Comunidades Acolhedoras oferecem ambiente saudável

Os dependentes químicos que fazem a recuperação gostam tanto da qualidade que muitos se recusam a deixar as Comunidades Acolhedoras após os seis meses de tratamento. São itens como alimentação de qualidade, apoio constante de psicólogos e médicos, ambientes higienizados e saudáveis, entre outros, que compõem um repertório de serviços que se fossem oferecidos por clínicas particulares não sairia barato. As comunidades funcionam como parcerias e muitas pre-existiam como simples abrigos, pois eram ligados a ONGs e instituições religiosas. Após o Programa “Acolhe Alagoas” foram credenciados e adotaram os critérios e exigências da Secretaria Estadual de Promoção da Paz.

Nas comunidades, os dependentes químicos vivem num ambiente que reproduz bons hábitos no dia a dia e tomam consciência do processo de recuperação. E mais que isso, resgatam a dignidade e valores que deixaram na estrada: “É importante oferecer hábitos sadios, com proteção e colaboração, tirando o dependente químico do ambiente das drogas. Nas comunidades, que ficam abertas, os usuários passam a participar de atividades de lazer, artísticas e esportivas, dinâmicas terapêuticas, espiritualidade, academia de ginástica, boas refeições. Eles têm um plano de conquista, que vão recebendo melhorias por merecimento. E se esforçam para conseguir”, relatou o secretário Jardel Aderico.

Quem quiser, pode deixar as comunidades, pois elas nem de longe lembram a imagem de equipamento público fechado no estilo presídio. O funcionamento é das 6h às 22h. Mas as comunidades têm regras e devem ser seguidas. Quem for embora, pode até voltar a fazer o tratamento. No entanto, terá que ir pessoalmente, por adesão voluntária, à Central de Acolhimento, onde passará por toda avaliação. “Quem tem  recaídas, pode voltar ao tratamento, sem problemas, mas percebemos que essas pessoas já passam a ter outra relação com a droga; não aprofundam o uso. O tratamento dura seis meses e muitos abandonam as drogas por completo”, garantiu o secretário.

Na comunidade Sarar, que fica num bairro afastado do centro de Maceió, há muitos jovens. L.P é uma garota de 16 anos, que está “limpa há um ano e meio e continuo hoje por mais um dia”. Quem a vê, não reconhece a moça que vivia na sujeira, com cabelos desgrenhados. “Eu vivi uma vida errada, de violência. Reconheci que precisava de ajuda e vi para mudar”, disse. L.P. compõe raps que falam de mudanças, da condição feminina, de atitudes transformadoras. Outra, também de 16 anos, D.A.C.R, contou que começou a usar drogas por influência de amigos. “Em outubro do ano passado, abri para minha mãe que estava viciada em cocaína. Eu não queria fazer o tratamento, mas terminei aceitando. E hoje, gosto demais. Saí no mês passado, mas volto sempre que posso para visitar as amigas”, relata.

Francisco Paraíso Neto, 32 anos, faz questão de publicar seu nome. Tem orgulho de sua história. “Sou dependente em recuperação, usei crack. Estou limpo há dois anos. Só por hoje, estou limpo”, afirma. Ele chegou a viver nas ruas e comer restos  do lixo. “Meu pai era viciado e eu comecei aos 12 anos. Mas meu pai se tratou e me convenceu a me tratar. Procurei a Central e encontrei o caminho certo. Hoje sou conselheiro terapeuta. Casei, tenho uma filha, Vitória, e com o dinheiro do meu trabalho, já comprei a nossa casa e até uma moto”, diz. Ele trabalha na Comunidade Acolhedora do município de Marechal Deodoro, na Região Metropolitana de Maceió. Outro garoto, Lucas, 24 anos, diz que a mãe ficou viúva e que vários homens da família usavam droga. A mãe chegou a entregá-lo à polícia. “Mas eu mesmo tive força de procurar a Central. E hoje, só por hoje, não uso mais crack. E minha mãe não sofre mais”, afirmou.


Em 10.06.2013, às 11h33.