Marília Arraes faz homenagem póstuma a Abelardo da Hora

Foram cerca de 1.800 obras, espalhadas por mais de 50 países. O legado e a história do artista plástico Abelardo da Hora foram reverenciados em uma homenagem póstuma no plenário da Câmara do Recife, na tarde desta segunda-feira (05). Autora da reunião solene, a vereadora Marília Arraes (PT) entregou uma placa comemorativa a Leonora da Hora, filha do escultor falecido em setembro de 2014, aos 90 anos. “Graças ao seu engajamento e consciência política, ele deixou um legado. Um legado que jamais será esquecido e que servirá sempre de referência para as gerações atuais e futuras”, exaltou a parlamentar.

Escultor, pintor, ceramista e, acima de tudo, um defensor da cultura popular, Abelardo da Hora nasceu em São Lourenço da Mata em 1924 e se mudou para o Recife em 1932. O interesse por arte aconteceu aos 12 anos.  Nomes como Gilvan Samico, José Claúdio e Aloísio Magalhães foram influenciados por ele, que teve também papel fundamental na criação de um projeto de lei que obrigou os prédios no Recife com mais de 1.500 metros quadrados a ter obras de arte na sua decoração. “O projeto foi levado à Câmara Municipal ainda na década de 1960 e foi aprovado por unanimidade. Dessa forma, como ele mesmo disse à época, o Recife se transformou em uma galeria a céu aberto”, frisou Marília Arraes. Ela também destacou que boa parte das obras do artista pode ser encontrada até hoje na casa onde ele morou e trabalhou, na Rua do Sossego, no Instituto Abelardo da Hora, criado para manter e divulgar o acervo dele.

Marília Arraes destacou ainda o envolvimento político – filiado ao Partido Comunista, ele foi preso durante a ditadura militar - e a visão social do artista refletida no expressionismo de suas obras. “Para ele, o artista tinha que ir além de ser um mero criador, ou recriador, de belezas, e usar o seu trabalho como forma de contribuição para a melhoria da sociedade. Por isso, desde muito cedo, ele viu na política uma forma de luta para a mudança, contra a desigualdade social”. A parlamentar também falou sobre a preocupação de Abelardo da Hora com a cultura popular. Em 1948, ele criou a Sociedade Moderna de Arte do Recife e, em 1958, o Movimento de Cultura Popular. “Não podemos esquecer, em hipótese alguma, que, paralelo a essa trajetória política, Abelardo produzia esculturas de dois metros de altura sobre trabalhadores e tipos populares da cultura como o cangaceiro, o tropeiro, o vendedor de pirulito, o maracatu e o carteiro. Para mim, que nasci e cresci na democracia, é uma honra homenagear Abelardo da Hora. Mais ainda: me inspirar e encorajar por sua luta”.

Em nome da família, Leonora da Hora disse que estava honrada, sensibilizada e agradecida com a homenagem prestada pela Casa e frisou que o pai é considerado pela crítica especializada como o maior escultor expressionista do Brasil. “Ele sempre amou a cidade do Recife e dedicou a maioria das suas obras a ela, como a coleção internacionalmente conhecida Meninos do Recife, que ilustrou a edição europeia de Geografia da Fome, de Josué de Castro”.

Leonora da Hora terminou o discurso com palavras do pai. “Minha arte é feita de amor e solidariedade. Às vezes grita contra as injustiças sociais, outras vezes canta a vida e a beleza, a grandeza da cultura brasileira, minha gente com suas manifestações culturais e o amor que é o bem da terra”.

A reunião solene foi presidida pelo vereador Alfredo Santana (PRB) que parabenizou a vereadora pela iniciativa. “Foi um artista plástico que tanto se preocupou e divulgou o Recife pelo mundo. Esta casa está agradecida por esta honrosa homenagem”.

 

Em 05.09.16, às 17h12.