Audiência Pública celebra Dia Internacional da Parteira

“A prática da parteira não está esquecida e não vai morrer nunca. Defendo de carteirinha essas mulheres. Na minha segunda gestação tive a honra e oportunidade de vivenciar um parto nas mãos de uma parteira. E os nossos filhos vão continuar a nascer pelas mãos dessas grandes mulheres”. Essas foram as palavras iniciais da vereadora Isabella de Roldão (PDT) na abertura da Audiência Pública no Plenarinho hoje (2), promovida pela parlamentar, para celebrar o Dia Internacional das Parteiras, comemorado no dia 5 de maio.

Isabella de Roldão também citou que a humanização no nascimento é uma discussão que deve ser levada adiante. “Por isso a importância da presença de todas as esferas nesse debate. Que a gente saia daqui com encaminhamentos e objetivos, e vamos abrir espaço a essas mulheres que entendem de fato a natureza do nascimento até a finalização do parto”, completou.

Marcely Carvalho, coordenadora do Cais do Parto, falou sobre a aproximação das parteiras com as famílias e da importância do encontro na Casa. “Muitos vivenciaram o nascimento de uma criança em casa, e depois nos tornamos praticamente um membro da família. E esses espaços, como a Câmara Municipal do Recife, são importantes para discutir o assunto. Essa Mesa representa muita força e importância. Sou uma parteira tradicional e respeita a natureza do corpo da mulher, que é a protagonista do momento em que o filho vem ao mundo. Temos parteiras tradicionais, hospitalares, outras mais técnicas, ou seja, muitas linhas de trabalho no Recife, que vem sendo referência no Brasil todo”. Marcely também frisou o exemplo do Amapá, onde as parteiras são altamente organizadas e reconhecidas. “O Amapá possui um reconhecimento diferenciado com ajuda de custo do governo. Então é preciso fazer Políticas Públicas das parteiras para Pernambuco”, disse.

Uma das convidadas da mesa de debates, Maria dos Prazeres, é um exemplo de tradição entre as parteiras: já fez quase 6 mil partos. “Muitas ligam para mim de madrugada. Digo que tenho um passado de luta, o presente de reflexão e um futuro de glória. Sou muito feliz em ser parteira.” Sílvia Cordeiro, da Secretaria da Mulher do Recife, confessou que já conhecia o trabalho de Prazeres e também da importância dessas profisisonais. “Sou médica de formação e sei dessa luta de Prazeres. O nordeste é rico por essas práticas do parto tradicional, então é preciso considerar as parteiras tradicionais e caminhar para um Sistema Único de Saúde que atenda todas”.  Outra parteira de tradição, Zefinha,  contou como começou a trabalhar e as dificuldades que enfrentou. “Tenho 74 anos e, desde os meus 26, vivo nessa luta. O transporte naquela época era de bicicleta ou cavalo. Então, um dia minha vizinha entrou em trabalho de parto, me chamou para fazer o parto, e deu certo. A notícia se espalhou e começaram a me chamar para tudo, até para brigas. Em Caruaru também ajudo muito a Associação das Parteiras e também os partos que aparecem. E assim, vamos trabalhando e ajudando as nossas gestantes”, disse.

Daniela Gayoso, do Instituto Nômades, exibiu os slides sobre os “Saberes e Práticas das Parteiras Tradicionais de Pernambuco”, onde seis municípios pernambucanos foram estudados e os dados coletados. “Foram incluídos nessa pesquisa as cidades de Jaboatão, Palmares, Igarassu, entre outros. Sentimos a necessidade de estender a pesquisa também para as parteiras indígenas. Somatizamos 229 parteiras, incluindo as indígenas. Algumas são rezadeiras, muitas com conhecimentos de plantas medicinais. Percebemos também a celebração do nascimento onde os que estão presentes bebem a cachaça com mel (cachimbada)”. Daniela Gayoso também citou outras constatações do estudo, como utilização de chás e de rituais. “Práticas de massagens na barriga da mulher e para até acelerar o trabalho de parto, a utilização de chás de ervas, banhos, e até um ritual onde os maridos enterram a placenta depois do nascimento. Percebemos também algumas interdições alimentares no resguardo”, disse.

O médico Olímpio Moraes, da Gerência de Atenção à Saúde da Mulher de Pernambuco, confessou que reconhece a limitação médica em relação às parteiras. “A gente saiu da faculdade sem saber que existiam as parteiras. Os nossos livros técnicos são feitos por cirurgiões. Escuto de vocês aqui muitos ensinamentos, pois é uma conduta baseada em vivência”, disse. Olímpio também disse que o modelo adotado no Brasil é inadequado. “Temos que respeitar a mulher. O que existe hoje é um modelo inadequado no Brasil. Todos estão procurando dar uma boa assistência à mulher, mas infelizmente existe uma luta para ganhar mais. Nós temos é que fazer capacitação, trazer o movimento das mulheres e aproximar o hospital das comunidades. Não é bom trabalhar separado, precisamos unir forças. Existe um isolamento, discriminação e até desinteresse da nova geração”, disse.

 

Em 02.05.13 às 13h01.