Audiência pública debate a navegabilidade do Rio Capibaribe

Um projeto de grande relevância para o transporte e mobilidade do Recife, o de Navegabilidade do Rio Capibaribe, foi tema da audiência pública que a Câmara Municipal realizou, nesta segunda-feira, 23, por iniciativa da vereadora Vera Lopes (PPS). “Desde o meu primeiro mandato, fui defensora da navegabilidade desse rio que corta e emoldura a cidade. Ele ganha importância, agora, com a saturação da rede rodoviária, uma vez que pode ser usado como meio de transporte”, disse a vereadora. O seu objetivo, com a audiência, foi orientar e informar o povo recifense sobre o resgate do projeto, que está paralisado, o estágio em que se encontra e a continuidade dele na atual gestão estadual, uma vez que ele teve a Ordem de Serviço assinada pelo então governador Eduardo Campos.

O Projeto Navegabilidade do Rio Capibaribe, que aproveitará a calha do rio para implementar um sistema de transporte integrado de passageiros, prevê, num primeiro momento, um canal de navegação com 11 quilômetros, entre a BR-101 e a Estação Recife do Metrô. As obras estão paralisadas. A vereadora Vera Lopes abriu a audiência pública apresentando um histórico da navegabilidade do rio no Recife, desde a ocupação da cidade pelos portugueses e holandeses, atravesssando os séculos, até a década de 1970, quando a lancha Garcia Dávila, com apoio da Prefeitura do Recife, ensaiou uma possibilidade de navegação. Não prosseguiu por falta de condições de infraestrutura do próprio rio.

A vereadora mostrou, ainda, que o Rio Capibaribe, além de ter importância para a mobilidade, também tem influência para os esportes e o turismo. “Mas encontra-se num processo de degradação, pois recebe lixo e detritos, que flutuam nas águas turvas, densas de esgotos”, afirmou. Vera Lopes culpou o crescimento urbano desordenado pela deterioração dos recursos ambientais. Em seguida, mostrou que o Capibaribe pode trazer grande benefício para a mobilidade urbana. “Há indicadores da Associação Nacional de Empresas de Transportes Urbanos dizendo que o transporte público utiliza somente 20% do espaço viário, atendendo a 80% da população, e que 38 milhões de pessoas que andam de ônibus. Esse modal está esgotado, precisando do apoio de outros. Aí está a importância do projeto”, afirmou.

Participaram dos debates a secretária de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Recife, Cida Pedrosa; a secretária Executiva de Articulação Institucional e Captação de Recursos da Secretaria das Cidades, Ana Suassuna; a diretora da ONG Recapibaribe, Maria do Socorro Cantanhede; o diretor de Relações Públicas da Federação Pernambucana de Remo, Severino Corrêa; representante da Secretaria de Turismo e Lazer, Sérgio Xavier; arquiteta Sílvia Gouveia, representante da Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano. Ana Suassuna disse que o Projeto Navegabilidade do Rio Capibaribe é desenvolvido a partir de três eixos: a questão ambiental, que leva em conta os impactos que podem provocar no rio; o respeito à infraestrutura de navegabilidade como dragagem, estações e sinalizações náuticas e a operação do projeto como o uso do modal fluvial e a sua gestão. O projeto teve a Ordem de Serviço assinada em 2013, mas foi interrompida durante a execução das obras de dragagem e retirada das palafitas que ficam nas margens do rio.

“Na execução das obras, precisamos fazer ajustes. A drenagem exigiu um tratamento específico, pois foram encontrados metais pesados no leito do rio. E também se fez necessário aguardar a execução de um projeto habitacional para relocar parte das populações residentes nas palafitas que existe nos Coelhos, Vila Brasil e Roque Santeiro”, explicou a secretária Ana Suassuna, reafirmando que as obras serão retomadas em maio. “Os ajustes que precisamos fazer também se devem ao fato de que esse é um modal novo de transporte público no Brasil, pois ele não é só de travessia. Mas, vai integrar um sistema de transporte já existente. Por isso, o projeto original precisou de ajustes. Os ajustes do projeto em seguida tiveram que ser validados pela Caixa econômica, o que também exigiu um tempo”, afirmou a Secretária, listando os itens que levam à demora da execução do projeto. O começo do funcionamento da navegabilidade dependerá da conclusão das obras, mas ainda não há previsão.

O projeto inicialmente estava orçado em R$ 298 milhões, mas após a licitação, o eixo Oeste/Norte, ficou previsto em menos de R$ 200 milhões: são R$ 95 milhões para a construção das estações e da sinalização náutica; e R$ 102 milhões para a dragagem. As 11 embarcações, que estarão circulando nesse eixo, indo da Estação Recife à BR-101, passando por 11 bairros, serão terceirizadas. Os barcos podem transportar, cada um, 96 passageiros por viagem, totalizando cerca de 10 mil por dia. O diretor da Federação Pernambucana de Remo, Severino Corrêa, mostrou-se simpático ao projeto de navegabilidade do rio, embora considere que ele possa trazer consequências prejudiciais à prática do esporte. “Não podemos deixar de ver que a revitalização do rio atinge toda a cidade. A drenagem é muito positiva. Esperamos que esse projeto também permita que a raia do remo volte a ser no Marco Zero”, afirmou.

A secretária de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Recife, Cida Pedrosa, disse que acredita no projeto de navegabilidade do Rio Capibaribe. Através de sua secretaria ela vem desenvolvendo um outro projeto, que é o Parque Capibaribe, que é uma intervenção urbana envolvendo 35 bairros que sofrem influência do rio, e que pretende transformar a capital pernambucana em uma cidade-parque. O objetivo desse projeto, que é da Prefeitura do Recife, é aumentar a taxa de vegetação por habitante, nas proximidades do rio. “O projeto de Navegabilidade, que é do Governo do Estado, portanto, não está sozinho. Ele está estruturado em outros dois que também estão em andamento. Um deles é o PPP do Saneamento do Recife, o qual foi elaborado e será desenvolvido pelo Governo do Estado; e o outro é o Parque Capibaribe, que estamos desenvolvendo e pretendemos realizá-lo até 2016”, disse.