Incidente com vereador leva Câmara a criar comissão

Incidente ocorrido em uma desocupação de uma área ribeirinha no bairro da Várzea, sexta-feira 6, quando o vereador Davi Muniz (PROS) teria sido agredido com socos por um delegado que presta serviços uma secretaria municipal, arrebanhou enorme fila de apartes para emprestar solidariedade ao colega agredido, ao mesmo tempo em que exaltaram a prerrogativa do poder legislativo de fiscalizar as ações do Executivo sem ser maculado. O ocorrido levou o presidente da Câmara do Recife, que junto com mais 12 parlamentares estiveram no local, a criar uma comissão para acompanhar as investigações. A comissão composta por Henrique Leite (PT), Aerto Luna (PRP), Marcos Di Bria (PTdoB) Almir Fernando (PCdoB) e Marcos Menezes (DEM), deverá acompanhar o desenrolar das investigações, uma vez que o agredido prestou queixa em Delegacia.

Davi Muniz disse que acordou com atos de terrorismo praticados contra dez famílias desapropriadas de suas casas sem mandado, sem ordem judicial. “Vi homens e mulheres serem retirados à força, por policiais armados. Estou revoltado com a truculência aplicada às famílias. Fui pessoalmente agredido por um delegado. Ele me bateu nas costas e na orelha. Tentei falar com representantes da secretaria de Mobilidade Urbana e me deram às costas. Há interesses políticos envolvidos na ação. Este poder foi desmoralizado”.

Isabella de Roldão (PDT) criticou a forma como as pessoas foram tratadas, com violência sob a desculpa de proteger o leito do rio. “É um processo autoritário que estamos vivendo hoje na cidade”. Osmar Ricardo (PT) disse que a Casa precisa ser respeitada no exercício da fiscalização. “Eles chegam sem autorização para retirar as pessoas de qualquer jeito. A época da ditadura já passou. A ação pode ser feita sem truculência. O delegado citado e o secretário têm de responder pelos atos praticados, até mesmo com afastamento”. Almir Fernando frisou que alguns princípios foram infringidos, pois em nenhum momento foi mostrado documento  que legalizasse a ação. “O delegado já foi vereador e consta que estava prometendo casas para as pessoas, talvez porque seja candidato. Usava distintivo quando está afastado de suas funções, prestando serviço à PCR”.

Gilberto Alves (PTN), líder do governo, disse que esteve no local no dia do incidente e pode acompanhar de perto o sofrimento das pessoas. No entanto, ponderou que as casas oferecem risco de vida e por isso precisavam ser retiradas porque é área de proteção ambiental, protegida por leis municipal, estadual e federal. Mas lembrou que nada justifica a ação violenta. “As ações devem ser realizadas dentro da lei”.  Antônio Luiz Neto (PTB) frisou que a Dircon exerce trabalho da maior importância no controle urbano, mas é preciso ponderar que o Recife nasceu de uma ocupação. “O Trabalho de retirada vem sendo feito desde outras gestões e é preciso a cidade buscar um projeto de regularização dessas áreas. O executivo precisa tomar conhecimento do ocorrido para tomar uma posição, porque não é possível desrespeitar esse poder público”.

Aerto Luna (PRP) disse que estava solidário ao colega e à comunidade vitimada pela ação truculenta de alguns agentes da administração. “Nada justifica a forma como foi feita”. Wilton Brito (PHS) afirmou jamais haver visto tamanha violência e momento tão triste. “Experimentei a dor daquelas pessoas chorando sobre os escombros”. Eriberto Rafael (PTC) lamentou a atitude dos funcionários e disse que estava se tornando prática nas desocupações, citando Roda de Fogo, Casarão do Cordeiro e outras. “É Preocupante que esta secretaria aja dessa forma em diversos locais. É um absurdo e preocupa”. Vicente André Gomes (PSB) disse que queria se posicionar em relação ao episódio, criou a comissão parlamentar, e lembrou que esse poder precisa ser respeitado de qualquer forma. “A comissão vai averiguar os depoimentos e queixas registradas em delegacias pelas duas partes. Precisamos esperar e tomar posição. Sou solidário a todos os vereadores que venham sofrer esse tipo de abuso”.

Amaro Cipriano Maguari (PSB) disse que já houve desocupações em áreas de preservação, e duas delas foram sustadas pelo ex-governador Eduardo Campos porque não havia lugar  para onde levá-los. “Lembro que as secretarias habitacionais não recebem verbas para construir casas”. Luiz Eustáquio (PT) acha que não há o que discutir a não ser a forma como foi feita. “A comissão não deve ir até o secretário, ele é quem deve vir aqui prestar esclarecimentos”.

Em 09/03/2015 às 18h39