainda resiste na lagoa localizada no bairro da Imbiribeira. “Ela está morrendo devido à poluição e ao alto nível do assoreamento. Necessita urgentemente de uma intervenção séria, pois ainda há vida que pode ser salva”, observou Luna.

O que identifica a morte lenta da Lagoa do Aracá é a redução da variedade de peixes, diminuição do tamanho daqueles que ainda são encontrados, ausência das capivaras e garças que antes eram comuns nas margens. “Nesta Semana no Meio Ambiente temos pouco a comemorar e muito a refletir”, propôs o vereador na abertura da audiência pública que lotou o plenarinho da Câmara Municipal do Recife com um público jovem, a maioria estudantes secundaristas e universitários. Com uma área de 14,2 hectares e um espelho d’água de 109.000 metros quadrados a Lagoa fará 23 anos de urbanização em dezembro deste ano. Entretanto a única dragagem foi feita em 1998. Fizeram parte dos debates os professores universitários Clemente Coelho Júnior e Bruno Pantoja; frei Joaquim, representando a Arquidiocese de Olinda e Recife; a diretora de Manutenção Urbana na Empresa de Urbanização do Recife (Emlurb), Fernanda Batista; a secretária Executiva da Secretaria das Cidades de Pernambuco, Ana Gama; e o gerente Geral da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Recife, Alexandre Ramos.

Aerto Luna lembrou que a vegetação ainda presente no parque ecológico é o Manguezal, “mas hoje ele sofre com a grande poluição de suas águas e margem”. Segundo o vereador, ações provocadas pelo homem, juntamente com os tensores naturais que atuam sobre o ecossistema, “acabam por limitar o desenvolvimento da fauna e flora local, interferindo tanto na estrutura, como na diversidade, eliminando aquelas espécies mais vulneráveis”. Nos últimos anos, disse o vereador, houve um significativo avanço no assoreamento da Lagoa do Araçá. “A lâmina d’água tem hoje a profundidade máxima de 70cm, que além de comprometer o ecossistema, reflete negativamente em sua função reguladora das marés, o que resulta no agravamento dos alagamentos nos períodos de chuva na região do entorno da bacia do Rio Tejipió”, afirmou.

 

Embora a lama se acumule dentro da lagoa, o vereador garantiu que uma limpeza é feita pelos servidores da Limpeza Urbana, mas ocorre apenas nas bordas. “É preciso que se faça algo mais profundo, da forma como está não pode continuar”, contra-argumentou. Para Aerto Luna seria necessário um estudo aprofundado de impacto ambiental, com diagnóstico, para se buscar uma solução definitiva. Um vídeo exibido durante a audiência pública, com matéria veiculada no programa Nordeste Viver e Preservar, da TV Globo, mostrou que, além da lama acumulada, os esgotos residenciais são despejados na lagoa. Os moradores da vizinhança, no entanto, denunciaram que esta situação ocorre porque não há rede de captação de esgotos, apesar de todos pagarem taxa de saneamento à Compesa. Todos são unânimes em pedir o desassoreamento.

 

O professor Clemente Coelho Júnior disse que é importante fazer o desassoreamento da Lagoa do Araçá, mas alertou que essa providência só deve ser tomada após um estudo de contaminação de metal pesado. Além disso, ele entende que é preciso identificar como o assoreamento vem ocorrendo. “As lagoas tendem a assorear dependendo da quantidade de sedimento que chegue nela. É preciso saber a velocidade com que esse assoreamento ocorre. No Araçá ele é maior em função do lixo que vem sendo jogado na margem”, afirmou. Quanto à presença de metais pesados na lama, é um sintoma que exige tratamento. Clemente advertiu que ainda que seja feito o desassoreamento, se os metais pesados não forem exterminados, em pouco tempo a lagoa voltaria à degradação.

 

Nessa mesma linha de pensamento, o professor Bruno Pantoja disse que realiza um monitoramento da lagoa há cerca de cinco anos. “Há pontos na lagoa em que não se detecta mais oxigênio e que encontramos nitrogênio, nitrito, amônia e fósforo. Esses elementos químicos são prejudiciais ao meio ambiente”, disse. Segundo ele, antes de se realizar um desassoreamento é fundamental realizar um trabalho de biorremediação (recomposição da cadeia alimentar da lagoa), que também funcionaria, entre outras coisas, para equalizar os índices de elementos químicos e eliminar bactérias patogênicas. Esse trabalho, afirmou, consistiria em instalar biofiltros e lançamentos de probióticos para a despoluição. “Seria um tratamento que duraria três anos e custaria cerca de R$ 1,4 milhão por ano. Somente assim, o desassoreamento seria eficiente”, informou.

 

O gerente Geral da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Recife, Alexandre Ramos, disse que a Lagoa do Araçá faz parte da bacia do Rio Tejipió, que recebe a descarga de três municípios, inclusive Recife. “A dragagem é possível, mas depende de um plano de macrodrenagem para a região”, disse. Acrescentou, porém, que a Brigada Ambiental, que envolve cerca de 50 pessoas, tem passado diariamente pela Imbiribeira, e está multando aqueles que poluírem a lagoa. A diretora de Manutenção Urbana da Emlurb, Fernanda Batista, observou que apenas 40% da área do Recife tem cobertura de rede de esgoto. “Isso ocorre não só com o Recife, mas com a maioria dos municípios brasileiros, que fazem o despejo indevido dos esgotos. A lagoa é destino dos esgotos e isso faz com hoje a degradação avance e a lagoa perca sua capacidade hidraulicante. A Emlurb está realizando um estudo de batimetria no Araçá para detectar a extensão do assoreamento e com base nesse estudo vai fazer um projeto para obtenção de recursos financeiros para esta obra”, garantiu.


Em 06.05.2017, às 12h45.