Pescadora recebe título de Cidadã Recifense
Toda a vida de Edileuza foi como marisqueira. Da maré ela arrancou, com as mãos, o sustento da família e por isso as têm marcadas, cortadas mesmo, durante o ofício diário. Pela primeira vez Dona Leu ergueu essas mãos da luta com uma medalha (a de Cidadã, muito merecidamente), e com um diploma, num espaço que considerou “tão nobre” (a Câmara). A solenidade foi antecedida por músicas como “Recife tem encantos mil”, de Reginaldo Rossi. Mas a abertura oficial do evento se deu com o Hino Nacional, como é de praxe. Foi presidida pelo vereador Eduardo Marques (PSB), que também é presidente da Câmara do Recife. A mesa, composta pelo presidente do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa, Wilson Lapa; a costureira e artesã Maria Elizoneide Rodrigues Bezerra; o advogado Fernando Pinto Ribeiro; a coordenadora da Secretaria da Mulher de Pernambuco, Mariana Reis de Nadal, gestora do Centro da Mulher Júlia Santiago.
No discurso de saudação, Ricardo Cruz disse que Edileuza Silva do Nascimento nasceu em 16 de fevereiro de 1956, na cidade de São José da Coroa Grande, interior de Pernambuco. Veio morar no Recife aos 16 anos, trazida pelos pais: “dona” Lindinalva Silva do Nascimento e “seu” Euclides Silva do Nascimento. “Desde então, vive no Recife. ‘Leu’, ainda era uma criança quando iniciou as atividades de marisqueira e pescaria na sua cidade natal. E, quando chegou aqui, juntamente com a família, continuou com as mesmas atividades às margens do Rio Capibaribe, embaixo da Ponte do Cais de Santa Rita, bem como na bacia do Pina. Constituiu família com um pescador recifense e tiveram cinco filhos . Hoje, são todos casados, e deles a maioria seguiu a atividade dos pais”, disse .
Marisqueira e pescadora, todos os dias ‘Leu’ vai ao mar ou ao rio para de lá tirar o sustento de sua casa ou para conseguir ajudar à família. “Ela é uma mulher forte e determinada, exemplo de garra e luta na sua comunidade, quer também participa de movimentos populares na preservação do meio ambiente, com sua atividade profissional realizada de forma artesanal, uma das atividades culturais de nossa cidade”, ressaltou o vereador. Atuante, Edileuza Nascimento desempenha importante papel junto à Associação de Pescadores e Marisqueiras em Brasília Teimosa; é protagonista em diversas campanhas educativas, especialmente aquelas voltadas a combater a violência contra a mulher, em defesa dos direitos, não só das mulheres marisqueiras e pescadoras, mas também dos homens que desenvolvem essas mesmas atividades. Foi e é chamada para eventos sociais e culturais como referência de mulher lutadora e empoderada.
“Entre pescadores e pescadoras, ‘Leu’ compõe referência na Obra “Gênero e Pesca Artesanal”, de Maria do Rosário de Fatima Andrade Leitão, editado em 2012”, disse Ricardo Cruz, acrescentando também que para a obra “Marisqueiras Guerreiras”, de Eduardo Santos, Gustavo Carvalho, Jetro Rocha, Rafael Santos, Rossiny Tagore e Pércio Romero, a pescadora colaborou com sua história de vida, seu trabalho árduo, expondo seu cotidiano. A nova cidadã do Recife participou, ainda, do filme “Dois Rios”, um curta produzido por um grupo de acadêmicos da Uninassau (Hugo Leonardo Delmiro, Gedson Henrique Maciel de Pontes, Isan Braga Sena e Silva, Salatiel Cicero da Silva e Tiago José da Silva), sob a orientação da professora Vládia Medeiros.
“Edileuza, pela sua luta, atividade social e cultural, tem representatividade na sua comunidade e no Recife. O objetivo de se fazer esta homenagem a esta admirável mulher é o de reconhecer os serviços prestados, bem como a sua importância na vida e no desenvolvimento cultural e urbano de nossa cidade. Por tudo isso, é justo o reconhecimento desta Câmara Municipal do Recife, através da concessão da honraria do Título de Cidadã do Recife a Edileuza Nascimento”, concluiu Ricardo Cruz. O curta “Dois Rios” foi apresentado após o discurso do vereador. A medalha e o diploma, que compõem a comenda, foram entregues juntamente com um ramalhete. A escritora e poetisa Auzeh Freitas declamou um poema.
Edileuza fez discurso. “Nunca na minha vida senti tanta emoção”, afirmou, agradecendo à Câmara, ao vereador que lhe deu o título, ao presidente Eduardo Marques e “a todos os vereadores deste Recife”. Agradeceu, ainda, às marisqueiras que estavam no plenário e a todas as pessoas que saíram de casa para prestigiá-la. Depois, faltaram-lhes as palavras e ela pediu para outra pessoa ler um depoimento que ela ditou dias antes. “Sou uma mulher do povo. Fui pescadora igual aos meus pais. Não sou natural do Recife, mas quando aqui cheguei nunca tinha visto tanta beleza. Amei o Recife desde a primeira vez que vi”.
O texto continuou: “Em Brasília Teimosa, atolei os meus pés no mangue e na areia da praia. Depois, molhei nas águas do mar. Nesse mesmo mar em que eu me lavei, eu também me lancei para pescar seus peixes. E foi assim que me casei, tive cinco filhos, cinco amores. Nesses 50 anos que já se passaram, participei de muita coisa nesse Recife. E participo sempre, com alegria e coragem, junto com minhas amigas marisqueiras, que são mulheres guerreiras e destemidas. Sou uma delas. Foi assim que cheguei até hoje. E hoje, transbordo de emoção”.
Depois do depoimento de Edileuza, o presidente do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa, Wilson Lapa, discursou e disse que o título de cidadã entregue à pescadora e marisqueira foi “a maior homenagem que nossa comunidade já recebeu”. O presidente da Câmara do Recife, Eduardo Marques, leu mensagem de parabéns enviadas pelo governador Paulo Câmara, pelo prefeito Geraldo Julio e por secretários Estaduais. A solenidade foi encerrada com a execução do Hino da Cidade do Recife. E muitos aplausos.
Em 31.05.2018, às 16h55.