Irmã Valéria é Cidadã Recifense

Diante de um plenário repleto de freiras, padres, fiéis católicos e moradores do Alto José do Pinho, Maria Lopes Teixeira, a Irmã Valéria, recebeu o Título de Cidadã do Recife durante reunião solene, na Câmara Municipal, na manhã desta quinta-feira (27). O autor da iniciativa, vereador Hélio Guabiraba (sem partido), enalteceu o trabalho desenvolvido há 56 anos na comunidade pela religiosa e contou que ao tomar conhecimento de tantos feitos, fez questão de prestar esta homenagem. A solenidade foi conduzida pelo presidente da Casa, vereador Eduardo Marques (PSB).

A Irmã Valéria nasceu na cidade de Senador Pompeu, no Ceará, em 22 de maio de 1941, filha de Manoel Lopes Teixeira e Edite Moreira Lopes. Chegou ao Recife em 1962 e, um ano depois, conheceu o Alto José do Pinho – onde passou a catequisar nas ruas  – vindo a pé do Colégio Damas, no bairro Graças. Dedicou-se, desde então, a atividades sociais envolvendo crianças, jovens, adultos, idosos e suas famílias. Participou da construção do Centro Social Dom João Costa, da Escola Municipal Santa Maria e de muitas moradias.

O vereador Hélio Guabiraba agradeceu aos presentes na cerimônia e se afirmou muito feliz em ter a oportunidade de homenagear a Irmã Valéria. Disse que ficou admirado ao conhecer a sua história e os trabalhos prestados. “É uma honra prestar um reconhecimento a uma pessoa que tem o talento e a sensibilidade de se dirigir às outras pessoas”. Um ramalhete de flores foi entregue à homenageada por Darlene Sales, esposa do parlamentar.

Numa quebra de protocolo, o vereador passou a palavra ao agente aposentado da Polícia Federal, João Evangelista, morador antigo do Alto José do Pinho.  Ele disse que nasceu e se criou no local, da mesma forma, que o seu pai,  também presente à solenidade. Lembrou histórias do morro, falou do carinho que todos têm pela Irmã e ressaltou que “rico não é o homem que tem bens materiais. Rico é aquele que tem amigos, como a Irmã Valéria”.

Em seguida, o gerente de projetos Sociais do Centro Social Dom João Costa, Renato da Silva Carneiro, fez também o seu discurso. Ressaltou que a comunidade é marcada pela luta e pela participação política. “Tenho a alegria de conhecer uma pessoa que dedica a vida a um bairro vulnerável, que busca o seu protagonismo”. A Irmã Valéria, disse ele, nasceu em plena Segunda Guerra Mundial e viveu as dificuldades de um período marcado pela escassez e dificuldades. “Na adolescência ela já exercia um trabalho para as comunidades próximas à propriedade da família e foi se identificando com o trabalho de dedicar a vida a todas as pessoas”.

Destacou também que, desde que ela chegou ao Alto José do Pinho, só saiu de lá duas vezes, quando foi transferida para a cidade de Branquinha, em Alagoas, e para Santa Isabel do Ivaí, no Paraná. Disse ainda que nunca deixou de evangelizar, impactando a vida dos moradores e mantendo a disposição em melhorar as suas vidas.

Quando ocupou a tribuna para o seu pronunciamento, a Irmã Valéria avisou que estava emocionada e fez um discurso entrecortado por lágrimas. Ela agradeceu ao bairro que a acolheu desde a sua chegada ao Recife. “Tornei-me cidadã do Alto José do Pinho, mesmo antes de ser cidadã recifense”. De um jeito humilde, contou que quase recusava a homenagem. “Custei muito a dizer o meu sim a esta honraria, porque não fui acostumada a sentar em grandes mesas, mas em torno de mesas pequenas, com os pés sujos de lama”.

Falou das dificuldades vivenciadas por sua família no interior do Ceará, numa época em que muitas crianças morriam nos primeiros anos de vida. Chorou ao falar o nome dos seus pais, que enfrentaram o desafio de criar e educar cinco filhos. “Eu fugi de casa, em 1962 para me tornar freira”. Narrou que no Recife foi “bem recebida e acolhida” e que conheceu o Alto José do Pinho no dia 24 de dezembro do ano seguinte. Destacou nutrir pelas pessoas e pelo local, desde então, “um sentimento recíproco do mais nobre amor”.

A Irmã Valéria fez muitos agradecimentos, desde a Arquidiocese de Olinda e Recife, passando pela  Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, até aos muitos colaboradores. Falou que teve como alunos, artistas do morro, como o músico Canibal – presente à solenidade – além de advogados, políticos entre outros. Foi aplaudida de pé. Durante a solenidade, a Orquestra Social Dom João Costa encheu o plenário da Casa de músicas clássicas e populares.

Participaram também da mesa da solenidade o vigário episcopal, representando a Arquidiocese de Olinda e Recife, Pe. Sandro Corazza, e a madre superiora geral do Colégio Damas, Irmã Eulália Maria.

Em 27.06.2019, às 14h12