Intervenções no trânsito do Recife são debatidas em reunião pública
A reunião pública, realizada no plenarinho, foi uma iniciativa da Comissão de Meio Ambiente, Transporte e Trânsito e serviu como debate de aperfeiçoamento do plano que o secretário João Braga apresentará ao prefeito Geraldo Júlio nos próximos dias, propondo a implantação de medidas para diminuir os problemas do trânsito. “O Recife será uma das cidades com o maior número de corredores e faixa exclusivas de ônibus. A Avenida Domingos Ferreiras, por exemplo, terá duas faixas somente para o transporte público. Também ampliaremos o número de ciclovias. Com isso, vamos quebrar a lógica que sempre foi a de se construir pontes, abrir ruas e ampliar corredores para o transporte motorizado individual”, complementou o secretário.
Foi exatamente a implantação de medidas restritivas ao transporte individual que prevaleceu na reunião. “Ela é diferente do rodízio que se adotou em cidades como São Paulo, por exemplo. O rodízio atinge toda a cidade, durante o dia todo. A nossa ideia de restrição é limitar algumas áreas para circulação de carros, durante algumas horas do dia. Serão áreas pequenas, que serão observadas, analisadas. Se derem certo, serão ampliadas para outras”, afirmou Braga. Ele disse que existem grandes gargalos no trânsito do Recife, que exigem medidas de impacto. “A questão da mobilidade passou a ser pautada somente quando ela atingiu todas as classes. Hoje, 30% da população do Recife usam carro, ocupando 70% do sistema viário”, observou.
João Braga, no entanto, não definiu o início das restrições ao transporte individual, nem por onde a experiência será começada. A mesa da reunião foi presidida por Jurandir Liberal (PT), também presidente da Comissão de Meio Ambiente, Transporte e Trânsito; Priscila Krause (DEM); Gilberto Alves (PTN); Aerto Luna (PRP); o secretário João Braga e o ex-vereador Liberato Costa Júnior; além deles estiveram presentes os vereadores Romerinho Jatobá (PR); Vicente André Gomes (PSB), presidente da Câmara Municipal do Recife; Aline Mariano (PSDB); Henrique Leite (PT); Raul Jungmann (PSDB); Amaro Cipriano Maguari (PSB); Aderaldo Pinto (PRTB); André Régis (PSDB); Rogério de Lucca (PSL); Carlos Gueiros (PTB) e Jayme Asfora (PMDB). Participaram também técnicos da área de transporte e trânsito e professores.
Dentro dos debates foram ressaltados os dois projetos de lei que já tramitam na Câmara Municipal do Recife com temas semelhantes ao da reunião. O projeto de lei número 77/2010, de Gilberto Alves, sugere programas de restrições no trânsito, mas deixa as definições técnicas a cargo do Poder Executivo. Outro, mais antigo, é o 19/2008, de Liberato Costa Júnior, que trata do rodízio de carros em toda a cidade. “Não fiz o meu projeto aleatoriamente. Sou conhecedor do Recife e das experiências de rodízio em São Paulo e no México. Eu acho que podemos usar essa mesma sistemática para minorar os problemas do trânsito”, disse Liberato. “Já o meu projeto tem o objetivo de criar condições de o Poder Público dar à cidade o conforto de um trânsito funcional na cidade. Por isso, entendo que a restrição que está sendo proposta é ideal, pois serão intervenções pontuais que serão analisadas para garantir o direito de mobilidade”, disse Gilberto.
O vereador Jurandir Liberal, que é autor do projeto de lei que virou a lei 17.694/2011, criando o Sistema Ciclovário do Recife, aplaudiu a iniciativa de o secretário vir à Câmara Municipal para discutir um tema de impacto para a cidade, antes de ser executado E prometeu que os dois projetos de lei que tratam da questão das restrições de carro no trânsito serão agilizados, para compor o plano da Prefeitura do Recife. A vereadora Priscila Krause afirmou que a restrição que se pretende implantar é uma medida corajosa. “A lógica da Prefeitura, da restrição, está correta. Mas é uma medida impopular, que exige coragem para ser tomada. O desafio é definir como ela será feita. É preciso fazê-la com calma, com tempo, não se pode fazer de uma hora para outra. É preciso ter bases científicas e não ficar apenas em cima do achismo”, disse. Jurandir complementou o pensamento da vereadora propondo que a PCR realize uma pesquisa de origem-destino dos passageiros que usam o sistema público de transportes do Recife, para detectar onde estão localizados os problemas do trânsito.
Raul Jungmann questionou a definição que o secretário João Braga está usando para as medidas do trânsito. “Isso é de fato um rodízio. A diferença para o que ocorre em São Paulo é apenas o número de horas que o carro não pode circular na cidade. O rodízio não é uma medida viável”, criticou. A engenheira civil Manoela Dantas, coordenadora da Câmara de Acessibilidade e Mobilidade do Clube de Engenharia, reforçou a necessidade de se realizar a pesquisa origem-destino dos passageiros. “Ele é o primeiro passo para se embasar um planejamento”, disse. Manoela acrescentou que a implantação de corredores de ônibus também é uma medida positiva, mas que não é a solução final dos problemas de trânsito, principalmente no raio Norte-Sul que, em seu entender, exige a expansão do metrô.
Em 03.04.2013, às 13h36.