Cultura de paz é tema de audiência pública na Câmara

Por iniciativa do vereador Eriberto Rafael (PTC), a Câmara do Recife realizou nesta quinta-feira (15) uma audiência pública para discutir a cultura de paz. Gestores de diversos setores do poder público, além de representantes da Polícia Militar e de entidades civis, participaram do evento, que contou principalmente com a presença de jovens e de integrantes de projetos sociais. Violência, discriminação, educação e juventude, bem como a necessidade de políticas voltadas para essas áreas, foram alguns dos temas abordados na ocasião.

Para Eriberto Rafael, a integração entre as discussões sobre uma cultura de paz e o ambiente escolar é um ponto de partida importante para construir uma sociedade menos violenta. Outro encaminhamento sugerido pelo parlamentar foi a valorização de organizações que trabalham com projetos voltados para a juventude. “Achamos que o primeiro passo poderia acontecer nas escolas. Queria muito que levássemos como desdobramento que se pudesse levar as polícias mais para perto da escola para que as próximas gerações não enxerguem os policiais como inimigos. Com a aproximação, a polícia poderia ver a realidade do estudante e o estudante poderia ver a realidade da polícia. Outro desdobramento é que pudéssemos valorizar esse tipo de trabalho que faz com que os jovens se encontrem.”

O vereador ainda falou sobre a necessidade de lidar com fontes de violência enraizadas na sociedade, como o machismo, e do papel que a ausência do poder público pode ter em situações de violência. “Temos um machismo muito forte em todas as classes. É um exemplo negativo que temos dentro de casa. Além disso, quando vamos às comunidades mais carentes, temos um entorno que inspira nas pessoas o abandono do poder público. Isso causa uma revolta que pode gerar violência.”

A entidade que solicitou a realização da audiência, a Comissão Pernambucana pela Paz, foi representada pelo seu coordenador, Tiago Tércio de Campos. Por meio de uma apresentação digital, ele mostrou os trabalhos do grupo – palestras, encontros, atividades culturais – e destacou a necessidade de envolvimento da escola e da família na construção de uma cultura de paz. “Nosso objetivo é trabalhar a cultura de paz. O objetivo da Comissão foi organizar alguns jovens que se indignaram com a questão da violência urbana nas escolas e comunidades. Nós nos reunimos e procuramos pessoas do poder público e do setor privado para tratar dessa questão. Eu acho que o caminho são as escolas. Mas a família é o grande eixo de tudo e precisamos chegar nela.”

O secretário de Segurança Urbana do Recife, Murilo Cavalcanti, participou da mesa de debates da audiência. Ele frisou a importância da ação do poder público, e especialmente do Governo Federal, para a contenção da violência, e destacou a eficácia de projetos como o dos centros comunitários da paz (Compaz). “Há uma omissão, principalmente, do poder público federal nessa questão. É urgente que o Brasil coloque na ordem do dia os direitos humanos, a cidadania e o direito à vida. A escola pública de qualidade não vai responder aos anseios dos jovens. Ela é fundamental, mas eles querem mais do que isso. Eles querem um espaço de convivência cidadã. São políticas integradas de território que vão mudar a face de um bairro.”

A secretária executiva de Direitos Humanos do Recife, Elizabete Godinho, lembrou que a cultura de paz foi promovida oficialmente pela Organização das Nações Unidas e explicou como ela promove uma mudança nas relações sociais. “A violência faz parte de um caldo social que tem a ver com nossa incapacidade de ver o outro como nosso semelhante. A paz é aquele momento em que a sociedade se reconstrói não em relações de agressividade, mas de respeito. Precisamos sair de um lugar em que percebemos o outro como alguém que causa medo. Precisamos nos olhar como seres humanos e, como seres humanos, temos a habilidade de fazer uma construção diferente das nossas relações. E isso passa pelas políticas públicas e pela pauta dos direitos humanos.”

O tenente Moreira representou o 13º Batalhão da Polícia Militar na audiência e afirmou que a polícia deve ser encarada como uma parceira na promoção da paz. “Unidos, vamos conseguir ter melhores resultados. É importante frisar que a polícia não deve ser vista como uma inimiga da sociedade. Isso é um resquício da ditadura militar. Não existe essa dicotomia. O policial é integrante da sociedade e também é afetado pela violência.”

Representando a Secretaria de Educação do Recife, Rossana Tenório explicou que a pasta aborda a cultura de paz por meio de um núcleo específico e pela integração com outras secretarias. “Temos buscado isso por meio do Núcleo de Enfrentamento à Violência Escolar, idealizado pelo professor George Pereira. Desde 2015 nos esforçamos para trabalhar nesse núcleo por uma cultura de paz e chegamos com esse tema à maioria das escolas no ano de 2016. Temos feito um trabalho de articulação com outros órgãos para fazer emergir essa cultura nas escolas e permitir que nossos estudantes tenham outras oportunidades de cultura, esporte e lazer.”

Gerente de Proteção Participativa ao Cidadão da Secretaria de Desenvolvimento Social, Ary Siqueira fez uma defesa da articulação promovida pelo ex-governador Eduardo Campos na área de segurança. “Precisamos dar o viés que foi implantado a partir de 2007. Eduardo trouxe para ele a responsabilidade para que a gente mudasse a cultura de política de governo e tratássemos isso como uma política de Estado. O Pacto Pela Vida foi criado por diversas mãos e não inventou a roda, mas trouxe uma responsabilidade para que todos os segmentos tratassem de segurança.”

O coordenador do projeto Fábrica de Criação, Genivaldo Francisco, citou os números de um mapeamento feito por ele e que apontam que há uma quantidade considerável de jovens envolvidos em iniciativas sociais e culturais no Recife. Em seguida, integrantes do projeto Fábrica realizaram duas intervenções – a leitura de um texto e a encenação da morte de um jovem que rejeitou ser cooptado pelo tráfico. “Eu fico preocupado quando falamos de juventude e o viés é de violência. Essa juventude está pedindo nossa atenção e políticas públicas. Eles estão pedindo que a gente escute e faça junto.”

A audiência pública ainda contou com a participação do público presente, que pôde fazer questionamentos à mesa. Integrantes de diversos segmentos sociais, como as torcidas de futebol organizadas e o movimento LGBT, se manifestaram para fazer suas considerações.

Em 15.06.2017, às 17h50