Câmara debate crescimento da mortalidade materna no Recife

Através de iniciativa do vereador Ivan Moraes (PSOL), a Câmara Municipal do Recife realizou, na manhã desta terça-feira (13), audiência pública que debateu a mortalidade materna e a situação das maternidades públicas da capital pernambucana. “Foi um debate importante porque está havendo uma tendência de crescimento ascendente de casos desde 2001. Tivemos dois anos melhores, recentemente, entre 2016 e 2017, mas o problema persistiu em 2015 e a tendência é que este pico se repita em 2018”, afirmou. O plenarinho da Casa de José Mariano ficou lotado, pois a discussão atraiu pessoas da área de saúde, mães com crianças nos braços e representantes do movimento de direitos reprodutivos.

De acordo com levantamento feito pela Secretaria de Saúde do Município do Recife entre os anos de 2001 e 2017, sobre a frequência de nascidos vivos, óbitos maternos e razão da mortalidade, apenas nos anos de 2007 e 2011, que a mortalidade por complicações durante a gravidez, parto e puerpério (pós-parto) no Recife, atingiu o nível recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Em 2015, o município registrou 22 mortes de mulheres. Aplicando a proporção, o numero significa uma taxa de 93 por 100 mil partos realizados, bem acima das 35 mortes/100 mil partos, índice considerado aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Complicações durante a gravidez, parto e puerpério (pós-parto) estão entre as causas.

"Essa realidade é ainda mais severa quando fica constatada que a taxa de mortalidade se concentra nas mulheres negras. Os óbitos maternos de mulheres negras, sem renda ou em trabalhos precarizados, são três vezes mais frequentes, em relação às mulheres não negras", afirma Ivan. De acordo com ele, houve uma quantidade de mortes, este ano, que já supera a média histórica recente. “Aliada a esta tendência, há uma necessidade de a gente saber como serão utilizados os recursos derivados da rede Cegonha, para o Recife, na ordem de R$ 200 milhões”, disse. A Rede Cegonha é um projeto do governo federal que foca no atendimento ao parto e redução da mortalidade materna. “É preciso saber como estes recursos estão sendo utilizados para que se consiga reduzir a quantidade de mortes”, acrescentou.

O secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia, confirmou que há uma tendência nacional do aumento da taxa de mortalidade materna. “O que é uma tendência preocupante e exige que se faça um debate sereno sobre todos os aspectos relacionados à gravidez”, disse. Esses aspectos envolvem, segundo ele, o planejamento familiar, o direito reprodutivo, passando pelo pre-natal de qualidade, até a oferta de serviços humanizados, as boas práticas no momento do parto, e as visitas pós parto, para acompanhamento. “Recentemente eu estive em Brasília para participar de um debate nacional e hoje estou aqui, pois é preciso levar este debate de forma realista e sereno”, reforçou.

De acordo com o secretário, a Prefeitura do Recife vem utilizado os recursos em ações que visam a qualificar o acesso ao pre-natal de qualidade, assistência ao parto e pós. “A Prefeitura vem realizando desde campanhas voltadas ao público sobre a questão gestacional; o Mãe Coruja Recife, que é a política pública voltada para a captação precoce de mulheres na gravidez e vinculação dela com os exames necessários, de forma a garantir que a relação com o bebê seja positiva e gerada no contexto de boas práticas’. Ele disse que a Prefeitura do Recife tem investido, também, no Hospital da Mulher e em outras maternidades da rede municipal. “O Hospital da Mulher é hoje considerado uma referência nacional em parto humanizado e é a que mais faz partos no Recife. A partir de janeiro, ele vai atender também à gestante de alto risco, que é o passo fundamental para diminuir a mortalidade infantil e materna”, afirmou.

 

Em 13.11.18 às 13h32.