Michele Collins denuncia participação de mulheres em cracolândias

Cerca de 30% das cracolândias do Recife são de mulheres. Um dado assustador e que remete a dois tipos de mães: as que perdem seus filhos para o crack e as que consomem crack. Com estes dados, a vereadora Michele Collins (PP) iniciou o discurso na tarde desta terça-feira, 05, para homenagear as mulheres pela passagem dos mais de cem anos do Dia Internacional da Mulher. Para ela, as mulheres ainda sofrem muitos preconceitos, principalmente se forem pobres, negras e agora dependentes de drogas. A bancada feminina da Câmara do Recife decidiu que vai apresentar discursos sobre temas variados durante todo este mês.

Ela apresentou estudo do psiquiatra Ronald Laranjeira, de São Paulo, demonstrando que 30% dos dependentes de crack morrem antes mesmo de completarem cinco anos de uso. Mais ainda. Entre os homens as doenças psíquicas causadas por drogas chega a 50,1% e entre as mulheres é de 56%.  Não é só isso. Em média 3% das mulheres usam alguma droga ilícita durante a gravidez, podendo causar a síndrome de abstinência dos bebês.

Pior. O uso pode levar ao retardo mental aos 2 anos de idade e comprometimento do aprendizado aparece aos 3 anos. “Para sustento do vício, as mulheres cada vez mais se prostituem. Precisamos caracterizar o problema como de saúde pública. Espero que saia daqui hoje mais um compromisso com essas mulheres. Por isso, apresento a esta Casa um projeto de lei de tratamento específico para mulheres dependentes de drogas. Como integrante do Movimento Feminino Mães contra o Crack não poderia deixar de registrar minha preocupação com números tão alarmantes e fazer este apelo ao prefeito para que olhe com bons olhos o nosso projeto de lei”.

O líder do governo, vereador Gilberto Alves (PTN) disse que a questão do crack vista do ponto de vista das mulheres mexe com todos. Para ele, trata-se de uma epidemia que não mais urbana, se alastrou pelo interior. Ele sugeriu que todos os meios de comunicação, que são concessão pública, como rádios, TVs, mídia de ônibus e outros, sejam obrigados a veicularem gratuitamente campanhas sobre o crack. “Devemos avocar a esta Casa as responsabilidades de sensibilizar a todos sobre este problema”.

André Régis (PSDB) colocou a Comissão de Educação, presidida por ele, à disposição para ajudar, pois segundo ele, a natureza destrutiva das drogas está ligada à falência do sistema educacional. Isabella de Roldão (PDT) lembrou que não foi à toa que a bancada feminina escolheu temas diferentes para debater durante todo este mês de março, dedicado às mulheres. “Muitas mulheres  são presas por causa do companheiro  traficante. Elas são ameaçadas e obrigadas a consumir drogas e acabam entrando para o crime”.

Jayme Asfora (PMDB) lembrou que as famílias dos dependentes não contam com apoio psicológico gratuito e por isso concorda com a proposta do líder do governo sobre as concessões públicas. “A OAB vai criar uma comissão para tratar desse assunto. Lembro que não existe protocolo médico para dependência de drogas, apenas para álcool e isso é da maior importância”. Henrique Leite (PT) ressaltou que a violência contra a mulher dói mais. Segundo ele, na maioria dos casos ela não é viciada nem traficante, mas fica presa por causa do companheiro. "Traficantes matam mães, esposas, estupram filhas. É doloroso assistir a isso tudo e por isso me coloco à disposição”. Marco Aurélio (PTC)  foi enfático e afirmou que falta vontade política e seriedade dos governos para acabar com o problema. “Os policiais sabem onde os traficantes estão, mas como não há coragem para prender os traficantes eles fazem o que querem”. Almir Fernando (PCdoB) disse que a polícia tem feito a parte dela, mas o uso do crack se tornou uma epidemia de difícil controle.

 Raul Jungmann (PPS)  disse que há duas orientações para a questão das drogas. Uma de combate, que depois de milhares de dólares gastos, foi um estupendo fracasso. Segundo ele, é preciso diferenciar a economia da droga, a que gera dinheiro aos traficantes, do usuário. “O Brasil tem 470 mil encarcerados, destes 120 mil foram presos por causa de drogas, sendo que 80% deles são jovens usuários sem antecedentes e que acabam entrando para o crime quando entram nos presídios. Precisamos implantar uma política de redução de danos”.

Luiz Eustáquio (PT) lembrou que como presidente da Frente Parlamentar de Combate ao Crack e outras Drogas procurou emissoras de TV e nenhuma quis ceder horário gratuito para veicular campanhas. “Não acredito na redução de danos como fim, mas como meio para reduzir o consumo. Falta tratamento para um terço dos que procuram e o Estado não garante atendimento. A prevenção é o caminho”.

Em 05.03.13, às 19h29.