Audiência pública debate situação dos moradores da favela do Bode

Localizada na Zona Sul, mais exatamente na RPA6, a comunidade do Bode, dentro do bairro do Pina, tem 97% da população muito pobre, com casas de palafitas, feitas de madeira, com cobertura de lata e plástico. Não dispõe de banheiros nem de esgotamento sanitário. As doenças causadas pela miséria são constantes. Ainda assim, essa comunidade não foi contemplada pelo Projeto Via Mangue. Por isso, os moradores lotaram o plenarinho da Câmara Municipal do Recife, na manhã desta quarta-feira, 4, na audiência pública promovida pelo vereador Augusto Carreras (PV) com o tema “Política Habitacional: problemas e soluções de moradia e urbanismo da comunidade do Pina”.

Carreras disse que a intenção não foi sair da audiência pública com uma solução definitiva para as famílias que moram há décadas na favela do Bode. “O intuito foi mostrar às autoridades a atual situação da comunidade, que, apesar de estar no traçado da Via Mangue, não foi contemplada pelo projeto”, disse. O Bode está localizado numa das áreas de maior pressão imobiliária de Pernambuco, próxima do terreno onde está sendo erguido o Shopping Rio Mar e  do local onde passa a Via Mangue. Cerca de 2 mil pessoas vivem na comunidade em condições abaixo da linha da pobreza. Como solução imediata de habitabilidade, o vereador sugeriu que seja construído um habitacional no terreno do Aeroclube, localizado também nas proximidades, para transferência das famílias. “Pelo traçado da Via Mangue, não vai ser possível o funcionamento do aeroclube na área. Então, poderia ser construído o habitacional, para acolher as famílias”, defendeu o vereador.

A situação da comunidade do Bode está denunciada num vídeo e num power-point que foram apresentados no início da audiência pública.  Eles demonstram que, em virtude da Via Mangue, algumas intervenções foram feitas na área, que só agravaram a especulação imobiliária, pressionando a população pobre a avançar suas palafitas sobre estuários e manguezais.  Comunidades como o Bode dão ao Recife o título de quinta cidade brasileira em número de invasões e favelas, segundo o IBGE. É o reflexo da desigualdade, com grandes problemas sociais, econômicos e ambientais. Cópias do vídeo e do power-point foram entregues aos representantes dos governos Municipal e Estadual, que participaram da audiência.

“É um absurdo que, em pleno século 21, a nossa cidade ainda tenha palafitas. Situações como a do Bode deveriam ser tratadas como prioridade pelos poderes públicos”, disse Augusto Carreras, ao entregar o material. “Entrego esse documentário para que as autoridades constituídas possam ver e iniciar um planejamento, contemplando essas pessoas que vivem em exclusão”, afirmou. No diagnóstico feito pelo gabinete do vereador, que consta do power-point, as prioridades defendidas para o Bode são: programa habitacional (construção de casas populares e regularização fundiária); obras de saneamento básico, abastecimento e pavimentação; programa de formação e qualificação profissional; instalação de equipamentos de lazer e esportes; além de programas de cidadania para juventude.

Nenhum dos representantes dos governos municipal e estadual apresentou um projeto para a comunidade. Cada um não falou mais do que três minutos e apenas disseram que estavam à disposição para conversar com a população. Fizeram parte da mesa da audiência pública Tarciana Souto Maior, diretora de urbanismo da Secretaria de Controle, Desenvolvimento Urbano e Obras da Prefeitura do Recife, representando a secretária Maria José de Biase; o diretor social Fernando Meireles, da Secretaria de Habitação do Recife, representando o secretário Abelardo José Coelho Neves; o assessor especial Edvaldo Câmara, da Secretaria Especial de Gestão e Planejamento do Recife, representando a secretária Evelyne Labanca; a coordenadora jurídica Maria Isabel Lafayete, da Empresa de Urbanização, representando a presidente Débora Mendes; o diretor de gestão Wagner Lima, da Companhia Estadual de Habitação e Obras do Governo do Estado, representando o diretor-presidente da Cehab, Nilton Mota.



Em 04.07.2012, às 13h.