Audiência pública sobre Projeto Novo Recife lota plenarinho
A audiência pública, que começou às 10h, lotou o plenarinho.
Reuniu dezenas de moradores do bairro do Cabanga, população que será afetada
mais imediatamente pelo Novo Recife, estudantes de arquitetura e urbanismo, arquitetos
e técnicos. “Entendemos que é preciso pensar na arquitetura em seu contexto
maior e não mais aquela centrada em criar prédios e terrenos isolados com
moradores e empresas que estejam restringidos ao perímetro do condomínio”,
alertou a vereadora. Para ela, no caso da área do Cais José Estelita, faz-se
necessário executar um projeto que vise a integração com os bairros e comunidades da região central do Recife. “É
uma área com um grande potencial urbanístico e econômico. O recifense anseia
pelo Projeto Novo Recife servindo para reurbanizar alguns pontos esquecidos da
cidade”, concluiu.
O Novo Recife é um investimento de um consórcio formado pelas empresas Moura
Dubeux, Queiroz Galvão, Ara Empreendimentos e GL Empreendimentos. O arquiteto
Jerônimo Cunha Lima, participante da audiência pública, explicou que o projeto será
executado em cinco partes, e tem 12 edificações com fins residenciais, centros empresariais,
área de comércio, hotéis, restaurantes, bares e estacionamento. “Será criado um
sistema viário auxiliar para não interferir no tráfego do Cais José Estelita,
além de conexões de pedestres e ciclovias. As áreas privadas dos prédios
respeitarão as distâncias regulamentadas pelo Plano Diretor do Recife e os
elementos a serem construídos manterão os vestígios históricos e a memória
ferroviária”, afirmou.
Outro representante do consórcio, o arquiteto Alexandre Maçães, falou sobre os
índices urbanísticos da área. Segundo ele, a área total tem 105 mil metros
quadrados e o projeto reservará 32% para a área verde e 45% para área pública.
O coeficiente de área construída chegará a 3.5 pontos, abaixo dos 7 pontos
permitidos pela legislação municipal. “Nos 12 prédios serão construídas 810
unidades habitacionais, o que representará uma população residente de cerca de
4 mil pessoas. Serão, ainda, 641 unidades empresariais e 696 flats. Juntando essa
com a área habitacional, chegará a 8.800 pessoas na área, diariamente”, disse
ele.
Esse projeto, desde que foi elaborado, vem gerando polêmica.
“Muitas pessoas, no entanto, o confundiram com outro, que era o Projeto Recife
Olinda, elaborado pela arquiteta Amélia Reynaldo, como proposta de revitalização
do centro do Recife. Aquele projeto, previsto para o mesmo local, tinha uma
área de interveção maior que o atual, pois atingia desde o cais até a Rua
Imperial. A Prefeitura do Recife elaborou o Projeto Olinda Recife, que seria
negociado pelas construtoras”, afirmou o arquiteto Marco Antônio Bolsói, também
representante do consórcio. No ano passado, uma outra audiência pública para
discutir o assunto, causou discussões acirradas na Câmara. Na desta
quinta-feira, pelo contrário, houve manifestações favoráveis. “Os moradores do
Cabanga aprovam o Projeto Novo Recife”, dizia uma faixa, que foi aberta no
plenarinho.
Reação favorável também foi apresentanda por André Lopes, representante da Rede
Ferroviária (RFFSA) e do DNIT. “O projeto é bom e renovador para a cidade. Mas
é preciso ouvir a RFFSA. A área do Forte das Cinco Pontas é de apoio portuário
e não pode receber cruzamentos. Também há a inconveniência de montagens de
trens, que é feita ali. Essa montagem não pode ser feita em qualquer via”,
observou. O procurador do município, Francisco Severien, por sua vez, disse que
as questões técnicas do Projeto Novo Recife ainda estão sendo analisadas e se
resguardou de dar outras opiniões. “A Prefeitura só voltou a analisar esse
projeto há 15 dias, pois ele estava obstado por decisão judicial”, afirmou.
As críticas ao Novo Recife partiram de Leonardo Cisneiros, do Grupo de Direitos
Urbanos. “É uma mentira dizer que quem se opõe a esse projeto é contra o
progresso. Nós queremos o desenvolvimento da cidade. Mas esse modelo, representado
pelo Novo Recife, não funciona porque ele segrega e exclui. Lutamos por um
plano de desenvolvimento urbano que inclui todos os recifenses e o
empreendimento só contempla uma classe social”, disse. Leonarado Cisneiros
ressaltou que qualquer obra que venha a ser realizada no Cais José Estelita tem
impacto sobre toda a cidade e não se limitraá à área construída. “Por isso,
esse projeto requer uma participação maior da população em sua elaboração. As
audiências públicas são importantes, mas insuficientes. A participação popular
deve ser ampla”, advertiu.
Leonarado Cisneiros entende que nunca houve um planejamento urbano para a área.
“Não podemo ser vítimas da omissão dos poderes públicos, que nunca fizeram um
plano urbanístico para o Cais José Estelita”. Ele citou algumas ilegalidades do
projeto. “A compra do terreno está sendo questionada pelo Ministério Público,
pois deveria ter anuência do Ipham. Além disso, o projeto é de grande impacto e
exige um relatório EIA/Rima, que não foi feito. Também não tem os pareceres de
órgãos como o DNIT, RFFSA e Iphan. Para ir adiante ele precisa desses pareceres”,
alertou. Leonardo Cisneiros entende que o consórcio também lançou mão de uma
série de estratégias, pois conseguiu dar entrada no projeto, junto à Prefeitura
do Recife, em 2008, exatamente um mês antes da aprovação do Plano Diretor da
Cidade. Esse plano restringe os empreendimentos para aquela área, por
considerá-la Zona Ambiental Natural.
Estiveram presentes na audiência pública os vereadores Priscila Krause (DEM), Amaro Cipriano Maguari (PSB), Carlos Gueiros (PTB), Jayme Asfora (PMDB), André Régis (PSDB) e Henrique Leite (PT).
Em 11.04.2013, às 13h34.