Câmara Municipal do Recife
Evasão escolar é tema de audiência pública
Para a vereadora, a questão de lidar com os alunos faltantes não é fácil. Razão pela qual ela propôs o debate. “O principal é se prevenir, pensando em todas as possibilidades de problemas que os alunos possam ter. Essas hipóteses podem ser levantadas por meio de diálogo com os professores e outros profissionais da educação. Certamente os professores conseguirão citar vários exemplos de casos de outros alunos que tiveram anteriormente. O ideal mesmo é que se evitem problemas maiores, identificando e resolvendo problemas de excesso de faltas assim que eles começarem a se manifestar”, comentou a vereadora na abertura da audiência pública.
Fizeram parte da mesa de debates a professora da Rede Municipal de Ensino, Jesiane Dionízio da Silva; a mãe de um estudante da Rede, Amanda Derika; a auxiliar de Desenvolvimento Infantil da Rede, Alíria Monteiro; a gestora de uma escola da Rede, Adélia Muniz; o conselheiro tutelar, Neto Ferraz; a diretora Executiva de Gestão da Rede, Maria Costa; a representante do Fórum Municipal de Educação, Ivanete Paulino; e o presidente do Conselho Municipal de Educação, Luiz dos Santos. Ana Lúcia estimulou o debate ao dizer que, quando se trata do tema educação, o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê a existência da chamada Responsabilidade Partilhada.
“Com base na Constituição Federal de 1988, no Estatuto da Criança e do Adolescente, e na Lei de Diretrizes e Baes, quando o tema é educação, a família, a escola, o Conselho Tutelar, os Conselhos da Educação, o Conselho da Criança e do Adolescente, a Diretoria de Ensino, as Secretarias de Educação e da Assistência social e saúde, o Ministério Público, e o Judiciário são parceiros necessários”. Ela considerou que a intervenção conjunta, inclusive desses diversos setores, é a medida que melhor atende no combate ao problema do abandono escolar.
Lotada na Escola Municipal Sítio do Céu, em Santo Amaro, a professora Josiane Dionísio ensina no quarto ano no turno da manhã e, na correção de fluxo, à tarde. “Vou falar do que vivo na prática. O professor sente os resultados no aprendizado quando compara um aluno que sempre vai à aula e aquele que falta. O aprendizado flui para o que frequenta a escola. Concordo que a infrequência é uma responsabilidade de todos, sobretudo da família, que precisa acompanhar o filho no processo educativo; da escola, que precisa escolarizar de forma mais prazerosa e oferecer um ensino mais atraente; e do estado, que precisa proporcionar uma educação de qualidade”, avaliou.
Amanda Gomes é mãe de aluno na mesa escola onde Josiane Dionísio é professora. “Eu sempre entendi que a educação é o valor mais importante para meu filho. Por isso, enfrentei vários obstáculos para mantê-lo na escola, para que ele continuasse frequentando a sala de aula. Mas, superei todos os problemas, inclusive as questões de saúde. No período, meu filho precisou fazer tratamento de quimioterapia e tão logo ele estava em condições, já voltava a frequentar a escola”, afirmou.
A diretora Executiva de Gestão da Rede, Maria Costa, garante que os números da evasão nas escolas municipais do Recife, sobretudo nas séries iniciais, estão diminuindo. “Digo isso, mas continuamos atentos, pois se trata de um problema que nos preocupa bastante”, comentou, exibindo os dados. Segundo Maria Costa, no ensino fundamental 1, a evasão escolar atingiu 2,7% do total de alunos da Rede Municipal do Recife em 2014. No ano seguinte, baixou para 0,7%; em 2016, foi para 0,8% e no ano passado, ficou em 0,5% (o total de alunos matriculados na Rede é 91 mil, em 309 escolas). Já no ensino fundamental 2, disse ela, o abandono escolar é maior. Em 2014, o percentual atingiu 25,6% do total de alunos, passou para 22,7% no ano seguinte; baixou para 18,9% em 2016 e atingiu 16,5% no ano passado.
“Como se pode constatar, a evasão é bem maior nas séries finais. A leitura que fazemos disso é que os adolescentes deixam de ir às aulas para ir em busca do trabalho. Precisam se manter. Ou seja, a infrequência, nesse caso, deixa de ser uma questão da família e vira um problema social. Quando esse adolescente volta a frequentar a escola, já traz consigo outro problema, que é o de distorção, exigindo a correção da idade-série”, disse.
Maria Costa afirmou que a Secretaria de Educação da Prefeitura do Recife adota um projeto elaborado pelo Ministério Público do Estado para combater os índices de evasão escolar. Por isso, desde que o projeto foi adotado (2014), os números vêm sendo reduzidos nas séries iniciais. “Trata-se do Projeto Voltei, que foi encampado pela Secretaria e pelo Conselho Tutelar. É um projeto de rotina e que vem apresentando bons resultados”, afirmou.
O Projeto Voltei pressupõe o envolvimento da família para combater a infrequência. Quando o professor percebe que o aluno está faltando seguidamente, leva o problema para os gestores da escola, que chamam a família para conversar. “Em alguns casos, o professor vai até a casa do aluno, para saber o que está acontecendo. Estamos conseguindo reduzir a evasão na minha escola. Mas, digo com certeza, esse processo depende muito da participação da família”, afirmou Adélia Muniz, gestora da Escola Municipal Poeta Solano Trindade, do bairro de Água Fria.
Em 27.11.2018, ás 12h30.
