Campos de várzea do Recife são debatidos em audiência pública

O desaparecimento dos campos de futebol de várzea nos bairros da periferia, as consequências para os atletas amadores pobres que ficam sem ter onde treinar e os prejuízos para a juventude, que perdem esses espaços de convivência e lazer, motivaram audiência pública na Câmara Municipal do Recife, nesta quinta-feira, 9. A iniciativa foi do vereador Almir Fernando (PCdoB), cujo objetivo foi aperfeiçoar o propjeto de lei 87/2013, de sua autoria, que autoriza o Poder Executivo a criar o “programa de tombamento, preservação, revitalização e desapropriação dos campos de futebol de várzea”.

O plenarinho da Câmara Municipal ficou lotado de representantes comunitários, líderes populares e de organizadores de time de futebol da periferia que consideram primordial a manutenção dos campos de várzea nos bairros que têm pouca ou nenhuma opção de lazer. “No bairro do Coque havia oito campos, mas para nossa tristeza só resta um. Eles foram extintos por causa da especulação imobiliária. Existem mais de 30 mil moradores no bairro e o que resta para a juventude como espaço de prática de esporte? Só restam as ruelas e becos. Se os campos de várzea acabam, estaremos jogando os adolescentes nos mesmos espaços do tráfico de drogas”, denunciou Renê Guedes, educador social.

“Sou um ex-atleta, fui jogador profissional do Santa Cruz. E vi em minha comunidade, o Alto José Bonifácio, esses campos serem extintos por causa da expansão imobiliária ou por causa das obras públicas que chegavam às comunidades. Não é acabando com os campos de várzea que vamos solucionar o grave problema habitacional do Recife. A extinção dos campos traz problemas para as comunidades, pois acaba as práticas esportivas e os jovens, com muito tempo ocioso, terminam caindo nos espaços da marginalidade. Não vamos nos esquecer que muitos craques como Ricardo Rocha, Rivaldo e Vavá foram revelados nesses campinhos”, disse o vereador, na abertura da audiência pública.

Um vídeo de 13 minutos, produzido pela assessoria de Almir Fernando, mostrou pessoas das comunidades reclamando da falta de apoio institucional para a manutenção dos campos; apresentou exemplos de campos que foram extintos na periferia e alguns poucos que são preservados e mantidos pela Prefeitura do Recife. Após o vídeo, o vereador falou sobre o projeto de lei 87/2013, que proíbe a construção de habitacionais nos espaços dos campos de vázrea, prevê obras de melhoria nos campinhos ainda existentes, além da desapropriação e tombamento das áreas. Esse projeto pretende ampliar a lei municipal 17.544/2009, que dispõe sobre a criação de áreas de preservação esportiva e de lazer no Recife, criada a partir de projeto de lei do então vereador Josenildo Sinésio.

O presidente do Fluminense do Brejo da Guabiraba, Ronaldo Rodrigues, afirmou que assistiu ao fim de cinco campos de várzea na região onde mora. Foram os campinhos do Alto do Refúgio, do São Paulo, do Café, do Vasco e do Robertão. “No lugar deles foi construída uma indústria, uma academia da cidade e uns habitacionais. O do Alto do Eucalipto está ameaçado de ser extinto porque está prevista, no local,  a construção de um terminal de ônibus. O campinho do Fluminense, time de que sou presidente, está ameaçado de invasão”, afirmou.

O líder comunitário Antônio Batista, do Alto da Esperança, compôs a mesa de debates da audiência pública. Ele administra o Campo do União de Dois Unidos. “A Prefeitura do Recife precisa rever essa questão dos campos de várzea. Três deles já foram extintos, na minha comunidade. É preciso pensar esses espaços para aproveitar não só no futebol, como também no handebol, basquete e vôlei”, disse. Ele ressaltou que dois jogadores profissionais sairam dos campinhos de Dois Unidos, que foram Lourival, do Náutico; e Edvam, do Santa Cruz.

O secretário de Esportes e Copa do Mundo do Recife, Georges Braga, que também compôs a mesa de debates, disse que os campinhos são importantes “como espaço de lazer e congregação das comunidades”. Ele fez um levantamento e disse que existem hoje 138 campos no Recife. “Desses, 133 estão com diagnósticos detalhados e pretendemos dotá-los de infraestratura”, afirmou. Outro que estava na mesa de debates foi o representante da Comissão de Direito Esportivo da Ordem dos advogados do Brasil, OAB, advogado Roberto Roma. “A ordem defende os campos como berço dos atletas e entende que o que for proativo para a sociedade civil, dará apoio no formato jurídico”, garantiu. Estiveram presentes na audiência pública os vereadores Aderaldo Pinto (PRTB) e Eurico Freire (PV).


Em 09.05.2013, às 12h38.