Fred Zero Quatro é Cidadão do Recife

Fred Zero Quatro, codinome artístico de Fred Rodrigues Montenegro, é um dos músicos brasileiros mais importantes da atualidade. Nascido em Jaboatão, em 1962, construiu uma carreira artística que sempre teve o Recife como base profissional e fonte de inspiração. Apesar de jornalista de profissão, foi cantor e compositor que Zero Quatro se consagrou junto à crítica e ao público. E para celebrar e reconhecer a carreira do músico, o vereador Jurandir Liberal (PT) concedeu o Título de Cidadão do Recife a Fred Zero Quatro, na tarde de hoje,25. O vereador Alfredo Santana (PRB) presidiu a solenidade.

Influenciado pelo movimento punk e pelo balanço bem brasileiro de Jorge Ben, Zero Quatro formou, em 1984, a Mundo Livre S/A, banda com a qual, anos depois, entraria para a história da música. É dessa época, também, o codinome artístico "Fred Zero Quatro", que aproveita os dois últimos números de sua carteira de identidade para fazer uma crítica irônica à sociedade totalitária descrita em livros como "1984', do escritor inglês George Orwell.

O vereador Jurandir Liberal lembrou os primeiros tempos da Mundo Livre quando o Recife não fazia parte do mapa das grandes gravadoras. “O Brasil vivia sua "década perdida", com a economia estagnada e o preço alto dos instrumentos musicais nas alturas. As coisas começaram a mudar apenas no início da década de 1990. É aí que, ao lado de um amigo de Rio Doce, Olinda, chamado Chico Science, ele começou a pensar os conceitos e os sons de um movimento que teria um impacto enorme na cultura pernambucana e brasileira: o mangue beat. A ideia de Zero Quatro e seus amigos, de acordo com o parlamentar, era criar uma cena cultural no Recife tão rica e diversificada quanto esse ecossistema”.

O primeiro disco do Mundo Livre, chamado Samba Esquema Noise, lançado em 1994, apresentou o conceito mangue para o resto do Brasil. “Considerado, hoje, um dos discos mais importantes da história recente da nossa música, esse cd abriu uma carreira profissional que gerou outros álbuns clássicos”,frisou o vereador.

O currículo de Zero Quatro envolve, ainda, trilhas para cinema, como a do premiado Baile Perfumado, balé e teatro, participações em projetos paralelos, como os que homenagearam as obras de Luis Gonzaga e Nelson Cavaquinho, e incontáveis participações em discos dos artistas mais renomados da música brasileira. “Aos 54 anos, casado com Maria Eduarda Gusmão, pai de Caio e Vítor, Zero Quatro é, hoje, uma referência obrigatória quando se quer pensar a trajetória recente da cultura pernambucana e brasileira. Sua obra desponta como assunto de estudo de numerosas teses acadêmicas e merece o respeito e carinho de fãs de todas as gerações. Suas composições embalaram os amores, as dores, os sonhos de numerosos brasileiros e brasileiras.  Parabéns! Obrigado por tudo! E que sua música continue a cantar nossa cidade e a circular pelo mundo por muitos e muitos anos”, finalizou Jurandir Liberal.

Emocionado, Fred Zero Quatro iniciou o discurso lembrando do pai, José Rodrigues Montenegro. “Nessas últimas horas lembrei muito do meu pai. Ele teria muito orgulho do dia de hoje. E  apesar de não ter  cumprido o anseio dele, que era o de tornar-me militar, de certa forma ele orgulhou-se de mim quando ingressei na carreira de jornalismo”.

A aproximação com o Recife, segundo o músico, aconteceu quando o pai o matriculou, quando criança, num curso preparatório, localizado na rua Manoel Borba, para o colégio militar. “Pegava um trem na estação central em Jaboatão dos Guararapes, passava por várias paradas, descendo aqui, no centro da cidade, e  caminhava mais uns 20 minutos. Naquela época, apesar de toda precariedade, um garoto de 9 anos andava sozinho, sem os pais ficarem apavorados.  Adorava pegar o trem. E minha relação com o Recife foi se tornando mais cotidiana. Estudei no Colégio Militar e, em 1974, mudamos para Candeias. Passei a ser um garoto de praia de Candeias, assim como Chico Science era de Olinda com o horizonte longínquo dos prédios do Recife”.

Zero Quatro confessou , na tribuna, que viver de música não é fácil e receber o Título de Cidadão do Recife na Câmara representa um grande estímulo. “Atualmente são várias as cadeias produtivas sendo colocadas em xeque diante dos paradigmas tecnológicos atuais. E receber um Título como esse é um estimulo para a gente acreditar na cidade e ter coragem para enfrentar todos os obstáculos. Quero agradecer Jurandir Liberal e todos os vereadores que aprovaram essa iniciativa. Agora temos a rádio Frei Caneca, numa batalha que começou aqui na Câmara, com o saudoso Liberato Costa Júnior. Comecem a sintonizar a rádio e vamos levar a cultura e a música do Recife para cada vez mais longe”.

Em 25.08.16 às 17h47.