Múcio Magalhães faz homenagem a Josué de Castro

Na passagem do aniversário de 38 anos da morte de Josué de Castro e 65 anos do lançamento do seu livro mais importante, “Geografia da Fome”, a Câmara Municipal do Recife homenageou o médico, geógrafo, cientista social, professor, político e escritor que provocou uma mudança do pensamento sobre o flagelo da fome e da forma de enfrentar a endemia no mundo. Por iniciativa do vereador Múcio Magalhães (PT), o grande expediente da reunião ordinária desta quarta-feira, 28, foi dedicado ao recifense que realizou profundos estudos sobre a deficiência alimentar do povo brasileiro, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste. Josué de Castro desafiou a crença vigente de que a fome era um fenômeno natural, impossível de ser revertido, e ainda lhe atribuiu uma causa política, que era a concentração de terra na mão de poucas pessoas.

Participaram da homenagem representantes do Conselho Regional de Nutrição, do Centro Josué de Castro, estudantes de medicina, do grupo de estudos Cátedra Gilberto Freyre da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e lideranças do movimento popular, sobretudo de associações de moradores e clubes de mães. “Esta é uma forma de trazermos o debate da obra desse grande pernambucano para o plenário da Câmara, chamando a atenção para a necessidade de se combater a fome no mundo”, disse Múcio Magalhães. O vereador abriu a reunião lendo um texto sobre a importância do médico e geógrafo. “Ele dedicou a sua vida, todo o seu talento e conhecimento, para chamar a atenção dos governos, e sociedade em geral, para o problema da fome e da miséria, que em sua época se constituía como um dos mais graves problemas do mundo e que, ainda hoje, ocorre em proporções absurdas para o que a humanidade já acumulou de conhecimento”, disse o parlamentar.

Passados 65 anos da edição do livro Geografia da Fome, Múcio Magalhães afirmou que “é com tristeza, indignação e perplexidade que tomamos conhecimento de um relatório da ONU informando que nos próximos meses mais de um milhão de africanos irão morrer de fome”. No Brasil, acrescentou ele, o Governo Federal retirou nos últimos anos 28 milhões de brasileiros da pobreza absoluta e criou as condições para que 36 milhões ascendessem à classe média. “Mas, 16 milhões de pessoas ainda permanecem na pobreza extrema. São pessoas tão desamparadas que não conseguiram se inscrever, até mesmo, em programas sociais bastante conhecidos, como o Bolsa Família. Muito menos ter acesso a serviços essenciais como água, luz, educação, saúde e moradia”, lamentou.

Fizeram parte da mesa da reunião o jornalista Marcelo Mário Melo, autor do perfil parlamentar de Josué de Castro; a representante do Centro Josué de Castro, Nancy Lourenço Soares e o estudante Márcio Bastos, presidente do Diretório Acadêmico Josué de Castro, da Faculdade de Medicina, da Universidade de Pernambuco (UPE).  O estudante falou da importância de Josué de Castro no ensino da medicina. “No início de 2001, o curso de medicina sofreu uma grande reforma curricular. Antes, o ensino se baseava em investigações das doenças. Com a reforma, a faculdade passou a formar médicos que viam o ser humano como um todo, discutindo a desnutrição, a obesidade, a má alimentação. Com certeza, a obra de Josué baseou essa reforma”, afirmou.

Marcelo Mário Melo observou que não é fácil traçar um perfil de Josué de Castro. “Pela dimensão de sua obra, pela sua importância como médico e político, é impossível definir Josué de Castro. Mas, sim, podemos dizer que ele viveu envolvido nas teias do seu tempo, atuando como intelectual e político. Ele sempre procurou dar respostas na prática, propondo novas políticas públicas para o enfrentamento da fome”, assegurou. Enquanto político, Josué de Castro foi deputado federal pelo PDT. Homem de esquerda, foi exilado político por causa do golpe militar de 1964 e morreu no exílio. Nancy Lourenço Soares ressaltou que o pensamento e as ideias de  Josué de Castro permanecem atuais e que o seu trabalho como deputado deveria servir de exemplo para os parlamentares, hoje. “Ele foi um resistente. Durante seu mandato, ele nunca discutiu coisas pequenas e nem fazia troca de favores. A população brasileira precisa de políticos como Josué de Castro e exigir mais dos seus representantes”, disse. Por fim, ela disse que o Centro Josué de Castro é “uma reprodução da resistência de Josué”.

 

Em 28.09.2011, às 18h03