Audiência na Câmara aborda zika, microcefalia e Guillain-Barré

Debater o que está sendo feito e o que se planeja fazer em relação aos problemas trazidos pelo vírus zika, que tem sido relacionado ao aumento nos casos de microcefalia e de síndrome de Guillain-Barré em Pernambuco e no país. Com esse objetivo, a Câmara do Recife realizou, por iniciativa da vereadora Vera Lopes (PPS), uma audiência pública sobre a questão. O evento aconteceu nesta sexta-feira (18), no plenarinho da Casa de José Mariano.

Ao abrir a audiência, Vera Lopes falou de suas preocupações em relação às consequências do vírus zika. “A microcefalia e a Síndrome de Guillain-Barré acometem todo o país, mas os números de casos do nosso Estado superam os dos outros. Como médica pediatra e parlamentar representante da cidade do Recife, nós convocamos esta audiência com os técnicos aqui presentes para discutir as diretrizes que serão tomadas. O que vamos fazer com essa legião de futuros adultos com deficiência psicomotora?”.

A parlamentar ainda deu uma breve explicação sobre o vírus zika, o mosquito Aedes aegypti , transmissor da doença, a microcefalia – que ocorre quando há um desenvolvimento craniano inadequado à idade do bebê – e sobre a síndrome de Guillain-Barré, que acontece quando o próprio corpo ataca o sistema nervoso. Vera Lopes também deu conta da criação de uma frente parlamentar de combate ao Aedes aegypti e de acompanhamento a crianças com microcefalia.

A coordenadora do Programa Estadual de Combate à Dengue e à Chikungunya de Pernambuco, Claudenice Pontes, apresentou o plano de enfrentamento às doenças transmitidas pelo Aedes do governo do Estado. Demonstrando em uma linha do tempo como o poder público tem atuado em relação aos casos de microcefalia, ela alertou ainda para a importância de não descuidar da dengue e do combate ao mosquito em casa. “A gente observou, visitando pacientes e fazendo inspeção, que as casas possuíam focos do mosquito. E a dengue continua”.

De acordo com a coordenadora, 920 casos de microcefalia foram notificados em Pernambuco, dos quais 313 atendem aos critérios estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Desse montante, 85 foram confirmados por exame de imagem.

A chefe do serviço de infectologia pediátrica do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, Angela Rocha, falou sobre um protocolo de atendimento para a microcefalia e disse que o Estado tem se movimentado para lidar com o problema. “O Estado está bem vigilante. Estamos com um número de casos maior porque passamos a notificar primeiro”. Rocha ainda destacou o impacto emocional que acompanha a enfermidade. “O stress da família, a angústia, também chega ao profissional”.

Representando a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES), a diretora geral de informações e ações estratégicas em vigilância epidemiológica, Patricia Carvalho, prestou esclarecimentos sobre as ações do poder público. “A preocupação tanto do governo do Estado quanto da Prefeitura é de acompanhar tudo o que está sendo feito para garantir não só a assistência ao bebê como à mãe. Como Pernambuco foi o primeiro que detectou esse problema, ele também está saindo à frente na reabilitação”.

Acompanhada da recém-nascida Valentina, que foi diagnosticada com microcefalia, a mãe Dhulha Nascimento demonstrou preocupação com o atendimento que será dado a ela. “Na minha gravidez, peguei o vírus e fiquei alguns dias com febre, dor de cabeça e manchas no corpo. Ela tinha seis meses de gestação quando descobri que ela tinha essa má formação. Procurei o SUS, mas ele não abriu a porta para mim. Ela nasceu num hospital particular, que me encaminhou para o Oswaldo Cruz. Fui para lá e a estrutura é muito precária”. As crianças que nascem com microcefalia precisam receber estimulação precoce e atendimento de diversas áreas de saúde para que o dano cerebral seja minimizado.

A coordenadora geral das Políticas Estratégicas de Saúde do Recife, Zelma Pessoa, discutiu as ações realizadas pela Prefeitura do município. “A Prefeitura do Recife vem se estruturando na capacitação de toda a rede de profissionais de saúde. Além dessa questão, vem fazendo todo um movimento de combate ao mosquito através da vigilância ambiental, da articulação com o exército brasileiro e com organizações civis como as igrejas católica e evangélicas para combater os focos. É importantíssima a corresponsablidade da população nesse combate ao mosquito”. A coordenadora também procurou tranquilizar a população a respeito da síndrome de Guillain-Barré. “Ainda não chegou uma demanda exacerbada”.

O secretário regional da Federação Nacional dos Médicos, Deoclides Cardoso, alertou para a gravidade do quadro de casos de microcefalia e para a necessidade de estudar a ligação entre o vírus zika e a má-formação. “A gente não está dando todo o valor a essa relação. Quantas variáveis existem para a gente relacionar? Vamos pesquisar se realmente a microcefalia está ligada ao zika”.

O presidente do Sindicato dos Médicos do Maranhão, Carlos Frias, demonstrou, por meio da apresentação virtual ‘Zika – o perigo de um vírus emergente’, dados sobre o que se sabe a respeito da doença. “Quero mostrar as controvérsias dessa situação, que é sanitária, social e também política”. O médico infectologista ainda sugeriu alguns encaminhamentos, que vão do isolamento viral e da busca de um teste sorológico até o desenvolvimento de uma vacina e de protocolos de combate e atendimento.

Membro da Comissão de Higiene, Saúde e Bem Estar Social da Câmara do Recife, o vereador Luiz Eustáquio (Rede) também deu sua contribuição. “O poder público tem que fazer sua parte. Ele é o maior responsável. Deixamos isso crescer. Estamos criando uma geração de crianças que passarão por isso por erro nosso, da sociedade”.

Em 18.12.2015, às 14h