Câmara debate as políticas públicas para o frevo

Quando a orquestra tocou os primeiros acordes, os passistas começaram a fazer evoluções e foi o suficiente para alguns transeuntes pararem à frente da Câmara Municipal do Recife, na manhã desta quinta-feira (7). Mas, não se tratava de uma simples apresentação para dar visibilidade à música e à dança que são espelhos da cultura pernambucana. Tratava-se de um chamamento para que o povo participasse da audiência pública realizada com o objetivo de escutar as demandas da sociedade com relação às políticas públicas sobre o frevo, por iniciativa do vereador Ivan Moraes (PSol), dois dias antes de se comemorar o Dia do Frevo.

“É sabido que o Frevo foi reconhecido Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco. No entanto, o nosso mandato tem recebido diversas denúncias de descasos com as políticas públicas municipais imprescindíveis para a manutenção desta expressão artística da nossa cidade. Episódios de incertezas na manutenção de espaços em Recife que promovem a difusão do frevo como cultura e emprega músicas(os) e passistas, como o Paço do Frevo, por exemplo, vem preocupando a sociedade civil e deve ser debatida por esta casa legislativa”, disse Ivan Moraes, ao justificar, através de requerimento, a necessidade de se realizar a audiência pública.

Sem poder comparecer, por força de licença médica, Ivan Moraes foi substituído pelo vereador Rinaldo Júnior (PRB), na condução dos trabalhos. “É um privilégio estar aqui, presidindo esta audiência pública. A assessoria de Ivan está presente e depois, todos nós nos sentaremos, para discutir esse tema”, disse. Para Rinaldo, é fundamental trazer esse debate que viabilize a construção de políticas para o Frevo, que é patrimônio imaterial do povo recifense. Sábado, 9 de fevereiro é comemorado o Dia do Frevo porque o extinto Jornal Pequeno registrou, pela primeira vez, o vocábulo “frevo”. Nesse dia, no começo do século passado.

A audiência pública foi realizada no plenarinho, que ficou lotado com representantes de blocos e troças carnavalescas e de entidades que trabalham com cultura ou organizações civis que lutam em defesa do frevo. Os dirigentes das agremiações fizeram questionamentos e cobranças não só para os órgãos públicos como também para as entidades civis. Eles queriam apoio para as agremiações que levam o frevo às ruas, nos dias de Carnaval. Vários documentos foram entregues, solicitando ações visando o desenvolvimento do frevo no Estado.

A falta de incentivos para o frevo foi criticada pelo representante do Comitê de Salvaguarda do Frevo, Newton Caivano. “Ultimamente, os órgãos públicos, sejam municipais, estaduais ou federais, estão dando visibilidade às culturas que chamamos de assimiladas. São os grandes shows com músicas que nada têm a ver com nossa cultura”, lamentou. Ele também reclamou que, mesmo tendo sido reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade em 2012, o frevo não recebe a atenção devida em Pernambuco. “As emissoras de rádio, por exemplo, só tocam frevo quando chega o Carnaval. A exceção é a Rádio Universitária, através de Hugo Martins”, garantiu.

O cientista social Giorge Patrick Bessoni e Silva, representante do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan), também entende que as instituições públicas precisam avançar nas suas agendas no que diz respeito às políticas de incentivo ao frevo. “É preciso que esses órgãos desenvolvam estímulos mais efetivos junto à sociedade para a difusão e promoção do frevo. Da mesma forma, precisam englobar os representantes e defensores do frevo na definição dessas políticas públicas”, argumentou. Ele reclamou que é necessário, ainda, reforçar o orçamento para a cultura, sobretudo as chamadas ‘culturas imateriais”. Ele trabalha no Ipahn e em seu entender o instituto “tem auxiliado na preservação, difusão e promoção do frevo”.

O presidente do Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), entidade gestora do Paço do Frevo, Ricardo Piquet, explicou que o centro cultural voltou a funcionar plenamente. Neste sábado, o Paço completará cinco anos de existência. “O nosso contrato para gestão do Paço se encerrou em novembro, pois a duração foi de cinco anos. E nós tivemos que sair do espaço. No mês de dezembro, a Fundação de Cultura Cidade do Recife assumiu temporariamente a gestão do centro cultural, enquanto acertávemos os termos do novo contrato. Assinamos, no dia 13 de janeiro e agora estamos restabelecendo as atividades”, garantiu. Neste sábado, segundo ele, O Paço do Frevo estará oferecendo os serviços do espaço museológico, o roteiro de aprendizado, biblioteca, pesquisa e formação de música e dança.

A representante da diretoria de Gestão de Desenvolvimento da Secretaria de Cultura do Recife, Iana Marques, esclareceu que as discussões da audiência pública serão levadas para o presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife, Diego Rocha, assim como também serão entregues a ele todos os documentos apresentados pelas entidades. Ela lembrou que a PCR não está em dívida com o frevo, como foi criticado na audiência. “Estamos presentes m diversas atividades e momento, inclusive através do Paço do Frevo e da Escola Municipal do Frevo”. Iana Marques, no entanto, reconhece que há sempre novas melhorias a serem feitas e citou como exemplo a inclusão de mais conteúdo para o programa da escola do frevo. Lembrou, ainda, que no ano passado, apesar da crise financeira, a PCR não deixou de realizar o Festival Nacional do Frevo e, tocando em outro ponto que sofreu críticas, disse que o roteiro das agremiações no período de carnaval (avenidas Nossas Senhora do Carmo e do Forte) foi decidido em comum acordo com os brincantes.


Em 07.02.2019, às 13h25.