Desaparecidos políticos são homenageados na Câmara

Uma homenagem aos desaparecidos políticos de Pernambuco, que combateram a ditadura militar, juntamente com a Comissão Estadual da Verdade e com os familiares dos desaparecidos políticos. Esse foi objetivo da Reunião Solene realizada na Câmara durante a tarde de hoje, 31, e promovida pela vereadora Marília Arraes (PT).

A parlamentar detalhou a fase da ditadura militar onde milhares de pessoas foram presas, torturadas e tiveram direitos políticos cassados. “O DOI-CODI visava exclusivamente prender, torturar e matar opositores políticos. A luta pelo esclarecimento das mortes e desaparecimentos políticos ocorridos durante o período da ditadura. De início, foram os grupos de familiares que, em diferentes estados, começaram a se organizar para denunciar não somente as mortes e desaparecimentos de seus entes queridos, mas, também as torturas e as péssimas condições pelas quais passavam os presos políticos na época”.

Marília Arraes elencou alguns nomes de desaparecidos e citou movimentos em favor da anistia. “O primeiro morto oficial, nessa época, é de julho de 1975, José Ferreira de Almeida. Mas só chegou à opinião pública o caso de Wladimir Herzog, oficialmente morto em outubro daquele ano. Por essa ocasião, também se iniciaram as primeiras articulações para se construir um movimento em favor da anistia. Formaram-se entidades como “Movimento Feminino pela Anistia e Liberdades Políticas” e os “Comitês Brasileiros pela Anistia”.

A vereadora ressaltou, finalizando suas palavras, que a data 31 de agosto não fosse marcada pelo medo ou pela opressão. “Diante do golpe político sofrido hoje, pela Presidenta da república, Dilma Rousseff, vamos transformar o 31 de agosto em um dia de luta e resistência. Por isso fizemos uma proposição a esta Casa para que nesta data seja instituído o Dia Municipal em Memória dos Desaparecidos Políticos. No próximo dia 16 de setembro será marcado o 37º aniversário do retorno de Arraes do exílio. Ele não se rendeu aos que queriam praticar a injustiça assim como a presidenta Dilma”.

Edival Nunes Cajá, presidente do Centro Cultural Manoel Lisboa, lembrou do movimento criado por Dom Helder e de um documento enviado à Dilma Rousseff. “Aqui em Pernambuco Dom Helder criou uma comissão de justiça com a finalidade de ser a voz daqueles que não tinham e esta comissão começou a ser percebida. Gostaria de recordar que dentre as 39 recomendações enviadas à Dilma identificou-se que os casos de tortura que levaram à execução tiveram ordenamento direto do Exército, Marinha, Aeronáutica ou Presidência da República. A Comissão Nacional da Verdade enviou ofício aos comandantes das forças, mas eles negaram. As instituições deveriam reconhecer o erro e precisariam ser punidas exemplarmente”.

O presidente do Centro Cultural Manoel Lisboa também fez uma análise da conjuntura política. “Os tempos são outros, mas muitas pessoas estão inconformadas com a perda das eleições para a presidência da república. Hoje foi uma ação política dos mais poderosos que fizeram um julgamento para criminalizar, principalmente, os integrantes do PT”.

Davi lira, da União dos Estudantes Secundaristas de Pernambuco e Thiago Santos, do Sindicato dos Trabalhadores de  Telemarketing de Pernambuco também lembraram o assunto. “Esse momento importante para fazermos uma reflexão do nosso papel. A juventude não pode esquecer isso.  Consolidou-se um golpe obscuro e machista.  Precisamos elevar a consciência da juventude e dos trabalhadores do nosso país”, ressaltou Davi Lira. “O nosso país enfrenta um golpe parlamentar promovido pelas mesmas classes dominantes, donas das grandes extensões de terra, bancos, meios de comunicação e transporte. São essas mesmas classes que estão financiando e dando sustentação que foram responsáveis pelo golpe de 1º de abril de 1964, quando centenas de pessoas foram mortas , desaparecidas e torturadas. Nunca vamos esquecer os nossos mortos. Foram 21 anos de um regime de cerceamento da liberdade democrática’, completou Thiago Santos.

Marcus Vinícius, da União dos Estudantes de Pernambuco frisou o papel da juventude na política.  “Esses brasileiros, inclusive estudantes, pagaram com que há de mais doloroso, que é a vida. Mesmo após o fim da ditadura, o estado brasileiro não teve a hombridade de responder às famílias dos desaparecidos. Foram jovens que queriam uma sociedade sem injustiça, opressões, educação de qualidade e o fim da ditadura. Essa bandeira continua erguida.  Quero parabenizar a vereadora Marília Arraes pela causa”.

Serginaldo Quirino, Coordenador da Central de Movimentos Populares de Pernambuco (CMP), fez questão de ressaltar a importância da punição no Brasil. “Se o Brasil tivesse punição, não teríamos golpe em nosso país. Esse ato para nós e fundamental porque resgata essa historia e deveria ser permanente. As pessoas que foram assassinadas pagaram com suas vidas. São  tempos difíceis, hoje, onde podemos perceber que a tendência é uma maior repressão daqueles que lutam. Vamos à luta”.

Em 31.08.6 às 18h43.