Audiência trata dos impactos causados pelo óleo nos rios e mangues do Recife

Diante do aparecimento de manchas de óleo no litoral pernambucano nos últimos meses, o vereador Rodrigo Coutinho (SD) promoveu uma audiência pública, na manhã desta quinta-feira (19), no plenarinho, para debater o problema. O parlamentar considera de suma importância levar o assunto à Câmara. “Que o poder público compreenda os impactos causados por esse desastre ambiental nos rios e mangues do Recife. O intuito da audiência pública é identificar os prejuízos apresentados até o momento, para que possam ser aplicadas ações que solucionem os problemas já existentes, além de conhecer medidas que impeçam novos desastres”.

O vereador Rodrigo Coutinho também considera valorosa a escuta de especialistas da área. “A visão técnica é essencial para a compreensão do assunto. E a participação popular é de extrema relevância, visto que os cidadãos se prejudicaram de diversas formas com o vazamento de óleo”.

Edy Rocha, morador da Ilha de Deus e representante da ONG Saber Viver, disse que o momento é difícil e que a Ilha de Deus precisa de ações para que o mangue seja preservado. “Considero que a Ilha de Deus um dos únicos lugares do Brasil onde é 100% saneado porque foi criado no governo Eduardo Campos, com apoio do governo federal, para ser uma referência. Mas ainda existem obras que estão paradas. E nós estamos muito preocupados porque temos toneladas de cascas de marisco e sururu matando o manguezal e ninguém está preocupado em tirar essas toneladas. O óleo já foi retirado, mas as palafitas estão voltando ao redor da Ilha porque estão aterrando com a caca de sururu, como faziam antigamente”.

A situação dos pecadores, segundo Edy Rocha, é considerada muito ruim porque eles não estão conseguindo vender os produtos e que a elaboração de um projeto coletivo trará grandes benefícios à natureza. “Na Ilha de Deus tem um bistrô que vende a mariscada, e muita gente de fora que vai visitar a primeira pergunta é se foi afetada pelo óleo. A mídia não está  falando mais sobre o óleo e não está dando a devida resposta à população sobre a situação. Vamos perder muitos pescadores porque eles estão buscando emprego formal. Temos mesmo é que organizar as pessoas para que sejam feitas políticas públicas. Vamos nos organizar, e se tivermos um projeto juntos iremos mudar a realidade".

O especialista em direito ambiental e CEO da Navegue, Caio Scheidegger, ressaltou que o tema deveria estar sempre em alerta e que o Recife é uma das áreas ameaçadas no mundo por causa das mudanças climáticas. Ele também mostrou, por meio de slides, casos de impactos ambientais como Chernobil, Mariana e Brumadinho. “Brasil e o Recife possuem um ecossistema robusto e que não foi ativado na sua potencialidade ideal num momento de crise, como esse, e o município é um ator relevante, pois estamos falando de qualidade de vida para a população”.

Segundo Caio Scheidegger, o transporte de óleo precisa estabelecer medidas de cautela extrema e alertou que a população precisa ser monitorada. “O que aconteceu agora foi um alerta porque o Recife é um ponto de convergência de correntes. A gente teve uma série de debates com departamentos de química porque tem compostos de difícil detecção e os exames que precisariam ser feitos não estão disponíveis. E não podemos dizer que estamos 100% seguros. Os materiais voláteis evaporam e os hidrocarbonetos ficam impregnados e só serão liberados ao longo dos anos. Tem que ser monitorado o nível de saúde da população e garantir o atendimento médico dessas pessoas”.

A contaminação nos corais e mangues foi outro aspecto mencionado por Caio Scheidegger. “O trabalho de remoção e limpeza é complexo e não temos como saber a quantidade de material impregnado nos corais em Carneiros, por exemplo. O turismo internacional já está sendo ressarcido diante do cancelamento dos turistas com a chegada do verão. No mangue, a situação é mais difícil. Temos vários órgãos ambientais e podemos dialogar para encontrar caminhos ideais, pois o mangue é muito afetivo à cidade. Temos um mangue vivo, com potencial econômico relevante e a gente não pode afirmar que, com a remoção do óleo, estaremos livres do risco. A maioria dos metais pesados como o chumbo fica impregnada na areia”.

Leonardo Lima, do Laboratório de Objetos Urbanos Conectados do Porto Digital, é o idealizador do A.MAR - Mutirão dos Mares e fez questão de detalhar o projeto. O A.MAR  tem como  iniciativa reunir pessoas diversas para pensar ideias e ações de colaboração para reduzir os danos causados após o desastre ambiental decorrente do derramamento de óleo na costa brasileira. “O A.MAR conta com o apoio de vários grupos e parceiros. Temos que dividir a responsabilidade, buscar apoio para viabilizar soluções e trazer as pessoas que vivem no contexto. Foi muito tocante as ações das pessoas, assistimos  cenas belíssimas da população em ajudar o meio ambiente”.

Leonardo Lima ressaltou que o óleo se mistura à areia e a preocupação, assim como a de Caio Scheidegger, é a de que o material será liberado por anos. Ele explicou a utilidade do viscosímetro, um equipamento utilizado para medir a viscosidade dos fluidos, de grande utilidade para a natureza.  “É um instrumento de qualidade para o monitoramento da água e que pode antecipar o trabalho de preservação do meio ambiente. É como um “cão de guarda” dos mares. Também gostaria de dizer que é extremamente importante articular atores que tenham possibilidades de trazer soluções para que agente possa dar continuidade e pensar coletivamente no futuro”.

 

Em 19.12.19 às 11h53.

registrado em: rodrigo coutinho