Jayme Asfora debate preconceitos dentro da escola
Além de ter como objetivo debater sobre mecanismos que possam solucionar os problemas de caráter preconceituoso no ambiente escolar, a reunião pública serviu para aperfeiçoar o projeto de lei número 93/2013, também do vereador Jayme Asfora,que pode ser votado esta semana. O projeto estabelece que as escolas públicas e privadas da educação básica do município do Recife deverão incluir em seu projeto pedagógico medidas de conscientização, prevenção, diagnose e combate ao bullying escolar. “O preconceito está enraizado na família e na sociedade. Também, nas escolas. Por isso, precisamos criar espaços de tolerância em todas as esferas, seja nas redes sociais ou nas escolas. O fim do preceonceito é um trabalho que precisa ser feito com professores e alunos”, defendeu o vereador.
A consultora educacional Maria de Fátima Morais disse que a questão do preconceito na escola é complexa. “Ela precisa ser vista dentro de um contexto maior. Temos que analisar essa problemática dentro da falta de atenção à educação no Brasil. Educação nunca foi a prioridade”, observou. Como exemplo dessa falta de atenção ela citou que as políticas públicas não priorizam a formação continuada dos professores, para oferecer-lhes uma melhor capacitação. “A escola, seja ela pública ou privada, tem que capacitar o professor nas suas competências. O combate aos preconceitos está dentro dessas competências”, afirmou. Ela foi diretora da antiga Escola Recanto, que durante 43 anos adotou o método pedagógico de Frenet, que objetiva o acolhimento, o exercício da cidadania e o respeito. “O preconceito não existe só entre as pessoas. Há escolas que também são preconceituosas, que não aceitam crianças diferentes. Como seguíamos o método, fizemos a inclusão escolar, aceitando aquelas que tinham dificuldades cognitivas e psicológicas”, disse.
O jornalista Adelço Canário Caliari, também participante da reunião, disse que um dos piores preconceitos nas escolas é a discriminação ao homossexual. “A criança negra, por exemplo, é discriminada. E essa discriminação ocorre na rua ou nas escolas. Já o homossexual começa a ser discriminado dentro de casa”, observou. A escola, em seu entender, seria uma extensão da sociedade. “Se os pais são preconceituosos é porque eles já passaram pelas escolas preconceituosas. Essas deveriam ser formadoras de caráter, da ética, da personalidade dos cidadãos”, lamentou. O escritor e doutor em Educação, Hugo Monteiro Ferreira, afirmou que “as escolas brasileiras são preconceituosas com quem tem traços de identidade que por acaso não sejam padronizados”. Segundo ele, as discriminações são as mais diversas: com quem é alto demais, magro demais, gordo demais. “Todos os traços que são diferentes geram preconceitos. Um dos mais rejeitados é o traço da orientação sexual”, acrescentou.
Autor do livro “Emílio – ou quando se nasce com um vulcão de lado”, que fala dos preconceitos na infância, Hugo Monteiro Ferreira disse que existem o bullying (atividades agressivas entre alunos), e o mobbing (do aluno para com o professor). “Com as formas de preconceito e de agressão a escola, que deveria ser um espaço para se trabalhar a inteligência, termina não cumprindo sua função”. Ele propõe que sejam realizadam discussões sobre os temas, com frequência, entre a escola, a família e o estado, “para criar seres humanos capazes de dialogar e de crescer inteligentemente”.
Para enfrentar os preconceitos mais evidentes nas escolas municipais do Recife, a Secretaria de Educação está trabalhando em projetos para o combate ao preconceito nas escolas, segundo a representante, na reunião pública, do secretário de Educação do Recife, Valmar Corrêa de Andrade. A técnica em educação Enivalda Vieira dos Santos Rezende afirmou que existem “dois grupos de trabalho para superar os preconceitos. Um deles é o GT-ERÊ, que trabalha as relações étnicorraciais nas escolas; e o GTOS, voltado para a orientação sexual”, afirmou. Esses dois grupos trabalham com a formação de professores, realizações de palestras e formação de conselhos escolares. Ainda segundo Enivalda, a Prefeitura do Recife está elaborando uma política de rede que vai contemplar o combate ao preconceito. “O grupo de trabalho que está elaborando essa política, já para o próximo ano letivo, é uma equipe multidisciplinar formada por professores, técnicos em educação e professores da Universidade Federal de Pernambuco , que vai formar um currículo nessa perspectiva”, disse.
Em 16.12.2013, às 12h58.