Câmara comemora centenário de Miguel Arraes

Miguel Arraes de Alencar nasceu em Araripe, no Ceará, no dia 15 de dezembro de 2016. Mudou-se para o Recife na década de 1930 para trabalhar no Instituto do Açúcar e do Álcool. Graduou-se na Faculdade de Direito da capital pernambucana. Foi deputado estadual, prefeito do Recife, governador do Estado deposto pelo golpe militar de 1964, exilado político na Argélia por 14 anos – e, de volta a Pernambuco, deputado federal e novamente governador. Morreu em 2005, ainda em atividade política.

A história e o legado de Arraes foram lembrados nesta quinta-feira (15), dia do centenário de seu nascimento, na Câmara do Recife. A iniciativa partiu de sua neta, a vereadora Marília Arraes (PT), e contou com a participação de familiares, admiradores e companheiros políticos do ex-governador, além de representantes de entidades sociais, sindicais, políticas e governamentais. No plenário da Casa de José Mariano, foram distribuídos chapéus de palha – uma referência ao projeto que empregava agricultores nos períodos de entressafra – e lembradas as ações mais importantes do homenageado, como o Movimento de Cultura Popular, o Acordo do Campo e a expansão da rede elétrica do Estado.

Em seu discurso, Marília Arraes ressaltou a história de luta por justiça social construída por seu avô.  “Todas as suas ações, sem exceção, tinham como foco a busca pela justiça social, a amenização da desigualdade e do sofrimento de um povo que, em vez de ser amparado, era costumeiramente perseguido e oprimido pelo aparato estatal. Arraes foi um dos maiores defensores da promoção dos direitos humanos na história recente do Brasil quando priorizou e promoveu os direitos sociais, econômicos e culturais e quando lutou pelos direitos públicos, civis e políticos, buscando o desenvolvimento e o direito de todas as pessoas viverem em uma sociedade modernamente organizada. Sua luta era pela independência das pessoas.”

Marília Arraes ainda identificou os avanços sociais da década passada com o trabalho de Miguel Arraes – e não deixou de tecer uma análise sobre a importância do seu legado para o momento atual do país. “O Brasil mudou e, sem sobra de dúvidas, muito desse caminho percorrido foi graças à luta de Arraes. Nunca a elite brasileira pensou que tais avanços pudessem acontecer. Não há dúvidas: as mãos que tiraram Dilma da presidência em 2016 são as mesmas que cassaram Arraes em 1964. No seu centenário, a maior homenagem que pode ser prestada a ele deve ser buscar os mesmos objetivos aos quais ele dedicou sua vida: a justiça e a transformação social.”

A vereadora entregou uma placa comemorativa ao presidente do conselho deliberativo do Instituto Miguel Arraes, Antônio Campos. Em seguida, a escritora Mariana Teles declamou, da tribuna da Câmara, uma poesia em homenagem ao ex-governador.

Citando episódios da vida de Arraes e de sua atuação na prefeitura do Recife, Antônio Campos enalteceu, ao discursar para o plenário, a visão de futuro e a trajetória de Miguel de Arraes. “Arraes era uma máquina do tempo, mas uma máquina de olhar para o futuro. Ele foi um homem que viu além do seu tempo. Arraes também foi um cidadão do mundo que não perdeu suas raízes. Neste ano, se comemora os cem anos de um homem que foi contemporâneo de uma grande seca, a de 1915. São 40 anos da Declaração dos Direitos dos Povos e dez anos do Instituto Miguel Arraes. Arraes foi uma testemunha da história do Brasil e do mundo.”

A capacidade de liderança e de diálogo foram as características de Miguel Arraes lembradas pelo diretor presidente do arquivo público de Pernambuco, Evaldo Costa, que representou o Governo do Estado na solenidade. “Está muito clara a falta que Arraes faz. Ele mostrou, do primeiro ao último dia de sua trajetória, a capacidade de diálogo e uma extrema dedicação aos interesses daqueles que mais precisam. Arraes era um líder inato. Arraes não precisava se impor pela força. Não precisava gritar para ser seguido. Ele tinha capacidade de separar, no meio da divergência, a convergência que soma e faz andar. Arraes nunca disse uma palavra que não fosse pela construção.”

O presidente da Central Única dos Trabalhadores de Pernambuco (CUT-PE) salientou o interesse do homenageado pela mobilização social e por obras que atingissem a população mais necessitada. “Aos 17 anos, tive o direito de ver uma luz na nossa residência, em uma comunidade rural. Foi fruto de uma política do governo de Miguel Arraes de Alencar. Era um governo voltado para aqueles que mais precisavam e que tinha um respeito profundo pelas entidades sociais, de classe e sindicatos. Ele não ia a um município sem entrar na sede de um sindicato rural.”

Já o presidente do Partido dos Trabalhadores de Pernambuco (PT-PE), Bruno Ribeiro, fez questão de elogiar a coerência e a dimensão humana de Miguel Arraes. “Doutor Arraes tinha uma enorme coerência diante das contradições e adversidades. Pagou um preço alto, mas colheu muito. A gente tem que lembrar não só do homem que pertence ao povo e à história, mas de um homem que era extremamente cativante.”

A reunião solene foi presidida pelo vereador Vicente André Gomes (PSB), presidente da Câmara do Recife. Ele recordou a influência do ex-governador em sua formação política. “O requerimento desta reunião foi aprovado amplamente com a definição de reconhecimento do valor de Arraes. Tive o prazer, na minha infância ali no parque Santana, em Casa Forte, de presenciar algumas reuniões em que meu pai participava com doutor Arraes. Ele sempre foi a referência da nossa família. Ele foi para o exílio e todos nós aguardávamos a sua volta. Estou no fim do meu mandato, de 30 anos de vida pública. Eu me sinto profundamente honrado com esse fechamento, essa reunião dos cem anos de Miguel Arraes presidida por mim.”

Em 15.12.2016, às 18h38