Comissão de Revisão do Plano Diretor amplia diálogo com a sociedade

A fase de diálogos da Comissão Especial de Revisão do Plano Diretor com os segmentos sociais teve continuidade nesta quinta-feira (5), com a apresentação do Plano Centro Cidadão, vinculado à Universidade Católica de Pernambuco (Unicap); e do Projeto Parque Capibaribe, ligado à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Foram duas reuniões importantes com pessoas que se dedicaram a estudar o Recife, visando melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Elas conhecem dados, informações e números em torno de pontos importantes e que podem ser de grande valia para o Plano Diretor. Colhemos bons frutos. Estamos abrindo o período de emendas e as conversas poderão embasar propostas da relatoria ou da comissão”, afirmou o presidente do colegiado, vereador Rodrigo Coutinho (Solidariedade).

As reuniões ocorreram em sequência e tiveram início às 9h30, com a presença dos vereadores Ivan Moraes (PSol), vice-presidente da Comissão Especial de Revisão do Plano Diretor; Hélio Guabiraba (sem partido) e Aerto Luna (PSB), além do presidente da comissão. O Plano Diretor é o que organiza as diretrizes urbanísticas de desenvolvimento municipal, desde sua ocupação, passando pelas questões de mobilidade e ambiental, até a definição de zonas de interesse humano. Na prática, é o instrumento que planeja e dita como a cidade deve crescer, considerando as mudanças do contexto tecnológico, a preservação da memória e a garantia de moradia e lazer dos moradores com mais equidade.

A primeira reunião foi com as coordenadoras do Plano Centro Cidadão, as professoras de Arquitetura da Unicap, Andréa Câmara e Clarissa Duarte. O plano foi um projeto de cooperação técnico-científica realizado entre 2015 e 2018 para desenvolver estudos, diagnósticos, diretrizes e propostas de estratégia do desenho urbano para o centro continental do Recife (engloba os bairros entre o Rio Capibaribe e a Avenida Agamenon Magalhães). Os estudos do plano foram realizados sobre seis eixos: uso e ocupação do solo, patrimônio, economia, infraestrutura urbana, mobilidade e espaços públicos. Uma coleção de quatro livros com os resultados do Plano Centro Cidadão foram entregues à comissão.

Entre as sugestões apresentadas pelas professoras uma dizia respeito ao zoneamento do centro. “É preciso que o zonemaneto seja feito a partir de conceitos das identidades morfo-antropológicas, que considera o potencial das pessoas que já residem na área e as comunidades que ali estão. Não se deve fazer um zoneamento somente a partir de parâmetros urbanísticos para novas construções”, alertou Andréa Câmara.  Outra questão abordada pelas professoras foi a qualificação dos espaços públicos. “Quando falamos em espaços públicos só levamos em consideração os parques e praças. Mas, nunca pensamos nas ruas”, afirmou. Nas ruas, disse ela, é onde são articuladas as relações entre as pessoas. “Essa identificação é fundamental para o Plano Diretor por vários motivos, inclusive porque nas ruas é onde lidamos com a questão da mobilidade ativa sustentável”, concluiu Andréa.

Após a apresentação do Plano Centro Cidadão, os vereadores ouviram a arquiteta e urbanista Circe Monteiro, que é professora do programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano da UFPE. Ela foi a representante, na reunião, do Parque Capibaribe, projeto desenvolvido por um grupo multidisciplinar da Universidade Federal, que reuniu os conhecimentos disponíveis da instituição sobre o Rio e a cidade. “O projeto foi proposto pelo prefeito Geraldo Julio, no seu programa de governo. Quando começamos a trabalhar, ficamos surpresos ao constatar que a cidade havia esquecido da convivência com o principal rio que a corta”, comentou. Esse “esquecimento”, de acordo com a professora, significava, na prática, um prejuízo. “O Capibaribe tem potencial turístico, econômico e pode gerar qualidade de vida para os moradores da cidade”, disse.

Durante dois anos (2015 a 2017) foram realizados vários estudos através do Parque Capibaribe, com levantamentos sobre os animais que vivem no rio e nas suas margens, a identificação das vegetações, a questão da água e dos alagamentos. “Compomos um projeto para o rio, nos dois lados da margem, que totalizam  30 quilômetros, desde o bairro da Várzea até o centro do Recife”, disse Circe Monteiro. Ela acrescentou que os estudos comprovam que o Recife é uma cidade muito vulnerável devido a sua geografia. “É uma das dez cidades mais vulneráveis do mundo. Se houver uma elevação de dois graus no Planeta, isso significará o aumento do nível do mar  e constantes alagamentos na cidade. Por isso, o Parque Capibaribe é um projeto que pensa nas condições de futuro e pode contribuir com informações fundamentais para o Plano Diretor”.


Em 05.09.2019, às 12h35.