Pescadora recebe Medalha José Mariano

Conceder títulos, medalhas e honrarias a autoridades civís ou militares; políticos; artistas; empresários é muito comum. Mas propor a concessão da Medalha do Mérito José Mariano, a mais alta honraria da Câmara Municipal do Recife, a uma pescadora que nunca frequentou uma sala de aula, criou e educou nove filhos com recursos tirados apenas da venda dos produtos existentes em manguezais como carangueijos, ostras, unha de velho, sururu e mariscos, é um grande acontecimento. Foi justamente com esse argumento que o vereador Gilvan Cavalcanti (PSD) entregou a medalha a Berenice Vitorino da Silva, popularmente conhecida como Dona Beró, 74 anos, em reunião solene realizada na manhã desta quinta-feira, 5.

O plenário da Câmara Municipal do Recife reuniu dezenas de pessoas da Ilha de Deus, onde ela reside. Filhos, vizinhos e amigos foram prestigiar a pescadora. Os atletas mirins da escolinha Saber Viver compareceram em peso; o pessoal do Maracatu Nação do Flau - Filhos de Olorum abriram faixa dizendo: “Beró, você merece”; o grupo de capoeira Gerais vestiu-se a caráter; o público da terceira idade chegou com camisetas amarelas. Quando Berenice Vitorino da Silva entrou no plenário, acompanhada pela comissão de vereadores formada por Alfredo Mariano (PSDC), Gilberto Alves (PTN) e Gilvan Cavalcanti, foi aplaudida de pé. A reunião solene foi presidida por Erivaldo da Silva (PTC) e a mesa composta pela representante da Secretaria de Planejamento e Gestão do Governo do Estado, arquiteta Nora Neves e a religiosa católica, da comunidade de Brasília Teimosa, Aurieta Duarte.

Dona Beró é conhecida na comunidade como poeta, cantora, artesã. Ela é também uma das “marisqueiras” mais antiga e da Ilha de Deus. “De origem pobre, ela foi foi criada nos magueizais de nossa cidade, vivendo numa comunidade à beira-mar, de humildes pescadores e caiçaras. Vivia à beira da miséria, tinha pela frente um futuro de incertezas, rodeada pelo mundo marginal de roubos, drogas e prostituição”, disse o vereador Gilvan Cavalcanti, em seu discurso. Apesar de todas as dificuldades, Berenice desde cedo começou a construir a sua história cidadã, comprometida com o bem-estar de sua comunidade. Passou fome e dificuldades, mas retirou do manguezais o sustento da família. Trabalhou também em favor da comunidade ajudando diversos projetos sociais como padaria comunitária, vassouraria, artesanato, esportes, danças culturais e principalmente a alfabetização de crianças, jovens e adultos. “É importante registrar que na sua longa caminhada, dona Beró conta há mais de 30 anos com o apoio de uma instituição filantrópica alemã representada pelo Frei Beda Uda”, disse o vereador. Como artista popular, Beró “compôs uma música em homenagem ao saudoso governador Miguel Arraes e para seu neto, o atual governador Eduardo campos”, disse.

Após o discurso, o vereador entregou o diploma e a medalha a Berenice Vitorino da Silva. Os tambores do maracatu rufaram no plenário da Câmara Municipal do Recife. Dona Beró foi aplaudida de pé, mais uma vez. Em seguida, ela foi convidada a fazer o discurso de agradecimento, como é de praxe na solenidade. Ela agradeceu a Deus, também ao vereador que lhe concedeu a homenagem. Mas, aproveitou para fazer aquilo que sabe melhor: declamou um poema de improviso. E cantou. Foram várias músicas de sua autoria, samba, côco, falando da Ilha de Deus, da luta do dia a dia, de proteção ao meio ambiente, de defesa do mangue e finalizou com uma ciranda de letra engraçada. Foi mais uma vez aplaudida de pé. Por quase cinco minutos.

Em 05.07.2012, às 12h15.