Bancada feminina debate violência contra a mulher

Todo dia é da mulher na Câmara Municipal do Recife: uma reunião pública realizada na manhã desta quinta-feira, 14, debateu as formas de enfrentamento à violência contra a mulher, por iniciativa da bancada feminina. O encontro deu continuidade às discussões sobre diversos temas, que começaram no dia 8 de março, data comemorativa, e se estenderão até o final do mês. “É preciso pensar as questões que dizem respeito às mulheres dentro de um espaço como este, para que possamos, como bancada, elaborar propostas de políticas públicas”, afirmou a vereadora Isabella de Roldão (PDT), que presidiu a reunião. A violência doméstica foi o tema central dos debates.

As convidadas da reunião, que ocorreu no plenarinho, foi a delegada da Mulher Maria do Socorro Velozo e a cientista política Regina Célia Barbosa, vice-presidente do Instituto Maria da Penha. A delegada deu uma verdadeira aula sobre as questões da mulher, resgatando a história da luta das feministas, até os dias atuais, quando elas receberam “um acréscimo de tarefas, atividades e atribuições”. Através de slides, no telão, Maria do Socorro também mostrou que o Estado de Pernambuco hoje dispõe de nove delegacias da Mulher e outras cinco estão em implantação. “Recebemos queixas de mulheres que são vítimas de violência doméstica há 20 anos”, disse. Essa violência não é somente física, mas principalmente psicológica.

As relações que envolvem a violência doméstica, segundo Maria do Socorro Velozo, envolvem casamento, união estável, concubinatos, família homoafetivas , namoros e outros vínculos, como a relação de patrão e empregado. Os sinais que identificam a violência doméstica são “o comportamento controlador do marido, o rápido envolvimento amoroso, expectativas idealisats em relação à parceria, abuso verbal, hipersensibilidade e crueldade com animais e crianças”, disse. Ela observou, ainda que há vários mitos sobre a violência doméstica. “Dizem que ela é um problema familiar, que existem mulheres que provocam e gostam de violência e que ela só ocorre nas famílias de baixa renda e de pouca instrução. Esses são alguns mitos”, afirmou.

A cientista política Regina Célia, que trabalha com a Lei Maria da Penha, reforçou a tese sobre a aplicabilidade da lei em função da adoção das políticas públicas e da qualificação dos profissionais que trabalham com mulheres que sofrem a violência. Para ela, a educação é uma das saídas para o enfrentamento. “Também existe uma deficiência na parte do atendimento à mulher, por desconhecimento da lei. A sua aplicabilidade precisa ser feita de forma humanizada. Além disso, a demora no atendimento às vezes ocorre porque os profissionais envolvidos na execução da lei nem sempre reconhecem os problemas como crime. Muitas mulheres deixam de denunciar as agressões por não serem bem acolhidas”, lamentou.

A vereadora Priscila Krause (DEM), disse que a violência doméstica está relacionada, entre outros fatores, à disputa entre gêneros e que é preciso estabelecer novos paradigmas de comportamento na sociedade. A vereadora Aline Mariano (PSDB) alertou que a violência doméstica só será resolvida quando as políticas públicas começarem a funcionar de forma integral, envolvendo os órgãos policiais e jurídicos. “Somente assim as mulheres terão segurança de fazer denúncia e garantir sua segurança e de sua família”. A vereadora Michele Collins (PP) ressaltou que é importante a realização dos debates sobre todos os temas relacionados à mulher na Câmara Municipal. “É preciso que nós estejamos sempre lembrando desses problemas para conseguir estabelecer políticas públicas de qualidade”, disse. O próximo debate, a respeito da saúde da mulher, será dia 20.

Da bancada masculina, o único vereador que participou da reunião foi Jayme Asfora (PMDB). A atual bancada feminina é a maior da história da Câmara Municipal do Recife. Do total de 39 parlamentares, foram eleitas seis mulheres nas últimas eleições, sendo que uma delas, Marília Arraes, licenciou-se para assumir uma secretaria municipal da Prefeitura do Recife. Além de Isabella de Roldão, Priscila Krause, Aline Mariano e Michele Collins, a bancada também é formada por Irmã Aimée (PSB), que não pode comparecer à reunião.

 

Em 14.03.2013 às 13h57.